04 jun, 2022 - 00:55 • Lusa
O antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva disse esta sexta-feira ter “muito respeito” pelo primeiro-ministro, António Costa, mas considera que “as políticas seguidas pelo atual governo” e pela ‘geringonça’, criarão “sérias dificuldades” às novas gerações.
Cavaco Silva foi questionado, em entrevista à CNN Portugal, conduzida pela jornalista Maria João Avillez, sobre o artigo que escreveu esta semana para o jornal "online" Observador, escrito em forma de carta aberta a António Costa e intitulado "Fazer mais e melhor do que Cavaco Silva".
“Escrevi o artigo no Observador com o objetivo de estimular e apoiar o governo socialista de maioria absoluta para que ele inverta a tendência de empobrecimento relativo em relação aos países da União Europeia em que Portugal tem estado mergulhado, para que ele consiga que Portugal deixe de ser um país de salários mínimos, em que ele preste mais atenção às novas gerações que têm sido umas gerações esquecidas por parte deste governo”, advogou.
Momentos antes, o antigo primeiro-ministro (entre 1985 e 1995), tinha mostrado preocupação com as políticas dos últimos governos liderados pelo PS.
“É uma das grandes preocupações minhas, talvez por ter filhos, por ter cinco netos e verificar que as políticas seguidas pelo atual Governo, e em particular no tempo da ‘geringonça’, criarão sérias dificuldades à criação dos sonhos de bem-estar das novas gerações portuguesas”, afirmou.
Cavaco disse ter sido “estimulado” a escrever o artigo no jornal Observador pela afirmação de António Costa na tomada de posse do Governo, em 30 de março: “Faço parte de uma geração que se bateu contra uma maioria existente que, tantas vezes, se confundiu com um poder absoluto”, disse na altura o primeiro-ministro, numa alusão às duas maiorias absolutas de Cavaco Silva enquanto chefe do executivo.
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O vice-presidente da bancada parlamentar do PSD é (...)
“Fui estimulado por aquela afirmação, penso que um pouco infeliz, num discurso oficial e formal que o primeiro-ministro fez na tomada de posse. Aquilo que ele diz mal de mim ou o PS diz mal de mim em campanha eleitoral, isso é o calor da refrega eleitoral. Mas agora em discursos oficiais, uma tomada de posse, eu tive que lembrar determinadas coisas que parece que estavam muito esquecidas na mente do senhor primeiro-ministro”, disse.
No entanto, o antigo Presidente da República sublinhou que tem “muito respeito” por António Costa, apesar das divergências políticas.
Cavaco Silva confessou que escreveu o artigo “há mais de um mês” e apenas a sua mulher tinha conhecimento do mesmo. Decidiu publicar o texto apenas esta semana por não querer perturbar a discussão do Orçamento do Estado para 2022.
“Não queria que o meu artigo de alguma forma se intrometesse ou perturbasse o debate sobre o Orçamento do Estado, portanto, aguentei o artigo na gaveta e sabia muito bem quando é que o publicaria”, acrescentou.
Num artigo em forma de carta aberta a António Costa, intitulado "Fazer mais e melhor do que Cavaco Silva", o ex-chefe de Estado felicitou o primeiro-ministro pela maioria absoluta do PS nas legislativas de 30 de janeiro, passados quatro meses, pedindo desculpa pelo atraso.
"Foi uma vitória da sua pessoa como líder do PS. Somos agora colegas no que à conquista de maiorias absolutas diz respeito", escreveu Cavaco Silva.
Depois, recordando o período em que governou também com maioria absoluta – entre 1987 e 1995 – Cavaco Silva desafiou o primeiro-ministro a "fazer mais e melhor" nesta legislatura com as condições de que dispõe.
O antigo presidente de PSD reclamou ter governado com "muita persistência" e "espírito de diálogo" para estabelecer "consensos importantes" com a oposição, destacando as revisões constitucionais de 1989 e 1992, e com "intenso, profundo e frutuoso diálogo" com os parceiros sociais, referindo que "foram assinados quatro acordos de concertação social".
Admitindo que nalguma medida "a falta de apoio do PS a algumas das reformas" possa ser atribuída "à inabilidade ou à insuficiência de diálogo", Cavaco Silva acrescentou: "Sendo conhecida a sua vontade de fazer reformas e habilidade no diálogo com o maior partido da oposição no sentido de as concretizar, estou certo que, com o seu governo de maioria absoluta, tudo correrá na perfeição."
"Nenhum partido, nenhuma organização sindical, empresarial, social, cultural ou ambiental se queixará de falta de diálogo e de abertura do governo para aceitar as suas propostas; as reformas que o país urgentemente necessita serão feitas em clima de toda a tranquilidade política e a decadência relativa do país em termos de desenvolvimento será revertida", prosseguiu, sempre falando diretamente para o primeiro-ministro.