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Mecanismo Europeu de Estabilidade

João Leão em “posição privilegiada” para liderar MEE. Governo garante “esforços” e Marcelo fala de “puzzle” bem jogado

09 jun, 2022 - 19:46 • Tomás Anjinho Chagas em Bruxelas

Marcelo destaca a “diplomacia discreta” e fala de um “puzzle” que tem sido bem jogado pela diplomacia portuguesa - “tem, tem” - o Governo garante que está a fazer “esforços” a favor de João Leão. Eurodeputados divididos mas o PSD está confiante que o ex-ministro das Finanças tem “todas as condições” para ser o escolhido.

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A eleição do próximo diretor-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) está prevista para a próxima semana, dia 16, e cabe aos ministros das Finanças dos países da Zona Euro votar. O antigo ministro das Finanças João Leão é um dos candidatos a suceder ao alemão Klaus Regling, primeiro e único líder do MEE, até agora.

Este organismo existe para assegurar a estabilidade da Zona Euro, para isso impede os países de se endividarem de forma excessiva.

O Governo português aposta as fichas em João Leão para encabeçar o Mecanismo. O português foi ministro das Finanças e esteve envolvido numa polémica nomeação para a vice-reitoria do ISCTE no início do ano.

Na lista final estão dois nomes além de João Leão: o italiano Marco Buti (ex-diretor geral dos Assuntos Económicos e Financeiros na Comissão Europeia) e o luxemburguês Pierre Gramegna (antigo ministro das Finanças, até este ano).

Governo a “fazer esforços" para eleição de Leão

O diretor-geral para o Mecanismo Europeu de Estabilidade é escolhido pelos ministros das Finanças dos países da Zona Wuro e há que convencer os homólogos de Fernando Medina a votar em João Leão.

À Renascença, fonte do gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Tiago Antunes - que depende diretamente do primeiro-ministro - garante que “estão a ser envidados esforços diplomáticos”, com o objetivo de assegurar que a candidatura de João Leão “tenha o sucesso desejado".

O ex-ministro das Finanças e secretário de Estado conta com seis Orçamentos do Estado aprovados à esquerda e tem ostentado a política de “contas certas”, argumentos que Portugal pode utilizar para convencer os ministros dos países que têm o euro como moeda. Os membros do Governo e a diplomacia podem ter um papel fundamental a defender Leão.

Marcelo sublinha “diplomacia discreta”, mas reconhece concorrência

Portugal tem jogado bem o puzzle”, revela o Presidente da República, quando questionado pela Renascença sobre as chances de João Leão para ser o escolhido.

Em Braga, nas celebrações do 10 de Junho, Marcelo Rebelo de Sousa aponta para as dificuldades existentes sempre que se quer eleger alguém para um cargo europeu, fruto da concorrência dos outros países, “os outros também jogam bem o puzzle”, lembra.

O chefe de Estado reforça a importância da “negociação e diplomacia discreta muito intensa” para a candidatura de João Leão, acrescentando que “tem sido feito o que é possível”. Marcelo Rebelo de Sousa garante que está a par das novidade porque o primeiro-ministro o vai “informando sobre todas as negociações”.

As negociações são nitidamente – ou discretamente – complicadas. O Presidente da República faz questão de ressalvar que “há lugares que são disputados por muitos países, nem é por pessoas, é por países” e que “muitas vezes é um puzzle”.

Isto quer dizer o quê? Marcelo explica que “para outros Estados desistirem de um lugar têm que ter outros lugares e tem que se jogar o puzzle e nem sempre os lugares vagam ao mesmo tempo”. É esse xadrez ou puzzle diplomático que Portugal está a jogar nos bastidores.

Até o PSD acredita em Leão no MEE

Ter um português é sempre positivo e útil para Portugal”, admite à Renascença o eurodeputado do PSD, José Manuel Fernandes, em Bruxelas.

Apesar de ser um quadro de um Governo socialista, o eurodeputado social-democrata acredita que João Leão “conseguirá ser competente” no Mecanismo Europeu de Estabilidade, no entanto ressalva que isso “não exige nenhumas competências excecionais”.

O parlamentar social-democrata sublinha que o país precisa de “mais portugueses em cargos relevantes e de chefia” em instituições europeias. É provável que seja o escolhido? “É natural, caso contrário não se teria candidatado”, atira José Manuel Fernandes.

O eurodeputado do PSD acredita que João Leão “tem todas as condições” e “probabilidades” de ser eleito. Mas deposita a maior responsabilidade em António Costa. “Veremos também a força que o primeiro-ministro tem, e se tem a força que ele diz ter”, diz José Manuel Fernandes à Renascença.

PS confiante. Leão está “numa posição privilegiada”

“É absolutamente extraordinário que Portugal tenha alguém na shorlist” para assumir a liderança do Mecanismo Europeu de Estabilidade, diz à Renascença o eurodeputado Manuel Pizarro (PS) em Bruxelas.

O socialista afirma que João Leão “tem currículo e reconhecimento entre os pares” e acrescenta que “exerceria essa função de maneira brilhante”.

João Leão está numa posição privilegiada”, diz também a eurodeputada Margarida Marques. A socialista fala numa “boa aposta”, numa pessoa “bem preparada, com perfil e com apoio” para suceder a Klaus Regling como próximo líder deste mecanismo.

BE cola Leão à Troika e fala em “más notícias”

Os bloquistas olham com “grande preocupação” para a indicação de João Leão para liderar o Mecanismo Europeu de Estabilidade.

À Renascença, o eurodeputado José Gusmão considera que o próprio organismo se tem caracterizado por políticas de ajustamento “que inspiraram o memorando da Troika, de austeridade e profundamente recessivas”, e atira a farpa ao homem indicado pelo PS: “João Leão é grande adepto dessas políticas”.

O Bloco de Esquerda critica a própria natureza do Mecanismo Europeu de Estabilidade que tem insistido em implementar medidas de austeridade que “já demonstraram ser um desastre completo”. Por isso, os bloquistas acreditam que “ter um português ou não ter, como a presença de Durão Barroso na Comissão Europeia bem demonstrou, é pouco relevante”.

José Gusmão vai mais longe, fala numa “má notícia” e atira-se ao currículo político de João Leão: “sabemos o que defende e sabemos o que praticou”. O eurodeputado do BE fala numa continuidade que será mantida caso o ex-ministro das finanças seja eleito, acrescentando que se o objetivo fosse mudar o “rumo”, João Leão não seria o escolhido.

Ainda assim, o eurodeputado do Bloco revela que “até agora” ainda não foram feitos diálogos “formais” sobre o assunto.

PCP fala em alinhamento “com os interesses dos países mais fortes”

À semelhança do que acontece com o Bloco de Esquerda, o PCP também associa o Mecanismo Europeu de Estabilidade às políticas de austeridade.

Em declarações à Renascença, João Pimenta Lopes acredita que importa “recordar que Mecanismo é este, que é quase um FMI da zona euro”.

O eurodeputado comunista afirma que uma nomeação de João Leão “confirma um alinhamento” com as políticas impostas pelas economias mais fortes que têm “prejudicado o nosso país”.

Esta nomeação “vincula João Leão ao colete de forças” que defende as economias mais fortes da União Europeia. Mas defende que “mais do que a pessoa” é a natureza do Mecanismo Europeu de Estabilidade que merece o carimbo negativo do PCP.

Apesar de “não podermos fazer futurologia”, João Pimenta Lopes acredita que “os elementos que têm vindo a lume” colocam João Leão como uma “hipótese” para suceder ao alemão Klaus Regling.

CDS apoia Leão. Polémica do ISCTE pode ser problema

João Leão “é manifestamente habilitado para o cargo”, explica à Renascença Nuno Melo, eurodeputado e presidente do CDS-PP.

O centrista revela que já desejou “sorte e venturas” ao ex-ministro das Finanças para que consiga ser o escolhido como diretor-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

Não obstante, Nuno Melo teme que a polémica com a nomeação para a vice-reitoria do ISCTE possa “fragilizar” a candidatura portuguesa. O caso não passou ao lado de Bruxelas e Nuno Melo assegura que “as instituições europeias estão atentas”.

Ainda que o CDS e o PS pertençam a quadrantes e famílias políticas distintas, o eurodeputado Nuno Melo acredita que é positivo ter um português em cargos de decisão na Europa.

Sobre as expectativas que existem, Nuno Melo centra-se nas informações divulgadas por Fernando Medina e acredita que João Leão tem “boas hipóteses” para ser o escolhido. Nestes casos, diz o presidente do CDS e eurodeputado, o “trabalho de bastidores” levado a cabo pelo governo é muito importante para defender o ex-ministro.

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