22 jun, 2022 - 20:29 • Pedro Mesquita
O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel considera que o primeiro-ministro não apoia a candidatura da Ucrânia à União Europeia (UE) e é o “campeão dos relutantes”. O embaixador Seixas da Costa diz que António Costa é o "campeão da verdade".
O primeiro-ministro alertou esta quarta-feira para orisco de a integração da Ucrânia, se não forem tomadas decisões consequentes, poder significar "não um reforço da União Europeia, mas a sua implosão" e até "uma armadilha" para este país.
Em declarações à Renascença, Paulo Rangel considera que a posição de António Costa é contrária ao “interesse nacional e europeu”, e atribui ao Governo português o título de campeão da relutância.
“Eu acho que António Costa está bastante isolado (na UE). Com certeza que há outros países que têm reservas e que é preciso fazer uma reforma dos tratados, mas Portugal neste momento é o campeão dos relutantes, dos resistentes, daqueles que estão claramente contra este passo que vai dar a Ucrânia com o reconhecimento de país candidato”, acusa o eurodeputado do PSD.
Opinião diferente tem Francisco Seixas da Costa. Em declarações à Renascença, o embaixador considera que “o primeiro-ministro disse uma verdade na Assembleia da República, que é difícil de ouvir, sobretudo, para quem está a cavalgar uma onda puramente emocional”.
“Uma eventual pertença da Ucrânia à União Europeia acarretaria uma conjunto de consequências, nomeadamente de a Ucrânia passar a ter um dos maiores grupos de deputados no Parlamento Europeu e o facto de passar a ter um plano decisório só ultrapassado pela Itália, França e Alemanha”, argumenta.
O também ex-secretário de Estados dos Assuntos Europeus considera que abrir as portas da UE à Ucrânia é entendível no atual cenário de guerra, nomeadamente para dar um sinal à Rússia e trazer Kiev para “a partilha dos valores ocidentais".
Mas Seixas da Costa também concorda com os alertas do primeiro-ministro. “Uma adesão da Ucrânia, se se mantiverem as políticas atuais, resulta na implosão dessas mesmas políticas, por exemplo, em relação à Política Agrícola Comum”, sublinha.
O antigo embaixador considera que os alertas de António Costa não representam ser contra a adesão da Ucrânia à UE e apelida o primeiro-ministro de “campeão da verdade”, porque teve a coragem de dizer o que outros líderes pensam.
“A Ucrânia vai passar um período de muitos anos até cumprir os critérios definidos pela União Europeia, mas fechar agora esta porta seria politicamente irresponsável. A União Europeia vai ter que encontrar maneira de criar um novo modelo para sustentar uma União em que as políticas atuais possam ser compatíveis com a presença de um país como a Ucrânia. Mas isso é um problema a prazo”, conclui Seixas da Costa.