14 jul, 2022 - 22:56 • Tomás Anjinho Chagas
O presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, está otimista quanto ao novo PSD e elogia a direção de Montenegro. Em entrevista à Renascença, o líder do executivo açoriano é claro quanto à autonomia do PSD regional em relação às estruturas nacionais.
No final do ano, a Assembleia Legislativa Regional irá discutir e votar o Orçamento açoriano para 2023 e José Manuel Bolieiro lembra que o acordo de incidência parlamentar com o partido de André Ventura foi necessário "para garantir estabilidade e responsabilidade parlamentar para uma legislatura inteira"
Como é que avalia esta nova direção de Luís Montenegro? Parece-lhe que consegue juntar todas as fações do partido? Será que é desta que o PSD se vai unificar?
A estratégia é a confirmação da minha própria convicção, desde sempre enquanto social-democrata: o PSD é um partido de causas, de missão democrática, de serviço ao país. Precisa, pois, de assegurar no quadro dos seus princípios e dos seus valores, da componente ideológica e doutrinária, a apresentação de uma alternativa de governo ao país. E isto está muito bem patente na estratégia do PSD de Luís Montenegro.
Num período em que a nossa expectativa e a dos portugueses em geral, no quadro das regras democráticas, de que com uma maioria absoluta e expectativa de uma legislatura completa, termos o tempo necessário para conjugar na liderança da oposição um partido corretivo dos desmandos da governação, de uma desorientação altamente penalizadora do interesse nacional e, por isso, firmeza na oposição crítica e numa oposição assertiva.
A mudança das lideranças, sem com isso desconsiderar o histórico, porque fizemos o que estava ao nosso alcance, é sobretudo uma oportunidade também de renovar de esperança. E esta renovação de esperança fica aqui alcançada igualmente por outro elemento decisivo que se revelou no congresso: a unidade.
Não há unanimismo porque há pluralidade de opinião criativa, geradora de riqueza no debate interno do partido, mas unidade funcional, unidade estratégica para afirmar o partido como uma verdadeira alternativa reformista da democracia portuguesa.
Os nomes escolhidos para os cargos de direção. Parece-lhe que é a forma de sanar as feridas e recomeçar?
Sim! Também é a atitude muito ética e clara do anterior líder, o Dr. Rui Rio, que não se apresenta como alguém que sai amargurado, mas sim de consciência tranquila quanto ao seu trabalho e à perspectiva de, para o seu lugar do pensamento estratégico, colaborar com o novo líder e com o partido.
A conjugação de tantas outras figuras que foram, aliás, candidatos à liderança do partido no passado recente, como a de Jorge Moreira da Silva, aqui também bem demonstrativa de que a esta unidade estratégica.
Ninguém prescinde do seu pensamento, da sua uma forma de ver a intervenção do Partido Social Democrata, mas de forma convergente e não divergente. Plural na opinião e no pensamento, mas convergente na unidade estratégica do PSD.
É presidente do Governo Regional dos Açores. Com a direção de Luís Montenegro muda alguma coisa na forma como se tem de articular com os outros partidos?
Não, não, não muda porque, na verdade, quer com o Dr.Rui Rio e sob a minha presidência do PSD Açores e depois líder da governação plural, através de uma coligação nos Açores, ficou sempre bem patente: nós somos autónomos sob o ponto de vista da região em relação à República, como também no quadro partidário, a estrutura da Comissão Política Regional é autónoma em relação à Comissão Política Nacional.
Essa matéria é do domínio da decisão do PSD/Açores, do domínio da opção política e governativa que assumimos nos Açores, que a nossa autonomia e respeito por parte da Comissão Política Nacional e de qualquer um dos seus líderes.
No entanto, há também uma permanente ligação de coerência com os princípios e valores do PSD enquanto partido de marca portuguesa, democrática, humanista, personalista, defensor da economia de mercado, de garantia da continuidade territorial.
Tenho a melhor relação de proximidade com o Dr. Luís Montenegro e tenho por certo o seu compromisso com a autonomia, aliás, já no quadro da sua candidatura nas eleições directas do partido. Portanto, faremos sempre uma estratégia conjunta.
O contexto histórico é um argumento importante, olhando para a governação dos Açores e a articulação que tem de fazer com outros partidos, seria útil para este novo PSD cultivar mais entendimentos com parceiros históricos como o CDS, do que continuar a apostar, por exemplo, no Chega?
Eu, de facto, tenho este património que fiz adquirir neste assunção de poder nos Açores. Primeiro só assumi a responsabilidade de governar porque interpretei que havia no resultado eleitoral de 2020, uma vontade de mudança.
O fim da maioria absoluta do Partido Socialista, assegurou no meu entendimento ético-democrático, uma alternativa de maioria ao PS.
Apenas com a coligação PSD, CDS e PPM, que era essencial para assumir este projeto. Tínhamos maior número de votos e maior número de mandatos de que o Partido Socialista, que efetivamente ganhou as eleições, eu não gosto de esconder o sol com a peneira.
No entanto, também se interpretou que uma perda de uma maioria absoluta, de um presidente do Governo que era recandidato, que estava no poder, que por aí tem sempre a alavanca da continuidade e da renovação de mandatos, perdeu a maioria absoluta.
Interpretámos como um sinal de uma afirmação, de uma alternativa, por isso a segurei numa conjugação que, aliás, tem história na democracia portuguesa de identidade ideológica e doutrinária, o PSD e o CDS e o PS fizeram no ainda com a liderança do doutor Sá Carneiro.
No entanto, e ainda assim, para garantir estabilidade e responsabilidade parlamentar para uma legislatura inteira, precisámos fazer acordos de incidência parlamentar com partidos que, obviamente, eram também expressão da vontade de mudança.
E é isso que nós afirmámos: uma governação não socialista, de forma muito concreta, que configurou através dos acordos de incidência parlamentar.
Eu sou um democrata de profunda convicção, e a democracia recomenda convicção e humildade, convicção nos nossos princípios e humildade pelo diálogo, pela concertação, não só no quadro parlamentar dos partidos com representação parlamentar, mas também com a própria sociedade.
E é isso que eu tenho feito, sempre com o constante apelo à paciência democrática, mas a paciência democrática vale a pena, porque sei que estamos mais próximos do povo.