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Marcelo diz que Montenegro pode unir PSD e crê que sistema político "se está a compor"

15 jul, 2022 - 14:39 • Lusa

Afastamento de PSD e CDS-PP após Passos Coelho levou a uma "multiplicação de partidos a partir do PSD" – Chega, Iniciativa Liberal e Aliança – "e de repente são cinco no lugar de dois", aponta o Presidente.

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considera que Luís Montenegro está a fazer "um esforço como não se via há muito tempo" para unir o PSD e que o sistema político "se está a compor".

Em entrevista ao presidente do conselho de administração do grupo Impresa, Francisco Pinto Balsemão, para o episódio desta sexta-feira do 'podcast' "Deixar o mundo melhor", o chefe de Estado recorda que foi alertando nos últimos anos que "o sistema político estava desequilibrado" e afirma: "Eu acho que se está a compor".

"Por um lado, era muito importante que houvesse uma área de poder forte, e essa área de poder, a partir de determinada altura, passou a ser fraca, minada por divergências, muitas delas insuperáveis entre o partido do Governo e os apoiantes", aponta, referindo-se à chamada "Geringonça" composta por PS e pelos partidos à sua esquerda.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "os portugueses resolveram" esse problema dando maioria absoluta aos socialistas nas legislativas de 30 de janeiro deste ano.

"Mas depois havia um problema à direita", prossegue, sustentando que o afastamento de PSD e CDS-PP após a governação chefiada por Pedro Passos Coelho levou a uma "multiplicação de partidos a partir do PSD" – Chega, Iniciativa Liberal e Aliança – "e de repente são cinco no lugar de dois".

O Presidente da República acrescenta que, neste contexto, "o centro-direita para subir ao poder teria de se federar, de encontrar soluções com uma liderança muito forte, que só poderia ser do partido mais forte desde sempre, que é o PSD", o que qualifica como "tarefa difícil".

Interrogado por Balsemão se vê Luís Montenegro como uma boa solução para o PSD, Marcelo Rebelo de Sousa responde: "Eu não gosto de comentar soluções partidárias, acho que não cabe ao Presidente comentar partidos. Agora, o que eu achei, ao receber a nova direção, testemunhei que foi feito um esforço como não se via há muito tempo no PSD – não é total, não é a 100%, mas é um esforço muito grande – de federar pessoas que andavam desavindas ou separadas há muito tempo".

"O PSD tinha uma característica, que bem conhecemos: é que podiam andar à bofetada, e até era o aspeto de haver sempre alternativas a si próprio, mas na hora da verdade unia-se. Isso deixou de existir a partir de determinado momento. Parece ser um começo de caminho este [de Luís Montenegro], e é o único caminho para poder liderar uma reconstrução laboriosa, difícil, complicada, mas que é boa para o sistema."

Luís Montenegro obteve 72,5% dos votos nas diretas de 28 de maio, em que defrontou Jorge Moreira da Silva, e assumiu funções como presidente no 40.º Congresso do PSD, que se realizou entre 01 e 03 de julho, no Porto, substituindo Rui Rio, que liderou o partido desde janeiro de 2018.

Em 05 de julho, o Presidente da República recebeu Luís Montenegro em audiência no Palácio de Belém, acompanhado por uma delegação composta por Paulo Rangel, Margarida Balseiro Lopes e Hugo Soares.

Nesta entrevista a Balsemão, o chefe de Estado assume como "deveres" do seu segundo mandato assegurar que "a maioria absoluta faz tudo o que está ao seu alcance para tirar proveito de recursos raros que existem daqui até 2025/2026" vindos da União Europeia e, por outro lado, que "quem lidera a oposição no centro-direita faz tudo para ter uma fórmula forte em condições de ser alternativa para suceder a uma realidade que um destes dias está com oito anos ou dez anos".

"Precisamos à direita ou no centro direita de quem recupere uma capacidade federadora e se apresente em condições de poder ser Governo em Portugal."

Sobre a anterior liderança do PSD, de Rui Rio, Marcelo Rebelo de Sousa declara: "Temos de admitir que ela acabou por enfrentar uma situação que herdou em parte, que foi a implosão do PSD, implodiu, naquela altura. E depois teve de gerir isso permanentemente, com clivagens muito fortes, na oposição".

Questionado se entende que o Chega surgiu a partir do PSD, o Presidente da República responde que sim, "é um partido a partir do PSD também", com "uma base muito forte evangélica", mas que herdou do PSD "uma área que alguns chamavam social-populista, ou social-contestatária".

De acordo com o chefe de Estado, quem formou a Iniciativa Liberal "também deixou de se reconhecer no PSD, por achar que o PSD não estava tão liberal quanto tinha estado na governação anterior", e apontou que "além disso, ainda saiu [do PSD] a Aliança", que foi fundada e liderada por Pedro Santana Lopes.

No último dia do Congresso do PSD, 03 de julho, o Presidente da República considerou que Luís Montenegro estava a iniciar uma "maior aproximação ao Presidente da República" e a abrir caminho para "uma colaboração especial", que saudou.

"Daquilo que eu vi, registo um dado novo relativamente ao Presidente da República Portuguesa, que é: onde no passado recente havia cooperação institucional, há uma colaboração especial. E, portanto, há uma mudança no PSD no sentido de maior aproximação ao Presidente da República Portuguesa. Registo e fico satisfeito com isso", declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, em São Paulo.

Pouco antes, no seu discurso de encerramento, Montenegro tinha enviado ao Presidente da República "uma mensagem de disponibilidade total da nova direção do PSD para prosseguir com sentido de lealdade e colaboração institucional a relação de proximidade e cooperação que a democracia e os portugueses exigem e merecem".

Da nova Comissão Política Nacional do PSD faz parte, como vogal, Inês Domingos, que é consultora do Presidente da República para os assuntos económicos.

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