02 set, 2022 - 00:09 • Tomás Anjinho Chagas
Num terreno pouco habitual, Francisco Assis foi o convidado desta quinta-feira da Universidade de Verão do PSD. O presidente do Conselho Económico e Social (CES) e antigo líder parlamentar do PS foi, no entanto, recebido entre aplausos.
Depois do jantar, os alunos da 18ª edição da Universidade de Verão (UV) ouviram um discurso 40 minutos, seguido de várias perguntas dos alunos. Antes de Assis, Carlos Coelho, diretor da UV, revelou que esta foi a quarta vez que o socialista foi convidado, embora seja a primeira vez que aceitou o convite.
Francisco Assis aproveitou os primeiros minutos para justificar as recusas anteriores. O socialista, que nos últimos anos se destacou por ser contra a solução da 'Geringonça', explicou que só não aceitou antes o convite do PSD para não ser mal interpretado, numa altura em que ficou “isolado” no Partido Socialista.
Universidade de Verão do PSD
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Agora, com maioria absoluta do PS, o presidente do CES destacou o facto de ser o convidado que se segue a Luís Marques Mendes (que discursou esta quarta-feira) e de enfatizar a capacidade que o comentador tem de “prever o futuro”.
No meio de alguns sorrisos, Assis garantiu não ter “a mesma intimidade com o Governo” do social democrata Luís Marques Mendes. Uma constatação que levantou risos na sala do hotel em Castelo de Vide. Apesar de ser do PS, e de já ter sido candidato à liderança socialista (em 2011, contra António José Seguro), Francisco Assis asssegura que Marques Mendes tem relações mais privilegiadas com o executivo de António Costa.
Governar ao centro em vez de fazer coligações com os partidos mais à esquerda ou mais à direita. O tema dominou a campanha das eleições legislativas deste ano, mas esvaziou-se quando o PS conquistou a maioria absoluta.
No entanto, Francisco Assis apelou várias vezes a “entendimentos” entre o PS e o PSD. Adepto da ala mais à direita do PS e crítico das coligações com o Bloco de Esquerda e PCP, Assis mencionou diversas vezes que os dois partidos do centrão “devem conseuir entender-se em questões fundamentais”.
O presidente do CES acredita que é possível governar com entendimentos entre os dois maiores partidos. Para sustentar a teoria, recordou os tempos em que foi líder parlamentar do PS (entre 1997 e 2002), altura em que António Guterres era primeiro-ministro e conseguiu aprovar quatro orçamentos sem maioria, com a ajuda das abstenções do PSD ou do CDS.
"Se houver algum entendimento mínimo, é possível uma governação sem ter maioria absoluta, e sem ter necessidade de recorrer ao apoio de partidos que têm divergências muito grandes em relação a partidos mais ao centro", sentencia o presidente do CES.
Assumidamente um membro da ala mais à direita do PS, Francisco Assis não poupa nas críticas ao PCP pela nota de pesar que emitiu esta quarta-feira sobre Mikhail Gorbachev, texto onde nunca mencionou uma palavra de pesar pela morte do antigo líder da União Soviética.
Assis considera "estranho" que "ninguém se tenha indignado ainda" com a declaração do Partido Comunista. Diz o antigo líder parlamentar socialista que "ao lamentarem o trabalho do sr. Gorbachev", o PCP está a dizer que continua a identificar-se com um sistema "totalitário, que matou milhões de pessoas", acrescentando que a antiga União Soviética se tratou de "um dos sistemas mais bárbaros que a História da humanidade conheceu".