08 set, 2022 - 19:47 • Tomás Anjinho Chagas
“Continuo a servir o meu país e o meu Governo”, garante Marta Temido. A ministra da Saúde esteve presente no Conselho de Ministros desta quinta-feira, naquele que poderá ter sido o seu último encontro com os parceiros de Governo e que terá sido, provavelmente, o seu último briefing à comunicação social.
A ainda ministra foi encarregue de apresentar a aprovação do Novo Estatuto do SNS, que cria o cargo de novo diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (cujo escolhido não foi divulgado). Várias têm sido as vozes que se juntam às críticas a esta escolha, incluindo partidos políticos e ex-ministros da Saúde.
Mas numa das raras aparições públicas que fez desde que anunciou a sua demissão, os jornalistas não deixaram de perguntar pelas razões de o ter feito, pelo seu passado, pelo seu futuro e pelo seu sucessor. A ministra tentou desviar-se das questões, a ministra da Presidência foi a muralha.
Marta Temido apresentou na madrugada de terça-feir(...)
“Dei na altura a nota que considerava adequada. Tenho continuado a trabalhar, a servir o meu Governo e o meu país como fiz até agora, grata pela oportunidade que tive. Há ocasiamos em que avaliamos o nosso contexto pessoal e as condições para prosseguir um caminho. Foi isso que fiz”.
Foi assim que Marta Temido respondeu à primeira questão sobre os motivos que a levaram a abandonar a pasta da Saúde. Mas quando a comunicação social insistiu em perceber o porquê de se manter no cargo durante mais 15 dias no cargo, mesmo depois de já ter anunciado a demissão, a bola passou para a ministra da Presidência, número dois de António Costa.
Mariana Vieira da Silva começou: “Eu vou responder, com o acordo da ministra da Saúde à questão que colocou”. Sobre o momento em que vai entrar o novo ministro: “Quanto ao restante calendário cabe ao primeiro-Ministro em articulação com o Presidente da República”, respondeu a ministra Vieira da Silva, tentando esvaziar o assunto.
Sem sucesso. Os minutos seguintes foram preenchidos por perguntas nas quais os diferentes órgãos de comunicação social tentaram ver respondidas algumas incógnitas que se mantêm desde o anúncio da saída de Marta Temido.
Numa altura em que a oposição critica a opção de António Costa de aprovar o Novo Estatuto do SNS antes da chegada do novo ministro da Saúde, os jornalistas perguntaram se o sucessor está confortável com esta transição. Mariana Vieira da Silva amorteceu a pergunta: “Passaria à Srª Ministra da Saúde, para responder pelo menos a parte das perguntas colocadas”.
Marta Temido prosseguiu explicando que a aprovação foi feita “com reserva de redação final”, ou seja, que o próximo ministro ainda vai poder intervir e que “portanto esse é outro momento”.
Foi depois altura para ainda ministra desejar “sorte” ao sucessor. “Naturalmente que ao novo ministro da saúde desejo a maior sorte. Trabalhar num Governo é também trabalhar em equipa portanto formamos equipa com quem esteve antes de nós e com quem esteve depois de nós”, disse Marta Temido, numa frase que pode indiciar que a passagem da pasta pode já estar em marcha.
Essa leitura foi imediatamente rejeitada pela número dois do Governo. “Em primeiro lugar a Srª Ministra da Saúde não deu a entender aquilo que refere na sua pergunta. A escolha do Governo é da exclusiva responsabilidade do Primeiro Ministro”, assegura Mariana Vieira da Silva.
Quando a imprensa voltou a insistir, Mariana Vieira da Silva interveio: “Eu já passarei a palavra à ministra da Saúde, mas é claro que desde a primeira hora que a ministra da Saúde colocou o seu lugar à disposição. O Primeiro-Ministro entendeu que este era um passo que era importante que ficasse fechado”, justificou a Ministra da Presidência o facto de o Estatuto do SNS ser aprovado antes da saída de Marta Temido.
“Queria também libertá-la (a Marta Temido) de estar a explicar uma decisão que é uma decisão coletiva”, sentenciou Mariana Vieira da Silva a proteger a decisão do Governo. Visivelmente apagada, a ministra demissionária abanou a cabeça para dizer que não tinha nada a acrescentar.
Nas seguintes questões, apesar de as perguntas terem sido dirigidas à Ministra da Saúde, foi sempre a Ministra da Presidência a responder. De saída e fragilizada, Marta Temido esteve em segundo plano e foi Mariana Vieira da Silva a dar a cara pelas escolhas de António Costa.
Nos últimos anos, Mariana Vieira da Silva tem sido uma das pessoas da maior confiança do primeiro-ministro. Na formação do último executivo, António Costa subiu-a na hierarquia da orgânica do Governo, de número quatro para número dois.