22 set, 2022 - 16:15 • Susana Madureira Martins
É notório o desconforto do PS em relação às recentes declarações do ministro da Economia a defender a descida "transversal" do IRC, sobretudo depois de outro ministro, Fernando Medina ter remetido uma decisão para o acordo de rendimentos e para as negociações dos parceiros.
À Renascença um dirigente nacional do PS fala em "bagunça" e nota que "já é a segunda vez" que Costa Silva "vem dizer mais do que a conta", referindo-se à hipótese levantada pelo ministro da economia de criar uma taxa sobre os lucros inesperados das empresas que tem criado polémica.
O mesmo dirigente socialista ressalva, porém, que baixar a taxa de IRC "é algo que já se debate há algum tempo" no partido e no Governo, mas que "nunca ninguém foi muito taxativo" sobre os moldes em que é possível fazê-lo.
A mesma ideia de que o tema não caiu do céu é defendida por um ex-governante do PS que diz à Renascença que "houve alguém que falou cedo demais" e que o ministro da Economia "antecipou informação e que alguma fundamento há-de ter".
A hipótese levantada é que "o ministro descaiu-se e a declaração não foi concertada com o ministro das Finanças". O mesmo socialista refere que "alguma coisa vai haver, seguramente" e que "baixa de impostos todos desejamos", se é geral ou selectiva é a dúvida para este ex-governante socialista.
Reunião dos deputados ignora a polémica sobre IRC. "Está tudo tão bem"
A polémica foi ignorada na reunião do grupo parlamentar do PS desta quinta-feira, que como habitual decorreu à porta fechada. Um deputado socialista diz à Renascença que "muita gente esperava que o IRC fosse discutido", mas que "não houve discussão de política aberta".
O mesmo deputado refere com ironia que "discutiu-se muito as florestas" numa referência ao projecto de lei que o PS apresentou sobre o banco de terras público sem proprietário conhecido e que é votado esta semana no Parlamento.
Outro deputado socialista contactado pela Renascença refere como "natural" a questão do IRC não ter sido discutida pela bancada parlamentar liderada por Eurico Brilhante Dias, despachando que "ninguém fala de nada", rematando com um sarcástico "está tudo a ir tão bem".
Ministro das Finanças reagiu às declarações do seu(...)
O mesmo deputado fala de "descoordenação total" no Governo liderado por António Costa. "É o que parece", resume, acrescentando que a desautorização de Costa Silva foi visível: "o ministro da Economia filosofou, o ministro das Finanças veio dizer como era".
Costa Silva com ou sem futuro no Governo?
Questionado sobre qual poderá ser o futuro do ministro da Economia daqui para a frente, um dirigente socialista refere que o primeiro-ministro "gosta de ministros assim, com voz própria" dando o exemplo da ministra da Coesão Territorial que chegou a defender que faz parte "dos governos mais centralistas que o nosso país já teve".
O mesmo dirigente do PS nota que "Costa e Medina já vieram por uma rolha no assunto" e que agora "vamos ver", notando ainda que este é um partido "muito plural", onde as divergências se sucedem.
Mas nem todos os socialistas vêem a questão com esta leveza. Um antigo deputado e ex-dirigente do partido resume à Renascença que "isto vai acabar mal". Questionado em que sentido e se isso pode significar a demissão de António Costa Silva, a resposta não oferece dúvidas: "um dia destes", não dando importância ao facto de o ministro da Economia seja uma escolha pessoal de Costa. "São todos", resume este socialista.