13 out, 2022 - 18:38 • Lusa
O PSD acusou esta quinta-feira o Governo de praticar “um logro” por querer privatizar a TAP “à pressa” depois de a ter nacionalizado, vaticinando “um desastre” e a perda total dos 3,2 mil milhões de euros já injetados na empresa.
No debate de atualidade marcado pelos sociais-democratas sobre a privatização da TAP, o PS, mas também o BE e até o Chega, lamentaram que PSD não tenha apresentado qual era a sua alternativa para a empresa.
Numa primeira intervenção, o PSD vaticinou que o Governo não vai conseguir recuperar, com a futura privatização da TAP, os 3,2 mil milhões de euros que já investiu na companhia aérea.
“Os portugueses perdem três mil milhões de euros, aí já não vai ser suficiente o seu pedido de desculpas. Está convencido o senhor ministro que o comprador vai realizar mais-valias face aos 3,2 mil milhões de euros que os portugueses colocaram? Não, não vai ter, não tenha ilusões”, acusou Paulo Moniz, dirigindo-se ao ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.
TAP
O ministro das Infraestruturas garantiu no Parlame(...)
Depois, o deputado do PSD António Prôa disse não entender como Pedro Nuno Santos pode dar a cara pela privatização da empresa, lembrando que o ministro foi um dos principais defensores da ‘geringonça’ com o PCP, BE e PEV, partidos que querem a TAP na esfera pública.
“Prometeram que com o PS a TAP seria pública, mas privatizaram, foi um logro. Prometeram uma grande TAP, mas infelizmente hoje a TAP é uma ‘tapzinha’ (…) Espero sinceramente estar errado, mas receio ter razão e que o desastre seja total”, avisou.
No debate de atualidade, o PSD foi por várias vezes desafiado a explicar qual seria a sua opção para a TAP e acusado de ser um “partido de protesto”.
“O que faziam com a companhia em 2020? Ou querem ser o Chega, o Livre, o BE, que não querem ter responsabilidade ou dizem de uma vez por todas o que fariam com a TAP? Não fazem a mínima ideia”, acusou o vice-presidente da bancada socialista Carlos Pereira.
O deputado assegurou que o PS nunca mudou de opinião sobre a importância de ter um parceiro estratégico na empresa, acrescentando que não quer repetir o que considera ter-se passado com o processo de privatização em 2015 por um Governo PSD/CDS-PP “à 25.ª hora, às escondidas”.
“Quanto a tomar decisões difíceis, o PSD não leva lições de ninguém, muito menos do PS, quanto em 2011 tivemos de salvar o país. Receio até, que por via da má governação do senhor e do seu governo, infelizmente o país tenha de ter novamente o PSD a tomar decisões difíceis e a governar, mas a tomar decisões difíceis”, respondeu António Prôa.
À esquerda, PCP e BE defenderam uma TAP pública e manifestaram perplexidade com a opção do Governo.
A líder parlamentar comunista, Paula Santos, acusou o executivo de se render “à submissão da União Europeia às multinacionais”, defendendo que existem na Europa e no mundo companhias de aviação civil que não são privadas.
“Já vimos este filme com outras empresas fundamentais para o nosso país e o que causou de prejuízo para o nosso país”, alertou, questionando o Governo se a sua estratégia sempre foi “salvar a TAP para depois a privatizar”.
Pelo BE, a deputada Mariana Mortágua manifestou idênticas preocupações.
“O ministro diz-nos: a TAP é estratégica, o PS entende que para defender a TAP ela tem de ser pública, mas a União Europeia não deixa, então para salvar a TAP o Governo vai privatizá-la. É este o resumo do argumento que o senhor ministro aqui traz hoje”, lamentou, dizendo que o executivo não pode “ficar a meio da ponte”.
Pelo contrário, a Iniciativa Liberal defendeu que a TAP “não deveria ter sido nacionalizada e deve ser privada, como acontece na maioria dos países da Europa”, com o deputado Bernardo Blanco a desafiar o Governo a aceitar uma auditoria ao processo de nacionalização da companhia aérea.
“Esta é a brincadeira mais cara do Governo socialista e é preciso apurar responsabilidades”, defendeu.
Já o Chega criticou o que chamou de “privatização à pressa”, com o deputado Filipe Melo a defender que o Estado mantenha a companhia área “até ser ressarcido” dos 3,2 mil milhões de euros que nela investiu.
Antes, o líder do partido André Ventura tinha trazido ao debate a recente polémica a envolver a TAP, que passou por uma encomenda – entretanto, cancelada – de dezenas de automóveis para a administração, tema que foi também abordado pela porta-voz do PAN, Inês Sousa Real.
“O PAN sempre defendeu que qualquer injeção de capital tinha de corresponder ao aumento de controlo e de gestão do Estado na TAP”, afirmou a deputada única do PAN, dizendo que o problema “é injetar dinheiro público para depois vender ao desbarato”.
Também o deputado único do Livre, Rui Tavares, lamentou que o Governo não tenha esclarecido no debate o modelo de privatização pretendido – “total ou parcial, já ou mais tarde” -, alertando que quem quer “privatizar depressa, privatiza ao desbarato e perde dinheiro”.