22 out, 2022 - 14:45 • Lusa
O secretário-geral do PCP admite sentir uma "mágoa política" com António Costa, pelo que disse ser uma "oportunidade perdida" para o país, e considerou que o Presidente da República "deveria ter mais prudência" nas declarações que faz.
"A minha maior desilusão foi ver que havia uma excelente oportunidade para resolver algumas questões no plano imediato que se colocavam ao povo e ao país e essa oportunidade foi perdida, na medida em que se isso se tivesse concretizado Portugal hoje estaria melhor", sustenta Jerónimo de Sousa, em entrevista à agência Lusa, a propósito da Conferência Nacional do PCP nos dias 12 e 13 de novembro.
"Fica esta mágoa, só política", confessa, mas no plano pessoal a relação com o primeiro-ministro é "coração ao alto".
A relação com o secretário-geral do PS e antigo parceiro da "geringonça", que vigorou entre 2015 e 2021, não sofreu "qualquer alteração" depois da cisão, em outubro de 2021, que acabou com o voto contra do PCP e chumbo da proposta de Orçamento do Estado para 2022.
O impasse entre o Governo socialista e os parceiros à esquerda levou à dissolução do parlamento pelo Presidente da República, que convocou eleições legislativas antecipadas para janeiro de 2022, nas quais o PS alcançou a maioria absoluta.
Na altura, o PCP justificou a rejeição da proposta orçamental, - em contraste com a posição que tinha tido desde 2015 quando ajudou a viabilizar o primeiro Orçamento de Costa -- com a "recusa" do executivo em ceder na caducidade da contratação coletiva e no aumento de salários e pensões.
Contudo, para Jerónimo de Sousa essas questões ficam no plano político: "Não posso viver de emoções próprias."
Deputado à Assembleia Constituinte, o líder do PCP foi também questionado sobre a atuação de um outro deputado constituinte, Marcelo Rebelo de Sousa, que é hoje Presidente da República.
"Não se pode acusar este Presidente da República de não ter cumprido a Constituição", começa por dizer Jerónimo de Sousa, que critica, no entanto, a postura do chefe de Estado de "meter-se em assuntos onde deveria ter mais prudência".
Recentemente o Presidente da República foi amplamente criticado por partidos políticos e sociedade civil pelas declarações que proferiu sobre os 424 casos de abusos sexuais de menores na Igreja Católica. Marcelo Rebelo de Sousa considerou que não eram "um número muito elevado", mas, mais tarde, esclareceu o que tinha dito e disse acreditar que o número é ainda maior.
Sobre esse assunto, o secretário-geral do PCP julga que o Presidente da República "foi descuidado", pela "própria sensibilidade" da questão dos abusos sexuais.
"Acho que Marcelo Rebelo de Sousa precipitou-se, quando se tem uma inteligência fulgurante, às vezes dá para o torto", completou.