23 out, 2022 - 12:07 • Inês Braga Sampaio , com Lusa
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Morreu Adriano Moreira, na manhã deste domingo, aos 100 anos, confirmou o CDS-PP, partido de que foi presidente. O ministro de Salazar durante o Estado Novo foi o político mais longevo da história da Democracia portuguesa e uma das figuras mais prestigiadas das últimas décadas.
Ex-membro do Conselho de Estado indicado pelo CDS-PP, Adriano Moreira teve um percurso académico e político dividido entre dois regimes: foi ministro do Ultramar no Estado Novo, de 1961 a 1963, e presidente do Centro Democrático e Social (CDS) em democracia, de 1986 a 1988. Foi deputado entre 1980 e 1995.
Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, a 6 de setembro de 1922. Estudou no Liceu Passos Manuel e licenciou-se em Ciências Histórico-Jurídicas pela Faculdade de Direito de Lisboa, em 1944. Recém-formado, começou a exercer a advocacia e o seu envolvimento num processo contra o então ministro da Guerra, Fernando dos Santos Costa, valeu-lhe uma detenção.
No Aljube, de onde foi libertado passados cerca de dois meses, conheceu Mário Soares: "Até então, só o conhecia de nome. Era um jovem que muita gente apreciava, porque tinha uma certa alegria e também porque era muito determinado e consistente para a idade. Mas defendíamos posições inteiramente contrárias", relatou, citado pela Visão, em 1995.
Mais tarde, ingressou no corpo docente da antiga Escola Superior Colonial, que passaria a Instituto Superior de Estudos Ultramarinos - o atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), pelo qual se doutorou e que, com a sua intervenção, seria integrado na Universidade Técnica de Lisboa. Enquanto professor universitário, publicou dezenas de obras.
As palavras foram ditas numa entrevista, quando ai(...)
Entre 1957 e 1959, Adriano Moreira fez parte da delegação portuguesa às Nações Unidas. António de Oliveira Salazar chamou-o então para o Governo, primeiro para subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1960, e depois para ministro do Ultramar, em 1961.
Segundo o próprio Adriano Moreira, Salazar convidou-o para que pusesse em prática um conjunto de reformas de que falava nas suas aulas, mas posteriormente pediu-lhe para mudar de política e a sua resposta foi: "Vossa excelência acaba de mudar de ministro".
"Fui ministro de Salazar, mas fui o ministro que fui: revoguei o Estatuto do Indigenato e aboli as culturas obrigatórias nas colónias", disse ao Expresso, em 1983.
Quando deixou o Governo, em 1963, voltou ao ensino e casou-se em 1968 com Mónica Isabel Lima Mayer, com quem teve seis filhos, António, Mónica, Nuno, Isabel, João e Teresa. Foi presidente da Sociedade de Geografia.
Após o 25 de Abril de 1974, Adriano Moreira foi saneado das funções oficiais e esteve exilado no Brasil, onde foi professor na Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Em 1980, regressou à política ativa, como candidato a deputado nas listas da Aliança Democrática (AD). Filiou-se no CDS, que acabaria por liderar, entre 1986 e 1988, e continuou deputado até 1995.
Em junho deste ano, Adriano Moreira foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem de Camões.
Antigo presidente do CDS e ministro do Interior do(...)
Por ocasião do centenário, a mais mediática descendente de Adriano Moreira, Isabel, a quarta dos seis filhos do professor e dirigente político, disse à Renascença que "é difícil descrever em palavras" o significado desta "data fortíssima".
"É um século de vida de uma pessoa que abraçou décadas impressionantes da nossa história, mas que, ao mesmo tempo, é o nosso pai. Portanto, é um misto de emoções enorme", confessa.
A deputada do PS diz-se feliz por assistir ao reconhecimento recente das "muitas facetas" do pai: "Na vertente política, na vertente universitária, na vertente de pensador..."
"Claro que as conhecemos, mas, vendo-as revisitadas, de uma forma aprofundada e de uma maneira tão acarinhada, é, de facto, muito emocionante."