09 nov, 2022 - 20:44 • Tomás Anjinho Chagas
O tapete está estendido. O grupo parlamentar do PSD discutiu durante a tarde desta quarta-feira o projeto de revisão constitucional. À saída da reunião, no Parlamento, António Leitão Amaro, vice-presidente do partido falou numa revisão “realista”, “reformista” e num projeto “diferenciador”.
Sem clarificar, nem discriminar nenhuma alteração em concreto, atirando sempre para o que vai sair do Conselho Nacional do PSD esta quinta-feira à noite, o dirigente social democrata só destapa uma parte do véu: “O direito centrado nas pessoas”, disse aos jornalistas, sem explicar o que isso significa de forma mais tangível.
Os trunfos estão guardados para esta quinta-feira, altura em que o PSD vai aprovar uma deliberação que vai servir de base para o projeto de revisão constitucional, alavancado pelo Chega.
Em resposta ao PS, que amanhã vai também arrancar com a discussão em torno de uma revisão da Constituição, Leitão Amaro garante que “não há diálogo com nenhum outro partido” e atira-se aos socialistas: “o PS está a mostrar que não tem nada para oferecer ao país. Mais uma vez o PS vem a reboque do PSD”, sentencia o vice de Montenegro.
“O PS anda a navegar à vista”, repetindo uma expressão utilizada por Marcelo Rebelo de Sousa para classificar a proposta de Orçamento do Estado. O social-democrata dá o exemplo do programa de emergência social e de algumas medidas do PSD para o OE que o Governo entroncou.
Leitão Amaro recusa qualquer leitura pessimista deste processo dentro do partido. Depois de alguns deputados do PSD demonstrarem algum desconforto pela forma apressada como tudo decorreu, o vice-presidente do partido garante que tudo está a ser feito em articulação com a bancada parlamentar.
“Muito diálogo, muito intenso, em tempo curto, mas muito intenso.”, afirma aos jornalistas. Quanto às críticas diretas, Leitão Amaro afirma que “vai sempre haver cantos de notícias a falar do que não interessa ao país”. “Há sempre espaço para escrever sobre coisas que não são o projeto de transformação do país”, esvazia este membro da direção.
A reunião da bancada aconteceu às 18h00, hora que coincidiu com a audição do Ministro da Economia, António Costa Silva no Parlamento.
Sobre isso, Leitão Amaro desvaloriza as críticas de alguns deputados do PSD, dizendo que também já foi deputado e que, fruto da agenda preenchida na altura de discussão do OE, seria impossível que a reunião da bancada não coincidisse com nenhuma audição.
Luís Montenegro está esta semana no distrito de Vi(...)
A iniciativa gera no entanto algum desconforto entre alguns deputados do PSD. A começar precisamente pelo timing da reunião da bancada social-democrata, em simultâneo com a presença de Costa Silva na Assembleia da República, o que deixou alguns deputados de fora.
“É um desrespeito e uma falta de inteligência estratégica”, atira um deputado descontente à Renascença. E diz que isto só pode acontecer “a não ser que realmente não queiram debater nada, que é o que acho”, desfere.
Este deputado social-democrata rejeita a ideia de diálogo com o grupo parlamentar e defende que o projeto está muito centrado na direção do PSD. “É um processo que está fechado, que é muito importante e que não pode ser debatido en passant”, descreve.
Na leitura deste parlamentar, esta reunião só serviu para “garantir que os deputados não possam dizer que nao foram avisados”, e acredita que esta reunião só serviu para apresentar o projeto, só para apresentá-lo.
As críticas não se extendem por toda a bancada. “Muito tranquilo”, descreve um outro deputado à Renascença sobre o ambiente vivido na reunião da bancada durante a tarde desta quara-feira. Este parlamentar acredita que esta proposta de revisão constitucional não gera “desconforto nenhum” entre os vários membros da bancada.
“Há vários deputados que vinham a interagir com a direção nacional do partido”, defende, descartando a convicção de alguns deputados de que não tiveram uma palavra (forte) a dizer sobre este processo.
“Alguém tinha de abrir o jogo”, diz um dirigente da bancada à Renascença, defendendo que os deputados podem e devem dar o seu contributo. E que tiveram oportunidade para fazê-lo.