15 nov, 2022 - 18:32 • Ricardo Vieira, com Lusa
O ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa afirma que "é o próprio primeiro-ministro, António Costa, a confirmar uma tentativa de intromissão política no Banco de Portugal".
Carlos Costa falava na apresentação do livro "O Governador", que relata a sua passagem pelo Banco de Portugal.
O antigo governador reitera o que estava no livro: a 12 de abril de 2016, o primeiro-ministro, António Costa, telefonou-lhe a dizer "que não se podia tratar mal a filha do presidente de um país amigo", numa alegada tentativa para não afastar Isabel dos Santos da administração do Banco EuroBic.
“Confirmo que o senhor primeiro-ministro me contactou por chamada para o meu telemóvel no dia 12 de abril à tarde após a reunião que tive com Isabel dos Santos e com Fernando Telles, acionistas do BIC. Confirmo que nessa chamada o primeiro-ministro disse que não se pode tratar mal a filha do presidente de um país amigo de Portugal", declarou Carlos Costa.
Na quinta-feira passada, "no mesmo dia em que anunciava o processo judicial, o primeiro-ministro enviou-me mensagem escrita onde reconhece que contactou para transmitir a inoportunidade de demissão de Isabel dos Santos. Foi o próprio primeiro-ministro que confirmou uma tentativa de intromissão política no Banco de Portugal", acusou o ex-governador.
António Costa diz ao ex-governador do Banco de Por(...)
O livro “O Governador”, publicado pela Dom Quixote, resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, que liderou o Banco de Portugal entre 2010 e 2020, e tem causado polémica.
O primeiro-ministro, António Costa, já afirmou que irá processar o ex-governador do Banco de Portugal por ofensa à sua honra, depois de, no livro, o antecessor de Mário Centeno ter relatado que foi pressionado pelo chefe do Governo para não retirar Isabel dos Santos do BIC.
Durante a intervenção hoje, Carlos Costa justificou a decisão de concretizar o livro com “contribuir para o reforço de respeito que merece a instituição do Banco de Portugal”, no que diz ser uma “tarefa de interesse público”.
Assim, o antigo governador considerou ser seu “dever contribuir para o escrutínio” dos dez anos em que liderou o Banco de Portugal, por ser uma prática de “prestação de contas e comum no norte da Europa” e contribuir para uma “compreensão do presente e dos condicionantes futuros”.
Um acusou, outro processou. O motivo: a continuaçã(...)
“O Banco de Portugal contou muito mais do que aparentemente se pensa, do que se olha para as notícias públicas na época”, vincou, destacando o papel do supervisor na estabilidade económica e financeira do país.
Os ex-Presidentes da República Cavaco Silva e Ramalho Eanes, o antigo primeiro-ministro Passos Coelho e o presidente do PSD, Luís Montenegro, marcaram hoje presença na apresentação do livro.
Também Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças do Governo do PS chefiado por José Sócrates, e o antigo deputado socialista António Galamba estiveram na apresentação, numa sala completamente cheia e com muitas pessoas de pé.
Os antigos ministros do PSD Miguel Relvas, Paula Teixeira da Cruz, Aguiar-Branco, Miguel Cadilhe e do CDS-PP António Pires de Lima foram outras das personalidades presentes.
Da atual direção do PSD, além de Luís Montenegro, esteve também presente o líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento.
A antiga procuradora-geral da República Joana Marques Vidal, o ex-banqueiro José Maria Ricciardi, a magistrada Maria José Morgado, o sociólogo António Barreto ou o antigo assessor político de Passos Coelho Miguel Morgado foram outras das presenças.