18 nov, 2022 - 13:54 • Ricardo Vieira
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mantém a intenção de se deslocar ao Mundial Qatar, para acompanhar a seleção nacional, e para dizer o que pensa sobre direitos humanos em território qatari.
Marcelo Rebelo de Sousa falava esta sexta-feira aos jornalistas, em Fátima, depois da polémica causada pelas suas declarações no dia anterior. Após o Portugal-Nigéria, no Estádio de Alvalade, o chefe de Estado declarou: “O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto".
A declaração mereceu críticas de vários partidos, como o Bloco de Esquerda e a Iniciativa Liberal, e da Amnistia Internacional, e o Presidente da República voltou esta sexta-feira ao tema.
Marcelo Rebelo de Sousa diz que aguarda a autorização da Assembleia da República para realizar a viagem, que terá também uma escala no Egito, para um encontro com o Presidente Al-Sissi.
"Supondo que os requisitos estão todos preenchidos, isto, que consigo passar pelo Egito e encontrar o Presidente Sissi, mas sobretudo que não há posições diferentes entre os três órgãos de soberania e que o Parlamento, de forma clara, acho que sim - é um juízo político do Parlamento - aí, a minha ideia é, primeiro, em território português dizer o que penso da situação dos direitos humanos no Qatar, e depois em território do país onde me desloco dizer o que penso sobre a situação dos direitos humanos."
"É o que tenho feito. Fiz isso noutros países que não têm regimes democráticos, com os quais mantemos relações diplomáticas. Os meus antecessores fizeram o mesmo, foram lá, vieram, receberam chefes de Estado, mas não deixaram de dizer: ‘atenção que há aqui um problema que não podemos pôr de parte nem escamotear, é o problema dos direitos humanos'", salientou o Presidente da República.
O chefe de Estado reconhece que, no caso do Qatar, há duas dimensões preocupantes: "uma é os direitos humanos em termos de liberdade das pessoas, outra é mais específica, são os direitos humanos dos trabalhadores que trabalharam na construção dos estádios e cuja situação foi dramática e implica uma responsabilidade que um Estado de direito tem que garantir".
O Presidente justifica as suas declarações de quinta-feira à noite, após o jogo da seleção, com o "nervoso" do futebol: “Eu vinha do fim de um jogo de futebol, perguntaram-me sobre futebol. Eu é que introduzi os direitos humanos e, depois, perante o nervoso que havia para regressar ao futebol eu disse: ‘já falei de direitos humanos, agora, regressamos ao futebol’. Foi por isso, mas pareceu-me que naquele contexto eu tinha que falar em direitos humanos.”
Sobre a viagem, Marcelo Rebelo de Sousa recorda que, tradicionalmente, nos últimos anos, o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro têm marcado presença nas grandes competições internacionais de futebol, como o Mundial ou o Europeu.
"Tem que haver autorização do Parlamento. O Parlamento tem autorização do povo português. Pode dizer: pode ir ou não deve ir em determinadas circunstâncias relacionadas com o Qatar, a sua situação política ou jurídica", elencou.
"Em terceiro lugar, eu tenho previsto passar pelo Egito para me encontrar com o Presidente Sissi. Estou à espera da confirmação deste encontro", frisou o chefe de Estado.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, apelou hoje ao Presidente da República para não ir ao Qatar, lembrando que "não se pode esquecer" as condições dos trabalhadores que montaram as estruturas do evento.
"Não podemos esquecer as condições dos trabalhadores", afirmou Catarina Martins quando questionada pelos jornalistas sobre as declarações proferidas na quinta-feira pelo chefe de Estado.
No mesmo sentido, a Amnistia Internacional Portugal mostrou-se "estupefacta" com as declarações de Marcelo sobre os direitos humanos no Qatar, na véspera do Mundial2022 de futebol, pedindo-lhe que não vá assistir ao Portugal-Gana em 24 de novembro.