16 dez, 2022 - 11:17 • João Carlos Malta
As cheias em Lisboa estão a criar alguma tensão entre o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e o primeiro-ministro, António Costa. Moedas quis esta sexta-feira desvalorizar o incidente e pediu: “Não vamos levar isto para um caso pessoal, não quero que este caso crie mais irritação.”
O caso resulta das declarações de Costa, ontem em Bruxelas, em que o líder do Governo disse já no fim de uma entrevista coletiva: “Pode-lhe perguntar [a Moedas] porque é que ele não me ligou quando tive a minha casa inundada”.
Em resposta a esta declaração, Moedas afirmou: "Diria ao senhor primeiro-ministro que o trabalho foi muito, que estivemos a lutar ao lado dos lisboetas e dos problemas e lembraria o primeiro-ministro que fui eleito pelos lisboetas e estarei aqui com os lisboetas".
E, logo de seguida, deixou um recado. "Usando as próprias palavras do primeiro-ministro, o PS tem de habituar a isso".
Esta manhã, o autarca lisboeta foi confrontado pelos jornalistas sobre o facto de dois presidentes de Câmara socialistas, cujos municípios foram atingidos pelas cheias, terem sido visitados por membros do Governo e ninguém ter estado em Lisboa com Moedas.
"É verdade que o primeiro-ministro não me ligou e a ministra Vieira da Silva decidiu e bem visitar os muinicipios de Loures e de Oeiras, e não visitou Lisboa", lembrou. “Mas isso não é importante, o que peço é uma solução rápida para as pessoas”, disse Carlos Moedas, elogiando Marcelo Rebelo de Sousa por, "desde a primeira hora", ter entrado em contacto com ele.
"A questão de ligar ou não ligar aqui não é importante", acrescentou.
Questionado sobre se a situação o perturba, o autarca afirmou: “Não de maneira nenhuma, eu estou muito bem, só quero a ajuda do Governo” na resposta aos estragos provocados pelas cheias.
Carlos Moedas não quis avançar o montante de apoios que serão necessários para apoiar as vítimas das inundações, porque ainda não há um número global.
“A dimensão de Lisboa é muito grande, não vamos dizer um número por alto”, avançou.
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Avisou ainda que a Câmara tem, nos canais digitais, meios para que as vítimas particulares e coletivas deem conta dos estragos sofridos.
Apesar de não adiantar valores, Moedas avança, no entanto, que as ajudas começarão a ser atribuídas antes da quantificação total dos prejuízos no terreno.
“Não podemos quantificar sem começar a ajudar”, defendeu o autarca esta manhã, adiantando o mês de janeiro como dava prevista para o início dos apoios à população lisboeta.
No final do Conselho Europeu de quinta-feira, na conferência de imprensa com os jornalistas quando o tema era as alterações climáticas, Costa foi questionado sobre se iria contatrar Carlos Moedas por causa das cheias, na sequência das queixas de ausência do Governo. "Se for necessário, com certeza, qual o problema", respondeu.
Após a insistência da jornalista sobre a razão pelo qual não ligou a Moedas depois das cheias na capital, Costa lançou para a repórter. "Ó senhora deixe-se, não se preocupe com o assunto".
O primeiro-ministro terminou com o período de perguntas e respostas, mas num momento em que saia do palco e depois de desejar "bom Natal" ainda lançou um aparte: "Pode-lhe perguntar [a Moedas] porque é que ele não me ligou quando tive a minha casa inundada”.
O tom usado por António Costa durante os nove meses de maioria absoluta do Partido Socialista tem sido alvo de críticas sobretudo na Assembleia da República, durante os debates parlamentares.