25 dez, 2022 - 21:58 • Pedro Valente Lima
Em reação à mensagem de Natal do primeiro-ministro, o PCP realça que António Costa tentou "pintar uma imagem do país em que dificilmente os portugueses se reconhecerão nela".
Em declarações aos jornalistas, Jorge Pires, membro do comité-central do Partido Comunista Português, diz que o primeiro-ministro se contradiz ao usar "várias vezes" a expressão "confiança", mas sem aplicar soluções aos problemas do país.
"A confiança passa por resolver o problema dos salários, passa por resolver o problema da inflação, do aumento dos preços do dia a dia, que leva a uma diminuição do poder de compra sistemático por parte dos trabalhadores, dos pensionistas, dos reformados. Passa por resolver as injustiças sociais."
"Portanto, dificilmente os portugueses se reconhecem neste país que o primeiro-ministro pintou", sublinha Jorge Pires.
Para o PCP, a "confiança no futuro" terá de passar, "naturalmente", pelo conjunto de medidas defendido pelo partido e que, "sistematicamente, o governo do Partido Socialista recusa".
"Nós temos vindo a exigir que se tomem um conjunto de medidas para conter o aumento dos preços e isso não se verifica. Enquanto os portugueses vão pagando essa especulação em torno dos preços, os grupos económicos vão ganhando cada vez mais dinheiro", lamenta Jorge Pires.
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O partido denuncia situações de lucros excessivos nos setores da energia, da distribuição, da banca e dos seguros. "Nós temos esta situação escandalosa que é a Galp, [que] nestes primeiros nove meses do ano lucrou mais de 600 milhões de euros e já anunciou que vai distribuir 900 milhões de euros pelos acionistas da empresa."
Jorge Pires também destaca os exemplos da banca, na qual os maiores bancos apresentaram lucros de "mais de 1.300 milhões de euros".
"Portanto, não se pode falar em confiança no futuro olhando para esta situação e não tomando as medidas que são necessárias. E a medida fundamental é o aumento dos salários, das pensões e das reformas", reforça.
No entanto, nesse capítulo, o PCP considera que o "Governo não tem feito aquilo que é necessário" e o primeiro-ministro "não falou nessa situação" na sua mensagem de Natal, o que "preocupa os portugueses". "O país real, aquele que nós estamos a viver no dia a dia, é com estas coisas que se preocupa."
Jorge Pires apontou ainda para a questão do salário mínimo nacional, que a partir de janeiro irá aumentar para os 760 euros, para insatisfação dos comunistas, que propunham fixar o valor em 850 euros. "Era uma medida de justiça social fundamental."
No final, o membro do comité-central voltou a tocar uma última vez no capítulo das reformas e pensões. Pensionistas e reformados poderiam "ter um aumento interessante aplicando a lei, mas o Governo decidiu congelar a aplicação da fórmula": "Vão ter um aumento inferior a cerca de 50% àquilo que deveriam ter se a lei fosse aplicada", remata.
Na mensagem de Natal, divulgada este domingo, o primeiro-ministro declarou que "a trajetória sustentada de redução do défice e da dívida coloca-nos ao abrigo das turbulências do passado".
António Costa diz que há "razões para ter confiança" e puxa dos galões pelos resultados obtidos no défice e na dívida. Também contraria as oposições e argumenta que o país se tem aproximado "das economias mais desenvolvidas da Europa, com o investimento das empresas, as exportações e o emprego a crescerem".