27 dez, 2022 - 18:35 • Susana Madureira Martins
Da resposta da TAP, que ainda esta terça-feira será enviada ao Governo, poderá depender o destino de Alexandra Reis, a secretária de Estado do Tesouro que tem estado no centro da polémica na sequência do acordo de rescisão com a companhia aérea que levou ao pagamento de 500 mil euros de indemnização.
No Governo já se admite que "a pressão é brutal" e que Alexandra Reis poderá mesmo não ter condições para continuar. De resto, esta terça-feira o primeiro-ministro foi questionado pela agência Lusa sobre se mantém a confiança na secretária de Estado e António Costa respondeu que "quanto ao mais", aguarda "o esclarecimento cabal dos factos e da sua qualificação jurídica".
À Renascença é dito por um governante que "isto é avassalador, a pressão é brutal", e que a saída de Alexandra Reis não está descartada, deixando ainda um lamento sobre a ação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que "está sempre a falar" do caso desde domingo.
Também no PS a eventual saída é já vista com naturalidade. Um dirigente socialista diz mesmo à Renascença que a demissão "é sempre possível" e que "se aparecer outra interpretação" jurídica, a secretária de Estado do Tesouro "terá de devolver" os 500 mil euros.
Questionado sobre as declarações de Alexandra Reis(...)
O mesmo dirigente do PS mostra-se preocupado com o comunicado da TAP enviado à CMVM, a 4 de fevereiro, e que dava conta da apresentação de renúncia ao cargo na Administração de Alexandra Reis. Este socialista avisa que "a administração é que pode ficar em causa se se provar que a TAP deu informação errada ao mercado".
Apesar de a TAP ter chamado renúncia à saída de Alexandra Reis, a então administradora saiu porque a empresa quis que saísse, dada a incompatibilidade com a CEO, Christine Ourmières-Widener. "Têm feitios iguais, ambas algo autoritárias", diz à Renascença fonte próxima deste processo.
Ou seja, Alexandra Reis saiu empurrada, "sobre isso não há dúvidas nenhumas", mas com o argumento que "foi uma renúncia negociada. Ela aceitou renunciar depois de negociarem um acordo", explica fonte do executivo.
É neste ponto que o próprio Presidente da República tem insistido. Não só os fundamentos do acordo que levaram ao pagamento de 500 mil euros de indemnização a Alexandra Reis, mas os contornos políticos da saída. E já admitiu que podem surgir "consequências".
Em Belém é entendido que politicamente não é a mesma coisa se a então vogal da TAP saiu empurrada ou por vontade própria e que sabendo isto "depois logo se vê". Ou seja, se tem ou não condições para continuar no cargo.
Secretária de Estado do Tesouro quebra silêncio so(...)
Quando Alexandra Reis foi convidada para a secretaria de Estado do Tesouro, era sabido por elementos do Governo de todo o antecedente de rescisão com a TAP. "Para ela e para quem a convidou isso não era um problema", admite um governante.
Aliás, é notado que, em junho, Alexandra Reis foi chamada a liderar a Navegação Aérea de Portugal (NAV), a rescisão com a TAP já tinha acontecido e aí "não despertou o interesse de ninguém" e só passou a ter quando foi para o Governo.
Quem no Governo sabia deste percurso admite que não antecipou o problema. "Não conseguimos antecipar tudo e ninguém consegue", é dito à Renascença por um elemento do executivo que acrescenta: "não antecipámos, nem ela", referindo-se a Alexandra Reis.
É ainda admitido que o valor da rescisão de 500 mil euros pode ser considerado "pornográfico", mas que, "segundo a TAP, a lei foi cumprida". E no executivo é ainda dada a explicação: "Os salários são altos, por isso a indemnização é alta". E é colocada a questão: "se é muito, qual é o limiar que as pessoas acham aceitável?".
O problema mais fundo apontado por um governante é que a TAP "não pode ser gerida por qualquer pessoa" e que é preciso ir ao "mercado buscar pessoas com experiência". E Alexandra Reis é apontada como tendo perfil. Tal como foi considerado que tinha perfil para ser chamada para o Governo com este lastro. "As pessoas agiram de boa-fé", garante o mesmo governante.