03 jan, 2023 - 09:27 • Sérgio Costa
O primeiro-ministro, António Costa, anunciou novos ministros depois da demissão de Pedro Nuno Santos do Governo.
O anterior Ministério das Infraestruturas e Habitação acabou por ser dividido em dois. O antigo secretário de Estado da Energia, João Galamba, assume a tutela das Infraestruturas e Transportes, enquanto Marina Gonçalves ascende à liderança da pasta da Habitação.
Pode-se dizer que há uma linha de continuidade?
Sim, sobretudo no caso de Marina Gonçalves. Antiga secretária de Estado de Pedro Nuno Santos, assume agora a liderança da grande novidade remodelação do executivo promovida por António Costa: o novo ministério da Habitação.
João Galamba é que muda o universo em que estava envolvido. Estava mais ligado às questões da Energia, passando a assumir questões eventualmente mais complexas e desgastantes, como é a da TAP - de onde surgiu toda a polémica que motivou a demissão de Pedro Nuno Santos e a reconfiguração do Governo.
Esta remodelação no Governo afasta a ala mais à esquerda do Partido Socialista, liderada pelo ex-ministro Pedro Nuno Santos?
Não necessariamente. João Galamba é visto como alguém próximo desse quadrante ideológico do PS e que mais facilmente se entenderá com partidos mais à esquerda.
Marina Gonçalves era secretária de Estado do ministério de Pedro Nuno Santos, ou seja, é uma figura próxima do ex-ministro. Essa ala não estará assim afastada.
Aliás, muitos comentadores dizem que a saída do governante até poderá ser prejudicial para António Costa, no que diz respeito à oposição interna. Pedro Nuno Santos estará agora mais livre para desempenhar esse papel.
A manutenção e promoção de figuras próximas do ex-ministro pode ser um sinal de que António Costa quer ter algum controlo sobre esse universo mais à esquerda do PS.
Esta segunda-feira foram lançadas dúvidas sobre Galamba e Ventura disse que o novo ministro está a contas com a justiça. Há algum processo?
Será excessivo dizer que o novo ministro das Infraestruturas está a contas com a justiça. Mas a verdade é que, em 2020, foi aberta uma investigação que envolve não só João Galamba, mas também o então ministro da Economia, Pedro Siza Vieira.
Em causa estão indícios de crimes de corrupção e tráfico de influências em negócios associados ao projeto do hidrogénio verde. Já na altura, a imprensa, nomeadamente a revista Sábado, dava conta que a investigação estava em fase avançada.
Até ao momento, não há quaisquer conclusões. Sabe-se ainda que João Galamba fez uma queixa contra uma denúncia que dizia ser caluniosa, mas também não há novidades nesse ponto.
Com tantas dúvidas por desfazer, pode vir a ser um problema para o primeiro-ministro?
Pode-se dizer que há esse risco. No caso de se concluir o envolvimento de João Galamba, seria mais uma polémica a somar ao atual Governo. No entanto, será prematuro apostar em previsões.