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​Caso TAP/Alexandra Reis. Socialistas veem Medina "fragilizado" e cobram "respostas" que "não estão dadas"

04 jan, 2023 - 06:30 • Susana Madureira Martins

Tal como entre as oposições, também no PS se reclama que Fernando Medina dê mais explicações sobre o que sabia ou não sobre o caso que envolve a TAP e a rescisão de Alexandra Reis. Há dirigentes socialistas que dão o ministro das Finanças como "politicamente fragilizado" e "um peso morto para o Governo". No partido já se questiona também sobre o bom uso da maioria absoluta. "Somos capazes de ter uma maioria absoluta ou não? Vamos ver", resume um dirigente nacional.

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Foto: António Pedro Santos/Lusa
Foto: António Pedro Santos/Lusa

"Toda a gente acha que ele sabia. Safou-se". É como um dirigente nacional do PS resume o que boa parte do partido pensa sobre Fernando Medina e o caso TAP/Alexandra Reis. Ou seja, que dificilmente o ministro das Finanças não saberia da rescisão que resultou numa indemnização de 500 mil euros à ex-secretária de Estado do Tesouro.

À Renascença, o mesmo dirigente do PS considera que, depois desta crise política que levou a mexidas profundas no Governo, o ministro das Finanças "está politicamente muito fragilizado" e até replica o que disse há dias o líder do PSD, Luís Montenegro: "Medina para todos os efeitos é um peso morto para o Governo".

Vários socialistas ouvidos pela Renascença, consideram que o ministro das Finanças ainda tem muitas explicações a dar sobre o caso que envolve a ex-secretária de Estado do Tesouro e a rescisão da TAP.

Um antigo governante socialista questiona-se: "a senhora aparece na equipa do Medina sob proposta de quem? E foi buscar porquê? Em que circunstâncias a conhecia?", concluindo com um sardónico "não fez um anúncio no OLX".

Foram tiradas consequências do caso, houve demissões de um ministro com o peso de Pedro Nuno Santos e a saída de secretários de Estado, mas para este socialista "do lado do Medina essas respostas não estão dadas".

Outro dirigente socialista e ex-governante nota, em declarações à Renascença, que se presume que "quando se convida alguém fora do circuito político é porque a conhece" e que se Medina "não se lembrasse de convidar Alexandra Reis nada disto tinha acontecido", acrescentando que quem vem da "sociedade civil vem de algum sítio".

Há ainda socialistas que consideram que "este foi um bónus que foi oferecido" por Medina às oposições e que "do ponto de vista político foi de uma grande imprudência da parte dela ir para o Governo", nota um deputado socialista referindo-se a Alexandra Reis. "Saiu do patrão Estado para o patrão Estado".

O mesmo deputado socialista salienta que Medina "não tinha necessariamente de conhecer" a rescisão e a indemnização de Alexandra Reis, mas reconhece que o ministro das Finanças "não foi suficientemente criterioso" na escolha da secretária de Estado.

Medina "veio com má estrela e sem estado de graça, como uma personagem mal amada, não entrou com boa imagem" no Governo, assume este socialista, que ressalva que "isto não belisca como o PSD quer" e que não vê como "possam tocar" no ministro.

Mas este é "o segundo processo" em que o ministro das Finanças "sai chamuscado", conclui um dirigente nacional que recorda o caso Sérgio Figueiredo. O mesmo dirigente vai atrás no tempo, recorda o resultado de Medina na câmara de Lisboa e que agora "apresenta um défice e um brilharete orçamental quando não era desejado". Conclusão: trata-se de um Medina "fragilizado" e "em que é que sai valorizado? Nada".

Saída de Medina do Governo? "É difícil de substituir"

Há respostas a dar por Fernando Medina, consideram alguns socialistas, mas daí a sair do Governo é outro assunto. Para um ex-governante do PS ouvido pela Renascença "não há nenhuma razão para ir embora" do executivo e "isto termina se não houver mais novidades escaldantes", ou se, por exemplo, a Inspeção Geral de Finanças, a quem o ministro pediu uma auditoria, "vier a adiantar alguma coisa". Conclusão: "só haveria a saída de um ministro se se soubesse que o ministro estava implicado ou a mulher do ministro".

O mesmo socialista questiona quem é que António Costa "ia por no lugar do Medina?" no caso de confirmar-se uma eventual saída. Há sempre a opção "António Mendes, mas ainda é cedo, precisa de mais algum tempo, mais tarimba, mais capacidade de afirmação", conclui, referindo-se ao atual secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro.

A opinião generalizada no PS, segundo um dirigente nacional, é que, saindo Medina, como a oposição quer, "o Governo ficaria instável", sendo de "difícil" substituição. Para os socialistas, sobretudo, "neste contexto" uma demissão do ministro das Finanças seria considerado "dramático para o Governo e para o Fernando Medina".

Desde logo é entendido que se Medina sai "não tem partido. Qualquer hipótese de ser qualquer coisa a seguir sumiu-se, esgotou-se". Este dirigente socialista sintetiza que "Medina para ser candidato a sucessor" de Costa no PS "precisava de sair do Governo por cima, prestigiado".

De qualquer maneira, António Costa, já segurou Fernando Medina, dizendo que o ministro na sequência desta polémica "não está, de modo algum, em causa". À Renascença, um dirigente do PS atira, seco, que "quem tem de ter confiança nele é o primeiro-ministro não é o partido".

Mas no PS replicam-se frases da oposição quando se fala de Medina."Perdeu toda a autoridade política, ninguém no país e ninguém no partido o suporta", resume um deputado e dirigente socialista.

Evitar "os casos de arrasar" para "segurar isto"

O que se pede agora entre os socialistas é "ainda maior cuidado para evitar novas mexidas no Governo e incidentes" refere este deputado. "Não podemos dar munições ao adversário, não podemos dar essa desculpa". Mais sintético ainda: "Temos de segurar isto", porque "a direita vai estar imbuída pela ideia de normalizar a dissolução" do Parlamento.

O cenário de eleições antecipadas é algo que um alto dirigente do PS já afastou, por completo, à Renascença, considerando-o "rídiculo", mas há quem alerte para que o partido não dê o flanco ao Presidente da República, com um deputado a deixar no ar: "Se o PS se puser a jeito...". O entendimento é que "se não houver um daqueles casos de arrasar", não "parece que esteja em causa o cumprimento da legislatura".

Esta quarta-feira tomam posse os novos ministros - o das Infraestruturas e a da Habitação - e este socialista deixa o alerta que "há coisas que podem ser melhor escrutinadas", acrescentando um "vamos ver o que vai acontecer com os próximos secretários de Estado".

Em tom resignado um dos dirigentes socialistas contactados pela Renascença assume que os problemas com "as nomeações serão uma chaga", assumindo que é um problema que "não se resolve".

"Somos capazes de ter uma maioria absoluta ou não? Vamos ver"

A maioria absoluta do PS surgiu "num tempo especial, passados sete anos", salienta um dirigente nacional socialista que considera "normal que a tensão se concentre no Governo".

O problema é se "isto se leva a ambiente de degradação política" tal em que o partido e o Governo passam a ser o próprio problema. "Nós próprios podemos ser os nossos adversários. O foco está todo em nós, no Governo, no PS". E vai ser "a capacidade de gestão do Governo que vai dar à maioria absoluta a capacidade de fazer coisas", resume este dirigente.

Para este socialista no final a pergunta passa a ser: "somos capazes de ter uma maioria absoluta ou não? Vamos ver". Ou seja, que uso será feito dessa maioria. A questão é se o partido é capaz de exercer "o poder sem ter um grau de conflitualidade tal que parece que o ambiente político se degrada".

Ainda assim, este dirigente diz-se convicto que "a legislatura vai até ao fim". Mas com esta certeza: "ser escrutinado à lupa e ser o centro de todas as questões, é a natureza desta maioria absoluta".

Galamba e Marina: "boas escolhas" ou "um risco"?

"A vida vai retomar a sua normalidade". É a convicção de um deputado que reconhece que "Medina vai ser o alvo das oposições e deve estar a rezar que se desvie o fogo", mas "não vai além disto".

Dois dias depois de serem anunciados como ministros, João Galamba e Marina Gonçalves tomam posse esta quarta-feira na Presidência da República. Ambos são tidos como pedronunistas, representam uma ala mais à esquerda do PS e "tem lógica manter os equilíbrios" dentro do Governo", segundo um dirigente e deputado socialista.

Numa espécie de paz podre, o PS quer mostrar que "está unido, não quer sinais de divisão" e é entendido que "os pedronunistas terem aceitado" estas pastas "é espelho disso, ninguém quer partir".

Galamba, o ex-secretário de Estado da Energia, que agora é promovido a ministro das Infraestruturas, "inspira tranquilidade" entre as hostes socialistas, é tido "um pouco como o Pedro Nuno Santos", considera-se que fez um bom trabalho na energia, apesar das polémicas em que se envolveu nas redes sociais.

Mas há quem veja nessas polémicas um problema. Um ex-governante socialista diz-se "banzado" com a escolha, que considera "um risco", apontando a Galamba que "há coisas técnicas em que não sabe nada" e não tem um "perfil ponderado", lamentando "um excesso de preocupação em manter o Pedro Nuno Santos sossegado".

A mesma fonte refere que a escolha para a pasta das Infraestruturas poderia ter recaído em Duarte Cordeiro, que tutela o Ambiente. "Se fosse o Duarte era melhor, era uma hipótese e toda a gente acharia uma solução normal", conclui. A Galamba é apontado que "ouve pouco, é muito convencido".

Um dirigente socialista sugere, por seu turno, que Pedro Nuno Santos sai "resguardado", sai "por cima e evita que fique mais chamuscado", antevendo um futuro negro para Galamba em que a privatização da TAP "não vai correr bem, não se vai conseguir reaver alguma parte do dinheiro".

Na Habitação, Marina Gonçalves é vista essencialmente como "trabalhadora". Um dirigente socialista resume que "o discurso" no partido "é que ela faz bem. Se o que está a fazer chega ou não, são outros quinhentos". É assumido que "mesmo que não houvesse divisão da pasta seria o nome para a área".

Há socialistas que antevêem mesmo que a "habitação vai ser a parte mais positiva do PRR, vai ser visível em relação a outros investimentos" e que há vantagens em "autonomizar os ministérios para o ministro se dedicar à ferrovia" e são ambos vistos como "boas escolhas".

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