17 fev, 2023 - 07:00 • Tomás Anjinho Chagas
Se para a direção bloquista Mariana Mortágua é considerada a opção "natural" para suceder a Catarina Martins, já para os críticos internos a solução é “uma espécie de refresh”, que não imprime a mudança necessária no rumo escolhido pela direção.
Os opositores internos admitem que o nome de Mariana Mortágua vai tornar a cisão num “combate duro”, dada a “mediatização” da atual deputada bloquista.
Do lado do poder interno há, assim, um nome escolhido para se apresentar na Convenção do Bloco de Esquerda (BE), marcada para maio, que elege a direção e o respetivo coordenador. Do lado dos opositores, falta saber quem dá a cara.
Os antigos deputados Pedro Soares e Carlos Matias são os nomes apontados para encabeçar a Moção Plataforma Unitária, que junta membros da Convergência (que tem constituído a oposição interna à atual direção) e outros descontentes com o rumo seguido pelo partido com Catarina Martins ao leme.
Esta moção será uma “federação” de várias alas insatisfeitas, uma vez que o partido, logo depois das legislativas de 2022, aumentou o número mínimo de subscritores para uma moção se apresentar à Convenção. Trata-se de uma “tendência centralista que esmaga minorias”, nas palavras de outro desalinhado, que não vê vantagens numa lista única: “Piora tudo. É uma batalha campal”.
A Renascença apurou que Pedro Soares não rejeita a possibilidade. Carlos Matias está no mesmo registo: “Está tudo em aberto. Não vou responder que sim nem que não”, diz à Renascença.
Mas há um dado certo: alguém irá avançar. Do lado da oposição, a promessa é a de que a atual direção não vai ficar a falar sozinha na Convenção. “Faremos tudo para que o debate seja vivo e que vá ao essencial dos problemas”, garante Matias.
“É difícil ser oposição interna no Bloco”, suspira outro opositor. Até a oposição interna pode estar a fraturar-se. A Renascença sabe que pelo menos dois membros antigos da Convergência bateram com a porta, apesar de não explicarem os motivos.
Numa perspetiva pessimista, antecipa-se uma luta difícil, que torna improvável uma verdadeira disputa com a moção da atual direção: "É aritmeticamente impossível. A Lista A tem o aparelho”, reconhece um insatisfeito.
Uma mensagem do BE chegou aos jornalistas na segunda-feira às 22h30. Antecipava-se apenas uma conferência de imprensa para o dia seguinte sobre a Convenção do partido.
Acabou por ser a notícia do dia: de forma inesperada, Catarina Martins anunciou que não iria recandidatar-se à liderança do Bloco de Esquerda, abandonando o lugar que agarrou há 10 anos.
Nessa manhã levantou-se imediatamente a questão: quem vai seguir-se? Quem é o nome escolhido pela atual direção (ou secretariado, como lhe chama o partido)?
Em resposta à Renascença, o atual líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, colocou-se de fora da corrida: “Não”, escrevia laconicamente o bloquista. Horas mais tarde, a eurodeputada Marisa Matias também fechava essa porta em entrevista à Rádio Observador.
A Renascença apurou, depois, que Mariana Mortágua é vista como a escolha “natural” e que deve avançar com uma candidatura “brevemente”. De lá para cá, a deputada entregou-se ao silêncio.