05 abr, 2023 - 16:51 • Ricardo Vieira e Manuela Pires (repórter parlamentar)
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Alexandra Reis já contactou pelo menos três vezes a TAP para devolver a indemnização, mas ainda não obteve qualquer resposta, revelou esta quarta-feira a ex-gestora na comissão parlamentar de inquérito.
"Logo na manhã seguinte à publicação do parecer da Inspeção-Geral de Finanças, a 7 de março, os meus novos advogados contactaram TAP sobre os montantes líquidos a devolver. Desde esse dia e até hoje, apesar das insistências feitas, três pelo menos, continuo a aguardar essa indicação para que se possa proceder à devolução", declarou Alexandra Reis.
A ex-gestora disse aos deputados que discorda dos argumentos da Inspeção-Geral das Finanças (IGF), que considerou ilegal a indemnização de 500 mil euros paga pela TAP.
"Decidi que, apesar da minha discordância e dos advogados que agora me representa, do parecer da IGF, que quero devolver", sublinhou.
Alexandra Reis garante que não tomou a iniciativa de sair da TAP e que foi a CEO da companhia aérea, Christine Ourmières-Widener, a convidá-la a deixar a empresa.
Explicou aos deputados que a 25 de janeiro de 2022 a CEO da companhia aérea informou-a que pretendia cessar o seu vinculo à empresa, "e que iria contactar uma sociedade de advogados para esse efeito, para que se acordassem os meus direitos e a minha saída".
"Acedi no dia seguinte, 26 de janeiro a essa solicitação porque não queria de forma alguma criar um problema institucional na comissão executiva da TAP, indica.
A IGF considera que a indemnização é ilegal, Alexandra Reis diz que confiou de "boa fé nos advogados da TAP".
Alexandra Reis admitiu na comissão parlamentar de inquérito que tinha ideias diferentes da CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener e referiu que, em alguns pontos, o tempo deu-lhe razão.
"Manifestei sempre de forma construtiva as minhas visões mesmo quando estas não coincidiam com as da nova CEO. Tem vindo a ser comentadas sete razões que levaram a essas divergências, algumas das quais o tempo veio-me dar razão."
Alexandra Reis fez um balanço do seu percurso na TAP, para garantir que sempre defendeu os interesses da companhia aérea, num contexto muito difícil como a pandemia de Covid-19.
A ex-secretária de Estado do Tesouro refere que a renegociação de contratos na pandemia resultou em poupanças de 130 milhões para a TAP.
Bernardo Blanco, da Iniciativa Liberal, perguntou se antes da audição desta quarta-feira esteve em alguma reunião com deputados do PS ou membros do Governo.
“Sr. deputado, não reuni com nenhum deputado de nenhum partido político nem membro do Governo”, respondeu Alexandra Reis.
A questão foi colocada depois de na terça-feira ter sido revelado que Christine Ourmières-Widener reuniu-se com deputados socialistas antes de uma audiência parlamentar.
Questionada pelos deputados, Alexandra Reis disse que, quando foi convidada para secretária de Estado do Tesouro, nunca falou com o ministro das Finanças, Fernando Medina, sobre a saída da TAP.
"Quando fui convidada para secretária de Estado, não falámos do meu processo de saída da TAP, nós não falámos sobre a indemnização", afirmou Alexandra Reis, em resposta ao deputado Bernardo Blanco, da IL, na comissão de inquérito à companhia aérea.
O deputado liberal perguntou à ex-secretária de Estado do Tesouro como é que Fernando Medina conhecia as razões para a saída da TAP, embora tenha dito que não sabia da indemnização, ao que Alexandra Reis respondeu apenas: "Não sei".
Alexandra Reis foi questionada sobre o convite para o cargo de secretária de Estado do Tesouro e como era a relação com a mulher de Fernando Medina, que também trabalhou na TAP, nos serviços jurídicos.
"A minha relação com a esposa do Sr. ministro das Finanças era estritamente profissional e muito boa. Tenho-a em boa conta como excelente advogada e sempre trabalhei bem com ela, mas foi sempre uma relação profissional", declarou a ex-gestora.
Não tinha relação social, não era visita de casa? “Sem dúvida, não sei onde mora”, respondeu Alexandra Reis.
Ao contrário do que declarou a CEO da TAP no dia anterior, Alexandra Reis garante que nunca sentiu pressão política enquanto trabalhou na companhia aérea.
"Confesso que não. Sentíamos enquanto comissão executiva e conselho de administração um grande escrutínio público, uma empresa que tem sempre nível de atenção muito grande pelos media, mas nunca senti interferência política para a decisão do negócio A ou B, não posso dizer de forma alguma que o tenha sentido", referiu a antiga administradora.