Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Análise política

O ajuste de contas

10 abr, 2023 - 23:08 • Susana Madureira Martins, editora de política da Renascença

Fora do Governo, Pedro Nuno Santos torna-se a diversão perfeita para desviar as atenções do ministro das Finanças. E se a estratégia for sacrificar o ex-ministro das Infraestruturas para poupar Fernando Medina? Pode não ser fácil, mas é útil.

A+ / A-

Pedro Nuno Santos pretende ficar em silêncio até setembro, altura em que quer reassumir o lugar de deputado e iniciar o espaço de opinião na SIC. Pretende ficar em silêncio, mas vai conseguir? Com uma comissão parlamentar de inquérito que cada vez mais gira em torno do ex-ministro das Infraestruturas é difícil imaginar que aguente o silêncio até lá.

E também é difícil imaginar que tal silêncio se aguente mais seis meses, tendo em conta que até lá deverá ser chamado pelos deputados para a audição no inquérito à TAP. Pedro Nuno sempre foi explosivo e sem papas na língua. É difícil que, perante os deputados, mantenha um discurso de meias tintas ou um "não sei, não me lembro" tão próprio destas sessões.

A cada episódio em torno da saída de Alexandra Reis da TAP, Pedro Nuno fica cada vez mais fragilizado e mais isolado. Hugo Mendes não era secretário de Estado de mais nenhum outro ministro.

O ex-ministro poderá sempre dizer que não é responsável por atos de um seu secretário de Estado. Mas será difícil a Pedro Nuno convencer os deputados que o email de Mendes dirigido a Christine Ourmières a pedir um voo ao gosto do Presidente da República foi enviado à sua revelia.

Será também difícil de explicar a mensagem do mesmo secretário de Estado à CEO da TAP com um "ok" do ministro das Infraestruturas ao valor da indemnização a Alexandra Reis.

A questão é: será fácil a Pedro Nuno Santos começar a disparar em vários sentidos, incluindo no do Governo, se se sentir absolutamente isolado e acossado internamente? É possível, mas não é fácil, sobretudo para quem mantém a ambição de sucessão na liderança do PS.

É fácil pensar num Pedro Nuno feito monge budista e muito calmo a ler um take da Lusa com declarações do primeiro-ministro a arrasar-lhe o ex-secretário de Estado e a deixar uma frase sibilina sobre o relacionamento institucional do ministro com a administração cessante da TAP? É muito difícil.

Será também fácil pensar num Pedro Nuno muito calmo a ler no jornal Observador que António Costa está "furioso" com ele e que o primeiro-ministro o considera "desaparecido em combate" enquanto o ferro malha bem quente na TAP? Igualmente muito difícil.

Somando todas as trapalhadas em que se viu envolvido na TAP, o episódio do novo aeroporto de Lisboa em que foi desautorizado em toda a linha e conhecendo o gigante sentido de sobrevivência do primeiro-ministro, como é que Pedro Nuno Santos não estava à espera que Costa fosse implacável na hora certa, quando se trata, precisamente, da sobrevivência do Governo e do próprio.

Com Pedro Nuno fora do executivo, com a oposição e Marcelo de olhos postos em Fernando Medina nesta comissão de inquérito, o ex-ministro das Infraestruturas torna-se a diversão perfeita para desviar as atenções do ministro das Finanças. E se a estratégia for a de para poupar Medina sacrificar de vez Pedro Nuno? Pode não ser fácil, mas é útil.

Se for este o caso, Pedro Nuno não terá, entretanto, nada a perder. Numa versão português suave o ex-ministro poderá sempre dizer que não pode ser responsabilizado por tudo o que decidiu o secretário de Estado, que este não é uma extensão sua. Numa versão mais bruta pode alegar que, em última instância, a responsabilidade também é do primeiro-ministro.

Tudo depende de como o jogo decorrer. Resta saber se o ex-ministro quer entrar nesse jogo e se para não ficar com o ónus de todos os males da TAP entra num ajuste de contas com o líder do PS e primeiro-ministro. E já agora com Medina, que é sabido que Pedo Nuno não adora.

O PS a desfazer-se à vista com Marcelo à coca e a ameaçar com a dissolução do Parlamento semana sim, semana não, seria, esse sim, o pior dos pesadelos para o Governo e para a maioria absoluta.
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+