15 jun, 2023 - 14:34 • Lusa
O ex-ministro Pedro Nuno Santos assumiu esta quinta-feira que a indemnização a Alexandra Reis foi um processo “que objetivamente correu mal”, apesar de ter representado menos de 1% do trabalho que o ministério teve na TAP.
Na intervenção inicial na audição que decorre esta tarde na comissão parlamentar de inquérito à TAP, Pedro Nuno Santos começou por referir que esta audição é “mais difícil” do que a da semana passada na comissão de economia e com “temas desconfortáveis”, mas sublinhou a importância de ter a oportunidade de poder falar e se poder defender depois destes meses de silêncio.
“A indemnização a Alexandra Reis é menos de 1% do trabalho que tivemos na TAP, é menos de 0,1% do trabalho que tivemos no ministério, mas foi um processo que objetivamente correu mal”, assumiu.
O ex-ministro admitiu que o valor da indemnização paga a Alexandra Reis “é alto em qualquer país do mundo” e em “Portugal ainda mais”.
“Mas numa empresa onde os salários dos administradores são altos, onde temos trabalhadores que também ganham muito, alguns mais do que vogais do Conselho de Administração e, por isso, a indemnização - sendo um valor alto - é conducente com os salários pagos naquela empresa, tal como na Caixa Geral de Depósitos, quando pagaram um milhão de euros a um ex-administrador e 750 mil euros a outro”, sublinhou.
Em resposta a questões do deputado da IL Bernardo Blanco na comissão de inquérito à TAP, sobre um ‘email’ enviado por Alexandra Reis a colocar o cargo à disposição, anterior à saída com a indemnização de 500 mil euros, e ao qual Pedro Nuno Santos não respondeu, o ex-ministro disse lamentar o que aconteceu à ex-administradora.
“A engenheira Alexandra Reis era um quadro da TAP competentíssimo, altamente competente, inteligente, trabalhadora, lamento muito isto que lhe aconteceu e espero que consiga refazer-se rapidamente, porque será útil a quem quiser trabalhar com ela”, afirmou o ex-ministro que se demitiu na sequência da polémica indemnização.
Pedro Nuno Santos defendeu que aquele ‘email’ nada tem a ver com a saída de Alexandra Reis.
“Infelizmente, há de haver mais ‘emails’ aos quais não respondi. […] A questão para mim estava resolvida, a engenheira Alexandra Reis põe o lugar à disposição, no mesmo ‘email’ diz que quer continuar, nós não tínhamos nenhuma razão para a substituir e não partiu de nós a iniciativa de substituição”, afirmou.
O ex-governante reiterou que Alexandra Reis saiu da TAP, não por estar de mal com o acionista (Estado) ou por ser incompetente, mas porque a então presidente executiva, Christine Ourmières-Widener, queria alterar a sua equipa, que só tinha um elemento escolhido por si, e entendia que aquela administradora não tinha lugar na nova configuração.
Pedro Nuno Santos disse ainda que a autorização a Ourmières-Widener para avançar com a substituição foi dada por si, numa reunião a sós com a ex-CEO, em 04 de janeiro de 2022, e que o primeiro comunicado de demissão do Governo foi feito com a memória daquele momento.
“Logo que identifiquei a mensagem [a dar anuência ao valor de 500.000 euros], eu tornei-a pública”, acrescentou.
Já sobre a participação do ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, na reunião com a TAP em que foi preparada a resposta ao despacho ministerial para perceber a questão da saída da ex-administradora, Pedro Nuno Santos disse apenas ter tido conhecimento pela comunicação social.
Já na fase de respostas às perguntas dos deputados, Pedro Nuno Santos rejeitou que tenha havido interferência política na TAP, considerando que as audições na comissão de inquérito o comprovam, reiterando que os governantes “não se comportam como gestores”.
“Ao longo destas dezenas de audições, o que se consegue comprovar […] é que não há interferência na gestão corrente da TAP”, afirmou o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação.
Pedro Nuno Santos, que está pela segunda vez no espaço de poucos dias a ser ouvido no parlamento sobre a TAP, apontou uma “exceção que confirma a regra”, em relação à polémica em torno da substituição da frota automóvel da companhia aérea, em que o Governo, “provavelmente errado”, pediu à empresa para pensar numa alternativa, tendo em conta a dimensão política que o caso ganhou.
“Eu não percebo de aviação e sabia que no dia em que começasse a dar instruções na gestão da empresa as coisas iam correr mal”, sublinhou o ex-governante, que se demitiu na sequência da polémica indemnização de 500 mil euros paga à ex-administradora da companhia Alexandra Reis.
Pedro Nuno Santos recordou as declarações da ex-presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, sobre ter sentido pressão política enquanto esteve em funções, mas apontou que a gestora, “em nenhum momento”, se referia a si.
O ex-ministro leu excertos de intervenções passadas no parlamento em que afirmou: “O Estado comporta-se como acionista e os ministros não se comportam como gestores”.
Pedro Nuno Santos assumiu ter responsabilidades na perceção de interferência na empresa, “que não corresponde à realidade”, pela forma como se entregou a este tema e pela defesa da empresa no seu “estilo” e “registo”.
“Entreguei-me de corpo e alma ao dossiê da TAP, […] eu queria que as coisas corressem bem, dei a cara, dei o corpo às balas, entreguei-me pela empresa, mas sabia que a melhor forma para coisas correrem bem era não me meter na gestão”, referiu.
[atualizado às 15h51]