27 jun, 2023 - 06:20 • Tomás Anjinho Chagas
José Miguel Júdice acredita que António Costa não afastou liminarmente a possibilidade de abandonar o cargo de primeiro-ministro antes do final do mandato. Em declarações à Renascença, o advogado e comentador sublinha que, na frase citada ontem, segunda-feira, pelo jornal Público, o chefe do Governo não exclui essa possibilidade.
"Não é verdade que [António Costa] tenha dito que não vai on the record. O que ele disse é que era o que faltava que fosse, porque ele considera que é o garante da estabilidade. O que se pode concluir é: se um dia ele achar que a estabilidade está garantida, pode ir. Ou se quiser ir, pode dizer que a estabilidade está garantida", tece o comentador à margem do Estoril Political Fórum, organizado pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa.
Júdice - que foi mandatário de Costa na corrida à Câmara de Lisboa em 2007- acredita que "a situação não é muito clara" e assume que o primeiro-ministro pode abandonar o cargo antes do final da legislatura, mas desenha três condições para isso acontecer: se o PS tiver um bom resultado nas [eleições] europeias; se for efetivamente convidado; e se o seu sucessor for alguém que "ele queira" que seja candidato.
Apesar da projeção, José Miguel Júdice, atual comentador da SIC e que chegou a ser militante do PSD, assume que há um fator de imprevisibilidade na personalidade do primeiro-ministro.
"Isto é estar a tentar entrar na cabeça de um homem que é conhecido por deixar muitas falsas pistas. Isso faz parte da sua estratégia: baralhar e voltar a dar."
"No meio da confusão, [Costa] pode dizer: isso é a espuma dos dias, os casos e casinhos, e eu sou o garante da estabilidade", afirma o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, que admite que este episódio pode ter sido encenado.
"Na política tudo é encenado e espontâneo, não é possível prever nada a mais de um dia. Não há dúvida de que há uma enorme lógica de encenação de António Costa na política, ele é muito bom nisso", remata o comentador que trabalhou com o atual primeiro-ministro em 2007.
Sobre a presença deste tema no habitat político-mediático, José Miguel Júdice acredita que o debate vai manter-se de pé, e acredita que o Presidente da República fez bem em corrigir o tiro ao deixar cair as ameaças de dissolução do Parlamento. "Toda esta ideia de 'agarrem-me que mato, se calhar eu vou dissolver', não faz sentido nenhum. E o Presidente da República já percebeu."
Júdice até fala numa nova fase da já longa relação entre São Bento e Belém. "Está a aproximar-se da relação 'tão amigos que nós éramos, não somos?'," ironiza o advogado e comentador.