27 jul, 2023 - 21:47 • Lusa
O líder parlamentar do PSD considera que o ministro dos Negócios Estrangeiros está "muito fragilizado" e acusou-o de ter omitido "informação relevante" ao parlamento, considerando que o primeiro-ministro tem que explicar se mantém a confiança no governante. A Iniciativa Liberal (IL) defende a demissão de João Gomes Cravinho.
"O que aqui é importante é que o primeiro-ministro venha esclarecer o que se passou e venha dizer se mantém a confiança política no seu ministro dos Negócios Estrangeiros, apesar de ele estar muito fragilizado e ainda por cima, sendo ministro e ministro de uma área de soberania, é para nós bastante grave", disse, em declarações à agência Lusa Joaquim Miranda Sarmento.
Segundo o social-democrata, "o PSD não costuma pedir a demissão de ministros porque a formação do Governo é uma competência do senhor primeiro-ministro".
"O senhor primeiro-ministro é que tem que vir explicar se mantém a confiança no seu ministro dos Negócios Estrangeiros e se acha normal ter um ministro, ainda para mais numa área de soberania, visado em tantos casos e com tantas situações por esclarecer", enfatizou.
Interrogada se esse tipo de grupos de trabalho inf(...)
Miranda Sarmento afirmou que João Gomes Cravinho, "na qualidade anterior de ministro da Defesa, tem já várias situações que o fragilizam muito do ponto de vista político", dando como exemplos as obras do Hospital Militar e os casos envolvendo o ex-secretário de Estado da Defesa Marco Capitão Ferreira.
"É importante lembrar que o senhor ministro esteve no parlamento a semana passada e omitiu informação relevante à Assembleia da República, nomeadamente o trabalho em paralelo, simultâneo e direto, com Marco Capitão Ferreira para o gabinete do então ministro da Defesa", acrescentou.
Para o líder parlamentar do PSD, todos estes casos mostram "a fragilidade política em que o ministro está porque, de facto, ele tem uma proximidade muito grande" a Capitão Ferreira, estando "implicado e envolvido" em todos estes processos que envolvem o antigo secretário de Estado.
Parlamento
"Eu não conhecia o professor Marco Capitão Ferreir(...)
A IL defende que o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, “tem de sair do Governo”, considerando que “teve todas as oportunidades para clarificar” a sua relação com o ex-governante Marco Capitão Ferreira.
“Sendo verdade todos os factos que estão relatados, em detalhe, nesta reportagem [da Visão] não há de todo condições para João Gomes Cravinho continuar como ministro dos Negócios Estrangeiros do atual Governo, porque já não é uma questão de responsabilidade política, é também uma questão da dignidade do Estado português”, disse, em declarações aos jornalistas no parlamento, o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva.
Agora que foram divulgados mais “episódios relativamente àquilo que é o envolvimento de Marco Capitão Ferreira e a relação com o ministro João Gomes Cravinho”, o liberal considerou que Portugal não pode ter a “representar o Estado uma pessoa que tem suspeitas como aquelas que estão em torno de quando era ministro da Defesa”.
“Há uma relação muito próxima entre Marco Capitão Ferreira e João Gomes Cravinho. Não podemos ter uma pessoa envolvida neste enredo a representar o Estado português por esse mundo fora. Não há condições. João Gomes Cravinho tem de sair do Governo”, insistiu.
Segundo Rodrigo Saraiva, “João Gomes Cravinho teve todas as oportunidades para clarificar a sua relação com Marco Capitão Ferreira”.
“Esta comissão informal, esta comissão fantasma, como o próprio Capitão Ferreira a designa, esteve reunida com João Gomes Cravinho no dia 5 de Abril [de 2019]. Portanto, João Gomes Cravinho não pode refugiar-se nessa desculpa de que ‘aí não me perguntaram’", acrescentou ainda.
Segundo a edição da Visão de hoje, entre fevereiro e março de 2019, Marco Capitão Ferreira assessorou a Direção-Geral de Recursos e Defesa Nacional no contrato relativo aos helicópteros EH-101 ao mesmo tempo que trabalhou para o gabinete do então ministro da Defesa, integrado numa alegada "comissão fantasma" que tinha como objetivo realizar um estudo.
Marco Capitão Ferreira demitiu-se de secretário de Estado da Defesa no início de julho, no dia em que foi constituído arguido no âmbito da operação "Tempestade Perfeita", suspeito dos crimes de corrupção e participação económica em negócio, e alvo de buscas, que também ocorreram nas instalações da Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional.
Marco Capitão Ferreira tomou posse como secretário de Estado da Defesa Nacional em março de 2022, desde o início do atual Governo, e antes foi presidente do conselho de administração da idD Portugal Defence, a "holding" que gere as participações públicas nas empresas da Defesa - cargo que assumiu em 2020 e para o qual foi nomeado por Gomes Cravinho.
Na audição no parlamento, na passada sexta-feira, o antigo ministro da Defesa e atual ministro dos Negócios Estrangeiros assegurou que não indicou Marco Capitão Ferreira para a polémica assessoria prestada à Direção-Geral de Recursos da Defesa, remetendo a responsabilidade para o antigo responsável Alberto Coelho.