02 set, 2023 - 18:06 • Lusa
O secretário-geral do PCP considera que a posição assumida pelo Presidente da República quando visitou a Ucrânia contribui para um caminho de "mais armas" e "mais mortes", apontando que não deixou "nem uma palavra de paz".
"Eu acho que o senhor Presidente da República, a partir das opções naturalmente que tem, fez uma opção, uma opção de reafirmar todos os caminhos que, no fundo, têm instigado a guerra. Eu penso que não é isso que serve nem ao povo português, e muito menos ao povo ucraniano e ao povo russo", afirmou Paulo Raimundo.
O líder do PCP falava aos jornalistas no segundo dia da Festa do Avante!, à margem de uma visita à bienal de artes plásticas.
Instado a clarificar como é que o Presidente da República, com a sua visita à Ucrânia, instigou a guerra, Paulo Raimundo afirmou: "Eu não disse que instigou, o que eu disse foi que tudo aquilo que afirmou, todos os posicionamentos que teve, acabaram por contribuir neste caminho, que é um caminho de mais armas, mais munições, mais destruição e a consequência disso, mais mortes".
"Nem uma palavra da paz, que é aquilo que a gente precisa", criticou.
O Presidente da República visitou a Ucrânia na semana passada e defendeu, perante o Presidente Volodymyr Zelensky, que o futuro daquele país será "na União Europeia e na NATO".
O PCP foi o único partido que se opôs à ida de Marcelo Rebelo de Sousa àquele país em guerra.
O secretário-geral comunista reafirmou hoje a posição do partido: "Nós não dissemos que não concordávamos, o que nós dissemos foi uma coisa simples: se a visita do Presidente da República à Ucrânia contribuir para a construção do caminho da paz, então muito bem, faz sentido, se for envolvida numa dinâmica de construção e de instigação da guerra, então não serve para nada".
Paulo Raimundo realçou que a posição do partido "é a posição de sempre, pela paz, e fazer tudo para a construção da paz".
"É uma posição está a ganhar espaço e vai ganhar o espaço maioritário na sociedade portuguesa, não há dúvida, porque o povo quer a paz, não quer a guerra", defendeu, considerando ser necessário que "os órgãos, em particular os órgãos de soberania nacionais, invistam na paz e não na guerra".
O líder comunista considerou que "é preciso forçar que todos os intervenientes na guerra se sentem à mesa", apontando que as conversações podem ser mediadas por países como o Brasil, China, Índia ou até pelo Vaticano, "que já predispuseram" a isso e são nações que se pronunciaram no "sentido da construção da paz".
"Eu acho que não é por falta de vontade desses que a guerra continua, acho que é por vontade daqueles que insistem na instrução da guerra, que é um desastre, em particular para o povo ucraniano e para o povo russo, mas com consequências para cada um de nós, como nós sabemos", defendeu.
"A partir do momento em que temos uma parte significativa de chefes de Estado de países de grande importância que conseguem falar duas, três, quatro, cinco, mil vezes sobre o assunto sem utilizar uma vez a expressão paz, sem abrir um único caminho que seja para a paz, eu acho que isso é uma evidência que por aí não vamos", criticou.
Apesar da crítica, o secretário-geral do PCP indicou que a Festa do Avante! tem as portas abertas para Marcelo Rebelo de Sousa, assim como outros atores políticos, como o ex-ministro Pedro Nuno Santos, salientando que ambos já marcaram presença na "rentrée" comunista noutros anos.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou, de acordo com os mais recentes dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.