Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Ex-presidente da Transtejo. "Levo uma chapada do Tribunal por defender interesse público"

13 set, 2023 - 20:25 • Manuela Pires

Marina Ferreira foi ouvida esta quarta-feira no Parlamento, onde falou sobre o caso dos barcos comprados sem baterias. Disse que a linguagem usada pelo Tribunal de Contas foi jocosa e inédita e garantiu que a administração da Transtejo “não era inepta, sempre defendeu o interesse público e foi muito corajosa na decisão de comprar novos navios elétricos”.

A+ / A-

Cinco meses depois da demissão, a antiga presidente da Transtejo teceu duras críticas ao relatório do Tribunal de Contas (TdC) que chumbou a compra, por ajuste direto, de baterias para navios elétricos novos.

Marina Ferreira disse que a linguagem usada foi jocosa e inédita do Tribunal e garantiu que a administração da Transtejo “não era inepta, sempre defendeu o interesse público e foi muito corajosa na decisão de comprar novos navios elétricos”.

A gestora garantiu que todo este processo foi muito desgastante e que, por defender o interesse público, levou uma "chapada" do Tribunal de Contas, que levaria à sua demissão em abril deste ano.

“Foi um desgaste enorme, desgaste ditado pelo interesse dos passageiros, e levo uma chapada destas do Tribunal de Contas. Mentir ao Tribunal, mas eu sou maluca para mentir ao tribunal?”, declarou Marina Ferreira, concluindo que “então, para não mentir ao Tribunal, faz tudo como estava, mesmo que seja pior para o interesse público. É isso que nós queremos?”.

A antiga gestora da Transtejo levou uma declaração inicial que durou mais de 30 minutos a ler, onde explicou todo o processo de aquisição dos novos navios e a decisão de comprar as baterias num outro contrato e por ajuste direto.

Durante duas horas e meia, Marina Ferreira garantiu aos deputados que tudo o que fez foi em nome do interesse público e dos passageiros da Transtejo. Continua a defender a compra dos navios elétricos, garante que não se trata de experimentalismo, mas sim de inovação.

OuvirPausa
"Mentir ao Tribunal, mas eu sou maluca?", diz Marina Ferreira

A gestora disse ainda aos deputados que a decisão foi tomada com base em vários estudos e pareceres e que foi uma decisão fundamentada e ponderada, recusando por isso a ideia de “experimentalismo”.

Ao longo da audição, a antiga presidente do conselho de administração da Transtejo acabou por reconhecer que se fosse hoje teria feito de forma diferente.

“Olhe, tinha ficado quietinha, tinha feito o que muita gente faz, tinha dito que não há dinheiro, que os barcos não funcionam. Todo este processo foi um grande desgaste para toda a equipa. Eu ganhei todos estes cabelos brancos”, disse aos deputados.

Os deputados questionaram sobre a opção pela compra dos navios elétricos. A antiga presidente do conselho de administração explicou as vantagens, uma delas a manutenção é muito menor do que nos atuais cacilheiros.

“Eu acho que vamos ficar todos muito contentes quando os navios começarem a trabalhar, porque eu já tive a oportunidade de andar num desses navios (no Cegonha Branca) e, de facto, é uma experiência de navegação que não tem paralelo. Vai ser um grande sucesso de transporte público”, garantiu Marina Ferreira.

Questionada sobre qual foi a posição da tutela neste processo, Marina Ferreira reconheceu que foi pressionada pelo ministro do Ambiente da altura, Matos Fernandes, mas que a decisão de comprar os navios elétricos e a opção do contrato de aquisição das baterias, por ajuste direto, foi da Transtejo e que o Governo não “ficou confortável com a decisão”.

Marina Ferreira demitiu-se da Transtejo na sequência do relatório do Tribunal de Contas que chumbou a compra pela Transtejo, por ajuste direto, de baterias para nove navios elétricos novos e considerou que foi enganado pela empresa quando aprovou a compra dos catamarãs, remetendo o caso para o Ministério Público.

"A Transtejo comprou um navio completo e nove navios incompletos, sem poderem funcionar, porque não estavam dotados de baterias necessárias para o efeito. O mesmo seria, com as devidas adaptações, comprar um automóvel sem motor, uma moto sem rodas ou uma bicicleta sem pedais, reservando-se para um procedimento posterior a sua aquisição", considerou o Tribunal de Contas.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Ramos
    15 set, 2023 Almada 17:59
    Li na integra o relatório do Tribunal de Contas e vi agora a audição da ex-PCATT, Marina Ferreira. Excelente desempenho, muito convincente. Não sendo a comunicação o seu forte, até nesse aspecto surpreendeu (é mais fácil falar a título pessoal que falar como PCATT?), conseguindo desatar o nó que lhe ia na garganta ao convencer todos os presentes. Recuperou a idoneidade que aliás nunca devia ter sido posta em causa daquela maneira pelo TC, há limites...

Destaques V+