08 nov, 2023 - 17:37 • Lusa
O presidente da IL afirmou hoje que a demissão de António Costa foi "o preço político" pelas suas "escolhas pessoais e políticas", e não aconteceu devido ao inquérito autónomo que tem o primeiro-ministro como alvo.
Rui Rocha falava aos jornalistas no Palácio de Belém, onde o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, está hoje a ouvir os oito partidos com assento parlamentar para uma eventual dissolução do parlamento, após a demissão do primeiro-ministro, na terça-feira.
Questionado sobre a atuação da justiça nas investigações em curso sobre projetos de lítio e hidrogénio, Rui Rocha considerou estar em curso "uma tentativa, nas últimas horas, de justificar a saída" do primeiro-ministro apenas centrada no inquérito autónomo de que é alvo.
"Sei que o primeiro-ministro está focado no parágrafo da investigação sobre ele próprio, mas o que eu pergunto é se não existisse esse parágrafo tinha António Costa condições para continuar primeiro-ministro? Na minha opinião não tinha de todo", disse, considerando que são apontados "factos muito graves" a pessoas do "círculo íntimo" do chefe do Governo.
Para Rui Rocha, "o essencial é que António Costa fez escolhas pessoais, escolhas políticas, de amigos pessoais, do seu chefe de gabinete e um investimento de confiança completamente desproporcionado no ministro João Galamba".
"E isso tinha um preço político que era não poder continuar primeiro-ministro face à investigação em curso", defendeu.
O líder da IL considerou que não pode haver "uma intermitência sobre as questões de justiça", e dizer "nuns casos que o Ministério Público age com um propósito e noutros com outro".
"Mas não quero questionar sistematicamente a confiança nos agentes da justiça. Às vezes, a justiça não funcionará bem, mas pior do que isso seria a politização da justiça", disse.
A operação de terça-feira do Ministério Público assentou em pelo menos 42 buscas e levou à detenção de cinco pessoas: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa.
O ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, foram constituídos arguidos.
Este processo visa as concessões de exploração de lítio de Montalegre e de Boticas, ambos em Vila Real; um projeto de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, Setúbal, e o projeto de construção de um "data center" na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus.
António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos nos negócios investigados.