18 nov, 2023 - 15:09 • Susana Madureira Martins
Ao contrário do que é habitual, o ex-secretário-geral do PS Ferro Rodrigues interveio na Comissão Nacional do partido, que decorreu este sábado num hotel em Lisboa, e onde fez duras críticas ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal de Justiça.
Ferro Rodrigues acusou mesmo a justiça de ter interrompido o curso do Governo PS. "O Governo de maioria absoluta que o PS conquistou contigo [António Costa] ao leme foi destruído por atos e omissões da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal de Justiça, pelo menos", disse o ex-líder.
Nesta intervenção, Ferro Rodrigues refere mesmo que a dissolução do Parlamento não surgiu por "força das oposições, seus argumentos ou gritos. Não foi por défice de vontade ou de empenhamento" do primeiro-ministro, António Costa.
O ex-líder do PS foi mais longe referindo que "esta crise, a mais grave da nossa Democracia quase no cinquentenário, foi originada por um comunicado irresponsável, ou consciente dos efeitos que produziria, ou então analfabeto de responsabilidade da PGR, referindo o Supremo Tribunal de Justiça".
Na intervenção à porta fechada e a que a Renascença teve acesso, Ferro Rodrigues lamentou que António Costa "nem sempre" tenha sabido rodear-se "por pessoas irrepreensíveis para cumprimento do programa" do Governo.
Neste ponto, o ex-secretário-geral do PS pediu ao partido que tem de se "reforçar" com "bons quadros", não nomeando, contudo, os quadros socialistas que neste Governo não foram "irrepreensíveis".
Comissão nacional do PS
À margem da Comissão Nacional do PS, o primeiro-mi(...)
Como Augusto Santos Silva já o fez, também Ferro Rodrigues diz que se "exige que os mesmos que levaram à demissão" de Costa "com toda a urgência" o "ilibem de quaisquer responsabilidades".
Face aos pedidos de Pedro Nuno Santos de não passar "quatro meses a falar do processo judicial" que envolve o primeiro-ministro, Ferro Rodrigues distancia-se dessa posição. "Não posso nem devo acolher essas orientações", diz taxativo, "porque há que pedir responsabilidades".
Ferro deixa ainda críticas à procuradora-geral da República e a Adão Carvalho, o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. "Não é admissível que perante tão grave crise a voz da PGR seja a do Sindicato" e "porque não é compreensível o silêncio do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça".
O ex-secretário-geral socialista rematou a intervenção dizendo que defende tudo isto porque viu e viveu "um filme parecido há 20 anos" durante o processo Casa Pia que o envolveu diretamente e à cúpula do PS.
Na parte final da intervenção, Ferro apertou ainda mais um pouco o parafuso ao sistema judicial. "Quando uma 'Justiça' sem rosto põe em causa a Democracia política, sinto o dever de a pressionar para ser clara, transparente, identificável".
Sem declarar apoio a qualquer dos três candidatos à liderança do PS - José Luís Carneiro, Pedro Nuno Santos e Daniel Adrião - o ex-líder socialista alertou que a campanha deve decorrer "sem pôr qualquer dos candidatos a secretário-geral debaixo do fogo dos justicialistas" e sem "pôr o PS em maior perigo do que está".
Aos três candidatos, o antigo Presidente do Parlamento pede ainda que "sejam capazes de uma campanha à PS", onde impere "a dignidade" e a "afirmação democrática" e o "amor" a Portugal, à democracia e ao partido.