11 dez, 2023 - 10:21 • João Carlos Malta
O primeiro-ministro do Governo em gestão, António Costa, numa entrevista à CNN, esta segunda-feira de manhã, à porta de São Bento, atirou-se à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, e ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pelo papel que desempenharam na queda do Governo.
“Eu hoje faria exatamente o mesmo que fiz no dia 7. O que pode é perguntar a quem fez o comunicado e a quem tomou a decisão posterior de dissolver a Assembleia da República se fariam o mesmo perante o que sabem hoje”, disparou Costa.
Costa acrescentou que sabe “exatamente” o mesmo que sabia antes sobre este processo e não foi ouvido por ninguém sobre o tema. “Não sei, em bom rigor, qual a suspeita que levou à existência desse processo”, explicou.
"Posso estar magoado, mas não sou rancoroso", António Costa.
“Tenho a certeza que mais tarde do que a minha vida gostaria, mas no tempo que a justiça entende como próprio se há-de esclarecer tudo. E eu não tenho dúvidas qual a decisão final. Como sei que nada fiz de errado, que nada deixei fazer de errado, o resultado há-de ser ou uma não acusação, ou um arquivamento ou a minha absolvição”, resumiu.
Numa declaração ao país, realizada este sábado ao (...)
Em relação a Lucília Gago voltou à carga, defendendo que esta "enxertou" um parágrafo no comunicado do processo da Operação Infuencer. "Aquele parágrafo foi determinante", enfatizou. Costa não acredita que não haja indícios fortes para a PGR entender comunicar a existência de um processo contra o primeiro-ministro.
“Não me passa pela cabeça que as suspeitas não fossem suficientemente fortes para a PGR abrir um processo e deviam ser mesmo muito fortes para ter entendido que era seu dever” comunicar ao país.
Costa declarou ainda ter ficado magoado com os acontecimentos que levaram à sua demissão, mas sublinha que não vai guardar rancor. Nas mesmas declarações à CNN, Costa avaliou: "Posso estar magoado, mas não sou rancoroso". Antes já tinha dito: "Se me pergunta se estou magoado? Estou. Quem não se sente não é filho de boa gente".
Sobre a forma como o nome de Costa veio a público e sobre a invetsigação do processo Influencer, António Costa começou por dizer que “ninguém está acima da lei. Nem o primeiro-ministro está acima da lei”.
“Não me passa pela cabeça que as suspeitas não fossem suficientemente fortes para a PGR abrir um processo e deviam ser mesmo muito fortes (....)"
Mas logo a seguir, lançou mais uma farpa à PGR. “Eu acho normal que se há uma suspeita, essa suspeita seja investigada. Se me pergunta se eu acho normal que seja publicitada a existência da suspeita sem que sejam praticados os atos de investigação suficientemente sólidos que permitam que seja posta publicamente em causa a idoneidade de uma pessoa, é algo que a justiça deve refletir sobre si própria”, diz.
Em seguida acrescentou: “Nunca ninguém pôs em causa a minha dignidade e a minha honestidade ou sequer se pratiquei ou não qualquer tipo de crime. Ninguém ao fim de uma vida inteira gosta de ser colocado nesta posição”.
"Não tenho dúvida sobre qual o final da história. Não tive nenhum benefícios de decisão que tenha tomado ao longo destes 30 anos. Aguardo serenamente”, concluiu.
O mesmo António Costa, recordando que desempenha funções executivas desde 1995 de forma quase ininterrupta, afirmou ainda que "ninguém ao final de uma vida inteira, gosta de estar nesta situação". O líder da maioria agora dissolvida afiançou "estar de consciência tranquila".
Num plano político, disse também "ser frustrante ver interrompido pela segunda vez uma legislatura".
Sobre os momentos que antecederam o pedido de demissão, Costa conta ainda que a ponderou antes, mas que, se não tivesse existido um comunicado da PGR, “provavelmente aguardaria pela conclusão da avaliação do juiz de instrução dos indícios que existiam”.
E adiantou ainda que dias mais tarde esse juiz determinou não existirem indícios da existência dos crimes mais graves.
"Não tenho dúvida sobre qual o final da história. Não tive nenhum benefícios de decisão que tenha tomado ao longo destes 30 anos"
Mas depois de o comunicado ter-se tornado público, ficou sem alternativa, porque a função que desempenha tem também uma dimensão institucional. "Não creio que ninguém ache normal que quem é primeiro-ministro possa estar sob suspeição oficial", disse.
Numa alusão ao futuro e parafraseando o cantor Sérgio Godinho, Costa disse: "Se ele não me levar a mal, é o primeiro dia do resto da minha vida".