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PCP

Centenas no funeral de Odete Santos, a comunista de que os "outros quadrantes políticos" gostam

28 dez, 2023 - 17:54 • Susana Madureira Martins

Estado maior comunista em peso no último adeus à ex-deputada Odete Santos, realizado em Setúbal. O Governo e o PS estiveram representados por Ana Catarina Mendes.

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Carlos Carvalhas, Jerónimo de Sousa e Paulo Raimundo. Todo o estado maior comunista, de forma mais ou menos discreta, fez questão de estar presente nas últimas horas de velório e depois no funeral de Odete Santos, a ex-deputada e militante de décadas do PCP falecida na quarta-feira.

Durante boa parte da tarde desta quinta-feira, algumas dezenas e depois centenas de pessoas, umas mais anónimas do que outras, juntaram-se à porta da igreja do Convento de Jesus, em Setúbal, para uma última homenagem à antiga parlamentar comunista.

Não passou despercebida a presença no velório da ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, dirigente socialista e antiga líder do PS de Setúbal, numa rápida passagem pelo Convento de Jesus.

Questionado pelos jornalistas pela ausência de outras personalidades públicas fora do mundo comunista no funeral, Bernardino Soares, antigo líder parlamentar do PCP, respondeu seco: "Não vejo que tenha havido poucas homenagens".

De resto, o entendimento do dirigente comunista é o de que Odete Santos é uma personalidade consensual fora do universo comunista. "Todas as reações de vários quadrantes foram elogiosas, merece esses elogios", responde Bernardino.

Odete Santos batalhou pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez com deputada e defendeu, em 2005, enquanto advogada, duas mulheres acusadas por esta prática quando ainda não estava regularizada, conseguindo a sua absolvição pelo Tribunal de Setúbal.

Nem por isso o assumidamente católico Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deixou de homenagear Odete Santos considerando-a uma "das mais carismáticas" deputadas do Parlamento. Ou ainda o bispo de Setúbal, cardeal D. Américo Aguiar, que elogiou o trabalho da antiga parlamentar em "prol de Portugal e dos portugueses".

É esse consenso geral que o universo comunista quer destacar. Bernardino Soares fala de "uma mulher que prestigiou o Parlamento e a advocacia", não apenas o partido, tratando-se de "uma referência para os que exercem advocacia e para os que fazem a política".

Bernardino, de resto, faz parte de uma geração mais jovem entre os comunistas que ainda apanhou Odete Santos no Parlamento. A geração a que o também ex-líder parlamentar do PCP João Oliveira pertence.

Junto ao Convento de Jesus, em Setúbal, João Oliveira realçou "a intervenção tão destacada e qualificada" de Odete Santos que "conduz a este reconhecimento geral da sociedade e de outros quadrantes políticos a que ela não pertencia".

Também para o futuro cabeça de lista do PCP às eleições europeias de junho, Odete Santos "é uma referência" pela "forma de intervir na política, na vida cultural", classificando-a como "uma mulher com grande cultura, de causas e de paixões".

Foi em silêncio que algumas centenas de pessoas apeadas acompanharam o carro funerário que transportou o caixão com o corpo de Odete Santos até ao cemitério da Piedade, também em Setúbal.

Antes, e à vista da urna coberta com a bandeira do PCP, o silêncio tinha sido quebrado por uma explosão de aplausos, talvez semelhante às que a também Odete-atriz ouviu no final de uma das suas participações teatrais.

Comentários
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  • Tomás Moro
    29 dez, 2023 Ponta Delgada 15:30
    Será que a RR não é mais contra o aborto? Vejamos esta linguagem politicamente correcta: "Odete Santos batalhou pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez [eufemismo hipócrita] com deputada e defendeu, em 2005, enquanto advogada, duas mulheres acusadas por esta prática quando ainda não estava regularizada [pasme-se esta linguagem!], conseguindo a sua absolvição pelo Tribunal de Setúbal." E os filhos que morreram também não eram gente?

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