05 jan, 2024 - 07:00 • Tomás Anjinho Chagas
Paulo Pedroso, ex-militante do PS que foi ministro no governo de António Guterres, acredita que a liderança de Pedro Nuno Santos não vai imprimir uma “mudança” no partido.
No dia em que se realiza o 24º Congresso do PS, o ex-dirigente socialista admite que pode haver um “afinar de algumas medidas” como a do “Fundo Medina” (que previa criar uma almofada para aplicar no pós-PRR), mas fala numa “continuidade” entre Costa e Pedro Nuno.
“Cada liderança tem o seu próprio programa, mas não creio que haja nenhuns sinais de que o PS esteja num processo de mudança de perfil ou estratégia”, resume Paulo Pedroso em declarações à Renascença.
Para explicar este alinhamento com o PS de Costa, o ex-ministro lembra que o Governo não caiu por “razões políticas” mas antes pelo facto de o primeiro-ministro (agora demissionário) ter sido implicado na Operação Influencer. Ou seja, equipa vencedora não se troca uma vez que os socialistas não foram derrubados nas urnas.
Em vez de uma mudança política, o ex-ministro acredita que a “grande mudança” que Pedro Nuno Santos vai trazer é uma “mudança de geração” das caras dos protagonistas do PS.
Para sustentar, Paulo Pedroso assinala que Pedro Nuno é 15 anos mais novo que António Costa, o que vai necessariamente renovar os quadros do partido com sede no Largo do Rato, em Lisboa.
O antigo militante socialista está à frente do Causa Pública, um think tank de esquerda que acolhe Alexandra Leitão, ex-ministra e atual deputada do PS, e que foi coordenadora da moção estratégica de Pedro Nuno Santos na corrida interna dos socialistas. Ainda assim, Paulo Pedroso rejeita que o novo PS seja mais fácil de influenciar nas políticas públicas até porque, garante, esse não é o objetivo deste grupo de reflexão.
A outra mudança que Paulo Pedroso admite estar a assistir é no próprio novo secretário-geral do PS. Rejeitando que Pedro Nuno Santos tenha alguma vez sido um radical, o ex-militante socialista assinala uma transformação na forma de estar.
“Não digo moderação ideológica, porque eu acredito que ele já fosse moderado. Mas há uma mudança de comunicação do seu perfil. Pedro Nuno Santos foi visto como um rosto da ala esquerda do PS e neste momento é alguém que procura fazer a ponte entre todas as alas”, resume Paulo Pedroso.
No entanto, isso não é visto como um ziguezague, mas antes como uma necessidade de quem chega à liderança de um partido grande e tem a missão de o manter unido.
O antigo dirigente socialista desfiliou-se do partido no final de 2019 e tornou pública a saída no início de 2020, por divergências com a forma como estava a ser gerido sobre as quais não se quis alongar. Questionado sobre se essa distância pode encurtar-se com Pedro Nuno Santos na liderança, Paulo Pedroso rejeita.
“Não tenho no meu horizonte o regresso à vida política partidária. Estou muito empenhado com o projeto Causa Pública, que vejo como incompatível com a militância partidária, com as funções que tenho”, garante o antigo ministro do Trabalho.
E o que vai fazer se eventualmente convidado para um futuro Governo do PS? “Quem faz os convites é que deve falar sobre eles. Mas não antecipo nenhuma mudança na minha vida cívica nos próximos meses”, seca Paulo Pedroso.