17 fev, 2024 - 22:43 • João Pedro Quesado
Pedro Nuno Santos quer criar um efeito de “arrastamento” na economia, mas Paulo Raimundo quer resolver a questão dos salários “agora”. O líder do PS voltou a debater com um antigo parceiro da “geringonça”, agora a CDU, e os dois discordaram no tema da economia, da saúde e ainda nas alianças militares internacionais.
O tema dos salários entrou sorrateiramente no debate, quando Pedro Nuno Santos reconheceu o apoio do PCP a partir dos acordos de incidência parlamentar, em 2015, mas lamentou que não tenha chegado à agenda para o trabalho digno, aprovada em 2023.
“Foi a primeira reforma a sério que não teve nenhum recuo”, sublinhou o socialista, que lamentou não poder contar com o voto a favor do PCP “não porque o PCP estivesse contra os avanços que estivessem na agenda para o trabalho digno, mas porque não estavam lá algumas coisas que o PCP achava que deviam estar”.
O secretário-geral do Partido Socialista apontou o dedo ao custo da proposta da CDU em aumentar os salários em 15%, com um aumento mínimo de 150 euros. “Se for só na administração pública, eram três mil milhões de euros, não é pouca coisa”, declarou Pedro Nuno, antes de mudar o discurso para a sua proposta eleitoral.
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“É na diversificação da economia que nós vamos conseguir criar condições para que a economia portuguesa e as empresas possam pagar melhores salários”, garantiu, atirando contra o “corte transversal e cego do IRC” proposto pela direita e salientando a “estratégia” de “selecionar setores e tecnologias que têm maior capacidade de arrastamento, e concentrar os recursos públicos naquilo que pode ter consequências”.
Paulo Raimundo respondeu com uma questão, procurando saber “qual é a resposta da agenda digna para as questões fundamentais que têm a ver com os salários e com a precariedade”.
“Quando nós não temos vontade para as medidas, a primeira questão que colocamos é quanto é que custa”, criticou o secretário-geral do PCP, e a apontando que tal não aconteceu com os “20 mil milhões para pôr no buraco da banca” e “três mil milhões para as empresas de energia”.
Perante acusações que a posição da CDU “não é equilibrada”, Raimundo afirmou que o PS “vai ter que acompanhar a luta dos trabalhadores com a força que nós tivermos do ponto de vista eleitoral”.
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Pedro Nuno Santos não largou o tema, sustentando que “é muito importante dar resposta aos problemas do nosso país”, mas que é preciso fazê-lo “com a capacidade que o país tem”, continuando “a reduzir a dívida pública” - mas não com “intensidade desnecessária”.
Mais tarde no debate, Paulo Raimundo recentrou a questão fundamental em “como é que as pessoas conseguem viver e sobreviver com os salários que têm”. Resolver isto, disse, “não é para amanhã, é para hoje”, porque “temos três milhões de trabalhadores em Portugal que ganham até mil euros de salário bruto em Portugal, e mais de 800 mil ganham o salário mínimo nacional”.
O comunista não deixou de reforçar que o determinante para o aumento de salários e pensões a partir de 2015 “foi a força do PCP”, e que o problema é “para resolver agora, não é num dia que há de vir”.
O problema dos salários estende-se ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), reconhecem os dois líderes. Mas “não passa só” por isso, segundo Pedro Nuno Santos.
“Não há balas de prata”, disparou o socialista. “Nós queremos intervir na organização e na gestão do SNS para apostarmos nos cuidados de saúde primários”, assim como “dotar os centros de saúde de meios complementares de diagnóstico e terapêutica” para tirar esses exames aos hospitais, assumiu.
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Pedro Nuno afirmou ainda a vontade de dar “mais autonomia” às administrações hospitalares. “Nós infantilizamos as administrações dos institutos, dos organismos das empresas públicas. Porque há um receio de dando autonomia se perder o controlo e quando se dá autonomia, responsabiliza-se", concluiu o líder do PS, para quem “ter administrações hospitalares com maior autonomia de gestão vai ser [ter] administrações hospitalares a entregar melhores resultados”.
Para Paulo Raimundo, “é tudo uma questão de opções”. Por isso, “a questão fundamental é a falta de profissionais no Serviço Nacional de Saúde, podemos dar a volta que quisermos”.
O secretário-geral do PCP descreveu uma visita a um centro de saúde em Lisboa, com “equipamento extraordinário e novo, bancos novos, tudo novo”, mas que “não tinha médicos, não tinha enfermeiros”.
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“Demos a volta que dermos, esta é a questão que é central para resolver e para isso nós temos de reter os que temos, fixar os que temos e pescar onde eles estão para reforçar o SNS”, porque “isto não vai lá com estas medidas que estão em andamento”, avaliou Raimundo.
O estado da Aliança Atlântica e da segurança europeia também apareceu neste debate, à boleia das polémicas declarações de Donald Trump esta semana. Para Pedro Nuno Santos, não há questões: a NATO “é muito importante para a defesa dos seus membros e nós continuamos a acreditar e a querer cumprir os nossos compromissos”.
No entanto, isso não exclui que, “no quadro da União Europeia”, sejam concertadas “posições também em matéria de política externa e de defesa”.
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Sem surpresas, a resposta de Paulo Raimundo não foi semelhante. O líder da CDU defendeu que “o caminho da paz que se procura e que é necessário não é compatível com a corrida ao armamento e tudo o que isso implica”.
Questionado pela moderadora, Clara de Sousa, e por Pedro Nuno Santos, sobre como se trava uma guerra, Raimundo insistiu que é necessário ter “a capacidade e as condições e a força necessária” para “obrigar os intervenientes a sentarem-se à mesa”, por oposição a um “caminho de atiçar os conflitos”.
Pedro Nuno Santos regressa aos debates na segunda-feira, para o último frente a frente de todos, contra Luís Montenegro - transmitido às 20h30 em simultâneo na RTP, SIC e TVI. Paulo Raimundo terminou este sábado a participação nos debates a dois, voltando apenas para o debate com todos os partidos, no dia 23 de fevereiro, e para o debate nas rádios, a 26 de fevereiro.
[notícia atualizada às 1h29]