18 fev, 2024 - 13:01 • Lusa
Portugal tem muitos eleitores indecisos e o investigador Marco Lisi traça-lhes um retrato: são jovens, pouco politizados, moderados e decidem-se em cima da hora de por o voto na urna.
Em declarações à agência Lusa, o professor de Ciência Política no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa define o indeciso como um eleitor que, “normalmente, não se interessa muito pela política” e que “só procura informações políticas” durante a campanha eleitoral.
A Sondagem das Sondagens, da Renascença, que agrega os estudos de opinião e interpreta tendências de todas as sondagens publicadas nos últimos anos, projeto coordenado por Luís Aguiar-Conraria, indicava mais de 15% de indecisos para eleições de março.
Daí a importância que, sublinhou, as campanhas eleitorais e as sondagens, por exemplo, têm para estes eleitores com “menos bases, menos predisposições políticas, do ponto de vista ideológico e partidário”.
Depois, acrescentou Lisi, “no momento da campanha, acham que devem adquirir informações e fazem-no de várias formas, através das televisões, redes sociais, amigos”.
Um estudo pós-eleitoral do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, feito através de uma sondagem depois das legislativas de 2022 para o Expresso, revela quenos últimos 20 anos foram 14% os inquiridos que decidiram o seu voto só no dia das eleições.
Marco Lisi sublinha que cerca de 25% dos inquiridos decidiram em quem votar no mês anterior às eleições, o que inclui a campanha eleitoral.
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O investigador, com vários livros publicados em Portugal, como “Eleições - Campanhas eleitorais e decisão de voto em Portugal” (Ed. Sílabo), de 2019, apontou mais uma característica deste eleitorado, a partir dos estudos feitos nesta matéria, a sua juventude.
“Sabemos que, normalmente, tendem a ser mais jovens. Isso também é outro fator que faz com que se ativem mais durante a campanha”, exemplificou, dizendo que têm “uma certa ambivalência do ponto de vista ideológico”.
“São, claramente, eleitores que não têm posições ideológicas radicais, são eleitores do centro, um eleitorado moderado, e não têm uma grande preferência entre os dois líderes principais dos partidos”, afirmou ainda, disse.
Por fim, e segundo os mesmos estudos, os indecisos “eram mais mulheres do que homens”.
No livro “Eleições - Campanhas eleitorais e decisão de voto em Portugal”, que tem por base os resultados dos inquéritos pós-eleitorais do ICS, Lisi concluiu que cerca de 70% dos eleitores é considerado resoluto.
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Num estudo pós-eleitoral de 2022, da GfK para o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), Expresso e SIC, 14% dos inquiridos admitiram que só decidiu o seu voto no dia das legislativas (ganhas pelo PS com maioria absoluta). Em anos anteriores, esta percentagem tinha sido 8% em 2005, 3% em 2011 e 5% em 2015.
Cerca de 7% dos inquiridos decidiu-se um mês antes do dia das eleições, 67% antes disso, e 9% até duas semanas antes de ir às urnas, ainda segundo o estudo do ICS.
Para as próximas eleições, Marco Lisi considera que a avaliação ao Governo do PS vai pesar na hora de se votar em 10 de março, realçando que as preocupações económicas “continuam mais ligadas à questão da inflação e do poder de compra, mas também há muito ênfase na questão do Estado Social e das políticas sociais na saúde, educação e habitação”.
Para a avaliação do Governo de António Costa, cuja demissão em outubro de 2023 precipitou as legislativas de março, a questão económica “tem sinais contraditórios”.
“Continua a ser uma preocupação para muitos indivíduos, mas não é claro quem vai favorecer”, afirmou.
As últimas estatísticas económicas “têm dados positivos” - na redução da dívida ou no PIB, por exemplo, mas Marco Lisi não arrisca dizer se isso “vai favorecer ou não o PS”. Sabe-se que este "é um fator importante" para os chamados "eleitores voláteis", aqueles que efetivamente mudam de voto, mas é difícil antecipar comportamentos.
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O Chega é um caso de estudo na política e nas redes sociais, com uma narrativa simples e populista, uma estrutura semiprofissional, apoiantes que são “militantes digitais” e que partilham “uma cultura de liderança”.
A caracterização é feita pelos investigadores Gustavo Cardoso e José Moreno, que coordenam um projeto do MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE), em parceria com a agência Lusa, para aferir a desinformação e os conteúdos a circular nas redes e sociais e no meio ‘on-line’ no período pré-eleitoral.
À Lusa, os dois investigadores consideram que o Chega “é um caso de estudo”, comparável, com as devidas distâncias ideológicas, ao Podemos, de Espanha, dado que ambos os partidos tiveram um progresso gradual, com a eleição de um deputado, e usaram depois a ideia de que “isto é só o princípio”. Ou seja, a ideia de que “somos pequeninos, mas vamos chegar a ser um dos grandes”, criando “uma narrativa” usada politicamente e nas redes.
É preciso fazer acreditar que é possível ‘chegar lá’”, ser “tão grande como o outro que está no poder”, essa é a narrativa das redes e “tudo aquilo que se passa nas redes tem que ser lido desta maneira, que é possível chegar lá, é possível destronar o PSD”, disse Gustavo Cardoso.
José Moreno sublinhou, por seu lado, que já se deteta “uma certa profissionalização” por parte dos responsáveis do Chega, porque “aprenderam a utilizar as redes”.
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E a estratégia, segundo os dois investigadores, é clara e explicada pelo diretor do Obercom, Gustavo Cardoso, fazendo um paralelismo entre a utilização das redes sociais com objetivos comerciais. Para o negócio e para a política, o objetivo é o mesmo, a procura do que “transforma um conteúdo em algo viral”.
Primeiro, explicou, é preciso “ir ao encontro de uma perceção já estabelecida na sociedade”, ou seja falar às pessoas que se “sentem ameaçadas por imigrantes”, em países europeus, ou a corrupção, em Portugal, o que tem “um potencial de viralidade muito grande”.
“E os políticos também sabem disso”, afirmou Gustavo Cardoso, que sublinha que os “’likes’ não são votos.
O partido de André Ventura é recordista de “likes” (gostos) e interações e, na primeira semana de fevereiro, por exemplo, teve 254 mil “likes” no Facebook, 145 mil seguidores no Twitter/X, quase 315 mil seguidores no Instagram e 207 mil no TikTok.
Sendo um “partido de protesto”, que está contra, “mais do que a favor de algumas coisas”, e por isso é-lhe “mais fácil [mobilizar] porque as pessoas têm sempre alguma razão de queixa”.
A partir daí, “é muito fácil fazer vídeos” sobre temas que podem não ser muito políticos, mas que “capturam a atenção”, como o caso da caça às multas, algo que nem Luís Montenegro, do PSD, Pedro Nuno Santos, do PS, por exemplo, fariam porque são mais institucionais, argumentou.
José Moreno notou que André Ventura conseguiu a publicação mais viral, na primeira semana de fevereiro, com um vídeo no TikTok sobre a caça à multa pelas polícias, que “nunca seria objeto de discussão política”, mas foi visto 687 mil vezes, 30 mil ‘likes’ e mais de mil comentários.
O “discurso populista é tão volúvel” quanto incongruente, dado que, neste caso, o mesmo político que faz a defesa das forças de segurança “é o mesmo que, no Tiktok, levanta o véu” para a possibilidade de os polícias “andarem a fazer uma caça à multa”.
Há ainda outros traços neste caso de estudo do Chega – o grande envolvimento dos “militantes digitais”, mesmo fora de período eleitoral, e que, ao contrário de apoiantes de outros partidos, não têm problemas em partilhar conteúdos do partido.
As pessoas que apoiam o Chega “não têm esse problema porque se identificam com uma causa” e, “acima de tudo, partilham um culto de liderança”, segundo Gustavo Cardoso.
“É impossível compreender aquilo que se passa nas redes por parte de um partido se não percebermos a narrativa e a relação que existe entre os militantes e o partido”, descreveu.
Um estudo pós-eleitoral de março de 2022, depois das legislativas, do ISCTE/ICS, concluiu que a maioria dos inquiridos se informou sobre as eleições maioritariamente nas televisões e apenas 14% disseram tê-lo feito através das redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter).