26 fev, 2024 - 22:50 • Tomás Anjinho Chagas
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Continua a ser uma figura relevante no espaço público em Portugal e as reações dos partidos denunciam isso mesmo: Passos Coelho agita o panorama político sempre que dá a cara e esta segunda-feira voltou a agitá-lo ao aparecer ao lado de Luís Montenegro, em Faro, para a campanha da Aliança Democrática (AD).
Habituado a reagir rapidamente, André Ventura aproveitou a presença de "um amigo" - a quem mandou um abraço - na campanha para desestabilizar o PSD. Foi durante o discurso desta segunda-feira à noite, em Sever do Vouga, distrito de Aveiro.
O líder do Chega afirmou que Passos Coelho apareceu "para dar uma estalada a Montenegro".
Vincando que Passos Coelho falou de imigração, "ideologia de género" e de "governabilidade, André Ventura deixa a questão no ar: "Eu pergunto, Pedro Passos Coelho terá ido apoiar Montenegro, ou dar um estalo na cara e uma lição a Montenegro?".
Antes de entrar para um salão de eventos - onde foram servidos mais de 330 jantares a militantes, segundo um dos funcionários que ali trabalhava - André Ventura sugeriu, em declarações aos jornalistas, ao início da noite, que Passos Coelho apontou a Montenegro que o caminho da AD deve ser entender-se com o Chega.
"[Passos Coelho] indicou que o único caminho que a direita tem é este", referiu o presidente do Chega. Sem explicar o que é o "este", André Ventura deixa no ar que Passos Coelho defende um entendimento entre PSD e Chega.
Em novembro do ano passado, o antigo primeiro-ministro defendeu perante alunos do Secundário, em Oeiras, Lisboa, que o Chega não é um partido "anti-democrático". "Tem toda a legitimidade de existir", disse Passos Coelho na altura em declarações citadas pela revista Visão.
Além de fazer uma leitura própria das palavras de Passos Coelho, André Ventura também deixa uma porta aberta para que o antigo primeiro-ministro se junte ao partido.
"Com muitas discordâncias que eu tenho com Passos Coelho, tenho de dizer que ele hoje fez um bom serviço à democracia. Saiu de sua casa para dizer aos 'laranjinhas' que ser cópia do PS não dá, querer ser o 'PS 2' não funciona, e que o país precisa mesmo de uma rotura. Eu desconfio que até ao final da campanha, final do ano, ou pior das hipóteses até ao fim do ano, Passos Coelho ainda se muda para o Chega", afirmou Ventura.
O aliciar de André Ventura está em linha com aquilo que tem sido dito pelo líder do Chega em diversos debates, incluindo frente a Luís Montenegro, mas entra em colisão com o que tem vindo a defender constantemente e com ainda mais veemência na campanha: o PSD é igual ao PS.
"PS e PSD são exatamente a mesma coisa", vincou no final do discurso em Sever do Vouga, já noite dentro.
Ventura insiste em colar os dois maiores partidos para se intrometer entre eles: "O que é que Montenegro fará diferente de António Costa, pouca coisa. O que é que PSD fará diferente do PS nas forças de segurança? Nada", considera. Ainda assim, mantém a abertura para negociar com a AD no pós-eleições.
A caravana do Chega desloca-se, esta terça-feira, para Braga, onde vai fazer a segunda de três arruadas na campanha eleitoral, e vai continuar a apostar nos comícios.