26 fev, 2024 - 06:00 • Tomás Anjinho Chagas
No primeiro dia de campanha do Chega, André Ventura pressionou o pedal e mostrou que não vai poupar o PSD mesmo que esteja constantemente a mostrar-se aberto para um acordo com os social-democratas.
Durante o primeiro jantar-comício em Lousada, Porto, onde o Chega juntou mais de 300 pessoas numa quinta, o presidente do partido colocou as fichas em colar o PS ao PSD numa altura em que os dois maiores partidos procuram canibalizar votos aos mais pequenos, à esquerda e à direita.
Explorando a Operação Influencer- que derrubou o António Costa (PS) - e a operação judicial na Madeira - que derrubou Miguel Albuquerque (PSD) - André Ventura tenta estabelecer um padrão entre socialistas e social-democratas. E atira a Montenegro por ter posições diferentes.
"É a velha lógica da corrupção boa e da corrupção má. PS e PSD são exatamente a mesma coisa no combate à corrupção. É isto que temos de concluir", sublinhou André Ventura perante os militantes que marcaram presença no jantar-comício em Lousada.
Depois de defender que "os socialistas são bons a vitimizar-se", o líder do Chega afirma que "o PS deixou de ser governo porque é o partido mais corrupto de Portugal".
Do lado do PS, o líder do Chega recuperou o legado de José Sócrates e comparou-o a Pedro Nuno Santos. Do lado do PSD, disse que Montenegro quer fazer justiça "à venezuelana", em que os partidos de esquerda são poupados e os de direita penalizados. Mas não explicou como é que isso se aplica ao PSD.
A aposta em colocar PSD e PS no mesmo saco serve para contrariar o voto útil que está a ser apelado por Luís Montenegro. É a resposta à tática do PSD, que tenta encurralar André Ventura ao garantir que não faz acordos com o Chega.
Apesar de o partido se mostrar várias vezes aberto a estabelecer acordos com o PSD - e de agora já nem pedir para integrar o Governo - Ventura procura colar os social-democratas aos socialistas e separar as águas do próprio partido aproveitando as suspeitas de corrupção que pairam sobre altos dirigentes dos dois partidos. Eles são assim, nós não somos, procura transmitir o Chega.
"O que é que distingue Montenegro de Pedro Nuno Santos?" perguntou Ventura durante o jantar-comício. "Nada", responderam quase em coro vários militantes.
Além de se tentar distinguir, o Chega tenta também passar a ideia de que o sistema está saturado de ter sempre os mesmos partidos a governar. No ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de abril, André Ventura pede "uma oportunidade" para governar e diz que quer "derrubar o bipartidarismo".
"Temos agora a hipótese de quebrar este bipartidarismo", afirmou o líder do Chega.
Para a tática, traz o exemplo do que se passou nos Açores no início de fevereiro, em que nas regionais PSD venceu as eleições, mas sem maioria, e recusa juntar-se ao Chega. No arquipélago, PS e PSD chegaram a acordo para escolher os presidentes e vice-presidentes do parlamento regional.
"Os dois partidos que dizem não se entender, entendem-se sempre quando chega a um assunto: tachos", vociferou André Ventura perante os apoiantes.
Aproveitando o crescimento meteórico conseguido pelo partido desde 2019, altura em que conseguiu representação parlamentar, passando por 2022, quando engordou para 12 deputados, o Chega quer agora colocar-se na piscina dos grandes (PS e PSD) e garantir que já não está a lutar para o pódio, está a lutar pela vitória.
"Não podemos querer menos do que a vitória. É isso que os portugueses nos pedem e é para isso que temos de lutar", considera Ventura.
E aproveita a efeméride deste ano para pedir "uma oportunidade".
"Os outros tiveram 50 anos de oportunidades e nunca conseguiram cumprir Portugal, falharam sempre. Dêem-me uma oportunidade e eu garanto-vos que terão um país muito melhor".
Além da estratégia política, de críticas à vontade de fazer reformas na justiça e de atirar à "esquerda caviar", apontando os casos da avó de Mariana Mortágua e dos filhos de Rui Tavares, André Ventura não se absteve de falar num dos temas que tem sido mais caro ao Chega: a imigração.
Ao lembrar que estava no Norte do país, André Ventura lembrou a reconquista da Península Ibérica aos mouros, que começou no século XVIII, para comparar com o momento atual.
"Daqui partiu a reconquista, reconquistámos a nossa terra aos mouros. Hoje não temos medo de dizer que esta Europa e este país precisam de uma nova reconquista cristã no seu território", defendeu o líder do Chega.