05 mar, 2024 - 23:24 • Manuela Pires , João Pedro Quesado com Lusa
Depois de discursar na convenção da Aliança Democrática em janeiro, Paulo Portas entrou oficialmente na campanha para as legislativas de 10 de março. Num jantar-comício da AD nas Caldas da Rainha, perante cerca de 2.500 pessoas, o antigo líder do CDS avisou que ia deixar argumentos para os indecisos ponderarem o seu voto, mas também colocou alguma água na fervura, porque a eleição ainda não está decidida.
"Disse-vos na convenção da AD que estas eleições não estavam decididas. O que eu partilho hoje convosco é que elas ainda não estão decididas", assegurou o vice-primeiro-ministro de Passos Coelho. "Avançámos, sim, mas ainda não o suficiente para ter a certeza que Pedro Nuno Santos não será o próximo primeiro-ministro".
A vontade, disse, é que o secretário-geral seja, "no seu melhor cenário, o líder do maior partido da oposição".
Paulo Portas apontou também os problemas na educação, com a falta de professores, e na saúde, com a falta de médicos de família. Depois, dirigiu-se aos potenciais eleitores do centro que podem estar indecisos entre votar no PS ou no PSD, lembrando as palavras de Pedro Nuno Santos sobre a governabilidade.
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"Não viabilizo um governo da AD, zigue. Talvez viabilize um governo da AD, zague. Retiro o que disse sobre viabilizar, zigue. Afinal, não retiro nem mantenho o que tinha dito no dia anterior, zague", apontou, recordando a sequência de dias após o frente a frente com Luís Montenegro em que o líder do PS pareceu contradizer-se sobre a viabilização de um governo da Aliança Democrática.
"Como pode o centro votar em Pedro Nuno Santos quando ele muda de opinião dia sim, dia sim sobre a questão da governabilidade de Portugal", interrogou Paulo Portas, aplaudido pelos militantes depois de provocar risos.
O alvo seguinte foram os eleitores de direita, principalmente os que podem estar inclinados a votar no Chega - palavra que nunca disse, falando apenas no "tal partido extremista".
"Que sabemos deles? Que ameaçam fazer uma moção de rejeição contra a AD, ainda as pessoas não votaram. Ping. Depois, que suspendem a decisão de apresentar uma moção de rejeição. Pong. A seguir 2logo vejo, caso a caso". Ping. E agora não governam porque eu não deixo, Pong", enumerou.
Para terminar o raciocínio, mais uma pergunta retórica: "Como é que alguém que se diz de direita pode votar nesta inconstância permanente?"
O antigo líder do CDS-PP deixou uma conclusão, falando diretamente para os eleitores moderados.
"Com Luís Montenegro não haverá extremistas no Governo, com Pedro Nuno Santos haverá extremistas no Governo, é uma grande diferença", realçou.
Portas deixou ainda outra crítica implícita a André Ventura, sem o nomear, depois de o líder do Chega no seu discurso já ter evocado várias vezes Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa.
"Nenhum deles jamais distinguiria os portugueses pela cor da sua pele ou pela etnia (...) Não deixem que na política portuguesa se instale o vírus do ódio", pediu, recordando a mensagem do papa Francisco de "todos, todos, todos".
Ainda sobre o PS e o Chega, Portas considerou ter falhado a tentativa de "polarizar a campanha entre o socialismo de um lado e o extremismo do outro", a que na convenção da AD tinha chamado de tenaz.
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O ex-líder do CDS-PP disse que esta "tática perigosa" foi usada no parlamento nos últimos anos "como uma espécie de combinação tática" entre os socialistas e os extremos para tornar "o PSD o mais invisível possível".
"A combinação era esta: eu ofendo-te, tu ofendes-me, eu insulto-te, tu insultas-me e logo à noite nas notícias passamos nós os dois e, o centro-direita, que era a alternativa, não passava", disse, sugerindo que até "dá ideia que combinavam as ofensas e os insultos".
A estratégia do PS também falhou porque, sublinhou, os socialistas não conseguiram continuar no que disse ser a falsificação do passado.
"Refugiam-se num passado que já passou há 10 anos, e no qual, aliás, têm as maiores responsabilidades. Lembram-se que alguém faliu o país, que alguém chamou o sindicato dos credores, que alguém assinou o memorando e que alguém deixou um défice de dois dígitos... Isso já não cola", assegurou.
Paulo Portas contou com vários antigos dirigentes do CDS neste comício. António Pires de Lima, Nuno Magalhães, Telmo Correia e até Narana Coissoró foram às Caldas da Rainha. Coissoró, antigo deputado do CDS, tem 92 anos de idade.