08 mar, 2024 - 08:00 • Manuela Pires
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Depois de uma semana a ignorar adversários, a falar para o país e a apontar as soluções que acredita que vão resolver os problemas das pessoas, Luís Montenegro mudou de estratégia. Na segunda semana de campanha apontou, primeiro, para o seu principal adversário, Pedro Nuno Santos, que disse ter falta de credibilidade e de "estabilidade emocional" para governar. Para o presidente do PSD, o líder socialista está na campanha para dividir o país entre os bons e os maus.
Mas à medida que a campanha chega ao fim, e com o número de indecisos ainda muito elevado, o líder da AD traz o Chega para o discurso. No comício nas Caldas da Rainha, e depois de ter dito que “não participa em recreios”, Luís Montenegro volta a dizer "não é não", fala diretamente para os potenciais eleitores do Chega e tenta demovê-los dizendo que André Ventura não vai fazer nada do que promete.
A estratégia da Aliança Democrática (AD) foi sempre apelar ao "voto útil", ao "voto inteligente" e ao "voto eficaz". Foram as várias formas encontradas para dizer que apenas a coligação PSD/CDS/PPM vai trazer estabilidade, que um voto no Chega vai manter o PS no poder.
Luís Montenegro não pediu maioria, nem se ouviu a palavra absoluta. O líder da AD prefere sempre pedir mais um voto para poder ter condições de governabilidade e estabilidade.
Entrevista Renascença
“Estou inexplicavelmente muito tranquilo" e "confi(...)
O slogan desta campanha, que está no refrão do hino é “mudança”, mas nos últimos 15 dias passaram pela campanha todos os antigos líderes do PSD: Pedro Passos Coelho, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, Luis Filipe Menezes, Marques Mendes, Francisco Pinto Balsemão, Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva na pré-campanha.
Uma oportunidade para os adversários apontarem ao passado, aos tempos da troika, mas foram críticas que ficaram sempre sem resposta. A estratégia de Montenegro foi sempre não responder aos outros partidos, essa era a função do líder do CDS, Nuno Melo.
Luís Montenegro teve, isso sim, de fazer a gestão de danos da sua própria campanha. Primeiro para reagir a Passos Coelho que apontou a imigração como um dos fatores de insegurança no país, mas também a Paulo Núncio do CDS que veio defender um novo referendo sobre o aborto e, no final da semana passada, ao cabeça de lista em Santarém, Eduardo Oliveira e Sousa, que colocou em causa as alterações climáticas.
Na segunda semana, os oradores estavam mais alinhados com o líder. A campanha que não foi a hospitais, nem andou de comboio ou barco, privilegiou as arruadas, muito controladas, onde era difícil chegar junto do líder. As arruadas que no início percorreram cidades desertas e que ficam cheias com a comitiva e os jovens que acompanham o líder.
Para além dos antigos lideres, a campanha contou ainda com o apoio do independente Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto, com os antigos lideres do CDS Assunção Cristas e Paulo Portas, e o autarca de Lisboa, Carlos Moedas. Nuno Melo, o líder do CDS, esteve sempre presente, já o presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, nunca apareceu até agora.
A caravana percorreu mais de 5.500 quilómetros, e andou aos ziguezagues pelo país, com viagens repetidas a vários distritos, Bragança, Vila Real, Aveiro e Leiria.
Os distritos que mais deputados elegem, Lisboa Porto e Setúbal, contaram apenas com um dia de campanha. Em Setúbal, o dia em que Luís Montenegro foi atingido com a lata de tinta verde, acabou por passar despercebido com um almoço na Costa da Caparica.