08 mar, 2024 - 08:30
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Numa campanha em que a narrativa da extrema-direita marcou a agenda mediática, o Bloco de Esquerda (BE) não se distraiu. Pelo menos, tentou não perder o foco da sua própria campanha, ao responder às ofensivas da direita populista, sem alimentar demasiado possíveis polémicas.
Aconteceu com a denúncia, pela voz de André Ventura, do tweet de um militante do BE em que prometia anular os votos do Chega e da Aliança Democrática (AD). Aconteceu quando o líder do Chega trouxe de véspera, a um comício do partido, a manchete do jornal Nascer o Sol que lançava suspeitas sobre a promoção da mãe da coordenadora bloquista, Mariana Mortágua, no centro distrital de Beja da Segurança Social.
Ambos os casos obrigaram a esclarecimentos por parte da líder do Bloco de Esquerda, que soube conter a narrativa de uma novela que poderia ter dado muitos mais episódios.
Polémicas à parte, o BE tentou seguir o guião de uma campanha focada em combater o legado da maioria socialista sem, nunca, colocar o atual secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos no centro das atenções. O sucessor de António Costa na liderança socialista foi o poupado desta campanha bloquista que, à semelhança de 2019, não quis queimar pontes para um futuro acordo.
Estratégia que, na altura, acabou por não correr da melhor forma ao BE que, apesar de ter elegido 19 deputados, mais 14 do que nas últimas legislativas, não viu definido qualquer entendimento com António Costa.
A confiança do Bloco é a de que, dois anos depois do chumbo do Orçamento do Estado (OE) em 2022 que ditou novas legislativas, os portugueses já tenham feito as pazes com o partido. Uma decisão de votar contra o OE que foi “incompreendida” por muitos portugueses, admitiu a ex-coordenadora do partido Catarina Martins que, durante uma arruada na rua de Santa Catarina, no Porto, comparou o apoio “a crescer” que sente nas ruas ao que sentiu na corrida às eleições de 2019, que resultou no reforço do partido na Assembleia da República.
Sem nunca querer apontar uma meta concreta para as eleições de domingo, Mariana Mortágua enumerou Setúbal Braga, Coimbra, Faro, Aveiro, Santarém como os círculos eleitorais onde o Bloco acredita ser possível recuperar deputados.
Para isso, dirigiu-se, sobretudo, ao eleitorado feminino e aos “arrependidos” da maioria socialista. Já na reta final da campanha, quando as sondagens apontavam que perto de 20% dos eleitores não sabiam em quem iam votar, falou aos indecisos para lhes pedir o voto no partido defendendo ser o único capaz de colocar o travão ao PS.
O argumento serviu de base da narrativa do Bloco que, ao longo, dos quase 5 mil quilómetros em que percorreu o país, tentou deixar a descoberto as “crises” e os “bloqueios” causados pelo governo de António Costa, sobretudo, na saúde, na habitação, educação e nas questões da migração.
Numa campanha que, na prática, começou muito antes das duas semanas de estrada, faltaram as novidades. A intensidade do ciclo de debates e de iniciativas em período de pré campanha esvaziaram a campanha de anúncios de propostas que já eram conhecidas pelos portugueses. Ou, não tivesse sido o Bloco de Esquerda um dos primeiros partidos apresentar o seu programa eleitoral para as eleições de domingo.