11 mar, 2024 - 05:35 • Diogo Camilo
VEJA TAMBÉM:
A Aliança Democrática (AD) alertou para uma confusão, o ADN - Alternativa Democrática Nacional recusou “enganos” e diz que os portugueses “não são ignorantes”. O partido de extrema-direita, que teve menos de 10 mil votos nas legislativas de 2022, foi a grande surpresa das eleições deste domingo, ao conseguir mais de 100 mil. Se os votos tivessem sido todos um engano dos eleitores, a AD conseguiria mais três deputados.
A manhã começou com queixas por parte da Aliança Democrática à Comissão Nacional de Eleições (CNE), alertando que estariam a circular cartazes nas redes sociais publicações onde deliberadamente se confunde o partido ADN com a aliança formada por PSD, CDS e PPM.
A Renascença fez um exercício meramente matemático, aplicando o Método d'Hondt, no qual estes cartazes chegaram a todos os que votaram no ADN, o que permitiria à AD de Luís Montenegro tirar dois deputados ao PS - um em Lisboa e outro em Viseu - e um ao Chega, em Coimbra.
Em Lisboa, o ADN conseguiu 19 mil votos (1,45%), ou seja, mais 16 mil do que o partido tinha conseguido nas eleições anteriores. O número era o suficiente para a AD conseguir o seu 15.º deputado e ultrapassar o PS como o partido mais votado no círculo eleitoral.
Em Viseu, um dos círculos onde o ADN foi o 4.º partido mais votado, o partido conseguiu mais de 6 mil votos (3,13%), quando há dois anos tinha sido o 13.º partido mais votado nas legislativas de 2022. Estes votos seriam o suficiente para a coligação de PSD e CDS conquistarem o 4.º deputado no círculo, às custas do 3.º do PS.
Curiosamente, os melhores resultados do ADN coincidiram também com os círculos eleitorais onde a AD teve melhor resultado no continente: Viseu, Bragança e Vila Real.
O terceiro deputado que o ADN terá desviado da AD foi em Coimbra. O partido teve 1% dos votos, cerca de 2.400, quando há dois anos o partido não tinha sequer listas no círculo eleitoral.
O último deputado no distrito foi eleito por uma diferença de pouco mais de 800 votos, o 2.º do Chega, que, com os votos no ADN, serviriam à AD eleger o 4.º deputado no distrito.
Em circunstâncias normais, a transferência de votos não aconteceu nestas eleições: seria impossível um partido ter zero votos e, mesmo que alguns se tenham enganado, não poderia acontecer com todos os 100 mil que votaram no partido.
Em reação aos resultados, o líder do Alternativa Democrática Nacional defendeu que o partido foi o grande vencedor da noite.
“Parabéns ao ADN, que foi o grande vencedor da noite. O ADN já venceu”, afirmou Bruno Fialho, onde foi aplaudido por cerca de 15 apoiantes, detalhou a SIC.
“Utilizar a confusão de qualquer sigla é desconsiderar os eleitores, que votam nestas duas forças políticas, que supostamente criaram confusão, mas é também chamar de ignorantes a todos aqueles que supostamente se enganaram”, disse, acrescentando que os portugueses não são ignorantes.
A votação garante também ao ADN uma subvenção estatal, que é concedida aos partidos com um número de votos superior a 50 mil. O valor da subvenção corresponde a 1/135 do IAS que está este ano nos 509,26 euros, o que significa que cada voto tem direito a 3,77 euros. A esta valor ainda se aplica um corte de 10%, o que significa 3,39 euros por cada voto.
Tal significa que o ADN irá receber, pelo menos, 339 mil euros em apoios do Estado.
Em Bragança, Vila Real e Viseu, onde o partido foi o quarto mais votado, o ADN surgiu acima da AD no boletim de voto, tal como aconteceu em Lisboa, Porto, Beja, Braga e Faro.
Em Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Viana do Castelo, Madeira e Açores, o partido estava mais abaixo da coligação.