11 mar, 2024 - 01:49 • Lusa
O porta-voz do Livre garantiu no domingo que o partido "sabe crescer bem e com responsabilidade" e definiu como principal alvo o Chega, afirmando que quer "rebentar o balão" da extrema-direita.
"É muito importante que toda a gente que se reviu no Livre nestas eleições e aqueles que, mesmo não votando no Livre, viram com agrado o crescimento do Livre, que saibam que o Livre sabe crescer e sabe crescer bem e em responsabilidade", garantiu Rui Tavares.
O dirigente, que foi este domingo reeleito como deputado para a Assembleia da República, defendeu que os resultados obtidos pelo Livre, que conseguiu eleger um grupo parlamentar de quatro deputados, mostram que "há espaço para uma esquerda verde europeia em Portugal".
Numa intervenção de cerca de meia hora, o Livre voltou a apontar ao seu principal alvo: a extrema-direita, nomeadamente o Chega.
Tavares notou que a bancada do Chega aumentou mas contrapôs que "a do Livre também" e afirmou que os deputados agora eleitos estarão "à altura de contribuir para a democracia portuguesa, e com o resto dos progressistas e democratas, fazer o suficiente para que este balão da extrema-direita em Portugal seja um balão possível fazer estourar".
O historiador avisou que estas eleições ainda deixam o país "na incerteza" quanto a cenários de governabilidade ou de configuração parlamentar, mas salientou que o partido fez uma campanha "com propostas e não com divisão, com amor e solidariedade" contra "o ódio", defendendo que esta estratégia provou ser "tão ou mais eficaz do que uma campanha baseada no medo".
"Daqui por diante vamos demonstrar que é fazendo isso que a maré alta do autoritarismo, do "farsismo", do revanchismo, terá sido atingida hoje e que há um partido que tem uma estratégia para a reverter. Há um partido que tem uma estratégia para renovar nos 50 anos do 25 de Abril com as melhores tradições de democracia e tolerância no nosso país e é esse o papel essencial que o Livre vai ser chamado a desempenhar", considerou.
O combate à extrema-direita, segundo o dirigente, passa por leis eleitorais "efetivamente representativas", rejeitar o discurso de ódio, "promover o jornalismo de investigação, a informação profissional e combater as informações falsas", alertando ainda para "os financiamentos de partidos que são opacos ou pelo menos duvidosos".
Interrogado sobre se já teve oportunidade de contactar com os restantes parceiros à esquerda, Tavares respondeu que não mas vincou que o partido está disponível para dialogar.
"Mais do que nunca é preciso espírito de convergência, solidariedade, e união contra o autoritarismo. Estamos juntos, da parte do Livre só podem contar com convergência e cooperação perante os desafios que nos apresentam", frisou.
Ainda assim, o historiador deixou alguns avisos aos seus eventuais parceiros, salientando que desde que a solução governativa da "Geringonça", com acordos escritos, terminou, "as coisas não correram bem".
"Os fatores serão muitos mas acho que um fator importante é a esquerda não ter trabalhado em conjunto, de forma mais estreita, e não ter procurado sempre reforçar os laços com a sua rede social de apoio", como os professores, os profissionais de saúde, as forças de segurança ou os oficiais de justiça, enumerou.
"Governos de esquerda quando não procuram a sua base social de apoio acabam desligados do povo e o resultado também está à vista e isso é um erro que urge reverter e o Livre está pronto para trabalhar com os outros partidos de esquerda para trazer esta esquerda mais popular", sublinhou.
Questionado sobre se continua a ter dúvidas do "não" do líder do PSD em relação ao Chega, Tavares insistiu que qualquer aliança entre estes dois partidos seria "uma traição" aos eleitores.
Afirmando que o Livre "não vai desistir" dos eleitores que votaram no Chega, o dirigente deixou uma "farpa" aos sociais-democratas.
"O PSD um dia vai ter de acordar e vai ter de aparecer lá alguém que se lembre do PSD histórico e que pense o que faria Sá Carneiro nesta situação", defendeu.
O dirigente fez questão de deixar uma palavra às minorias, tanto de origem étnico-racial ou sexual, abrangendo as mulheres e os ciganos portugueses.
"É vil o que foi feito com os ciganos portugueses e devo dizer daqui que o Livre está aqui e nunca vos largará nos vossos direitos. E dizemos o mesmo a qualquer minoria em Portugal, étnico-racial, linguística, de orientação sexual qualquer que ela seja, estamos convosco, não passarão, ninguém larga a mão de ninguém", clamou, altura em que se ouviu em uníssono, no Teatro Thalia, "não passarão".