16 mar, 2024 - 00:37 • Tomás Anjinho Chagas
No final da campanha eleitoral, Paulo Raimundo disse que ter mais uma semana teria sido positivo para o Partido Comunista. E assim foi, mesmo falando de eleições no pretérito perfeito, os comunistas realizaram um comício em Lisboa, completamente cheio.
Centenas de pessoas forraram todas as cadeiras do Fórum Lisboa e ainda assim houve dezenas de que tiveram de ficar de pé. "Assim se vê a força do PC", cantava-se nas bancadas com o punho ao alto. Numa sexta-feira à noite, o PCP voltou a mostrar força mesmo depois de uma nova derrota eleitoral.
Na verdade, a palavra "derrota" só foi utilizada para se referirem à "derrota das políticas de direita" e nunca associada ao último domingo, em que o partido perdeu dois deputados em relação a 2022, ficando a bancada reduzida a quatro parlamentares.
As bandeiras vermelhas pintaram todo o anfiteatro que se ergueu agora, como se erguem sempre os comunistas independentemente dos resultados eleitorais. O mote foi a efeméride que se assinala este ano, os 50 anos do 25 de Abril. "Força de Abril. A coragem de sempre", foi assim que o PCP cunhou o momento.
Diz-se entre comunistas que a vida "dá razão ao PCP", e essa linha manteve-se, ainda que com alguns desvios. Ainda se ouviu um suspiro da Juventude Comunista, que antes de Paulo Raimundo discursar assumiu que o resultado eleitoral de domingo "soube a pouco", mas a linha do partido seguiu.
O secretário-geral do PCP aproveitou o discurso perante centenas de militantes para alertar para o "projeto troikiano" levado a cabo pela direita e que foi interrompido em 2015.
"É nesta nova correlação de forças que se vai tentar retomar o projeto troikiano interrompido em 2015 pela força do povo, da luta, dos trabalhadores e pelo papel determinante do PCP", exclamou Paulo Raimundo.
Logo depois, o líder comunista pediu às pessoas que não se deixem enganar por uma "eventual entrada de pezinhos de lã" e aponta que os dirigentes da direita "lá estavam" em 2015, referindo-se ao período da Troika.
Na atribuição de culpas deste resultado eleitoral, Raimundo vira-se para o PS que, "com tudo na mão, uma maioria e condições financeiras, optou por não responder aos problemas centrais".
E logo depois reiterou que o PCP vai apresentar uma moção de rejeição a um eventual Governo liderado pela AD: "Não é preciso esperar pela entrada em funções para se saber quais os projetos e objetivos desse Governo ", reiterando uma posição que foi criticada durante esta semana de rescaldo eleitoral.
O PCP tem o hábito de nunca assumir derrotas eleitorais e esta noite foi a prova disso.
"Vêm resultados eleitorais que criam, de facto, uma situação ainda mais favorável ao grande capital", começou por admitir Paulo Raimundo, mas fez um outro diagnóstico: "A importância da mobilização da nossa campanha, essa campanha ganhou e fixou votos".
Paulo Raimundo tinha assumido pouco antes que nem tudo correu bem, ao considerar "justas e compreensíveis as inquietações e as insatisfações que podem pairar no seio de todos nós ".
Nas farpas enviadas, os comunistas privilegiaram o Chega como alvo: "Se há razões para estarmos insatisfeitos, também há quem esteja muito insatisfeito com o nosso resultado, desde logo aqueles que tudo fizeram para que não tivéssemos nenhuma representação", atirou o secretário-geral do PCP.
Sem nunca nomear o partido liderado por André Ventura, Paulo Raimundo refere-se aos adversários como os "donos da mentira, deturpação e falsidade".
Antes de Paulo Raimundo, Miguel Soares, membro do Comité Central do PCP, falou para culpar a comunicação social pelo resultado do partido nas legislativas de 10 de março.
"Dos porta-vozes do capital, ouvimos teses e teorias, análises e especulações que condicionaram, através dos vários instrumentos que têm à sua disposição, a opção de voto", sublinhou Miguel Soares.
Além disso, o membro da mais importante cúpula comunista fala numa "institucionalização do anticomunismo como padrão mediático" através do "silenciamento, falsificação de posicionamentos, ataque primário ao PCP e a promoção de outras forças".
No final, os militantes comunistas, como é hábito, desmontaram tudo num ápice e deixaram as bandeiras vermelhas com a foice e o martelo empilhadas e prontas para a próxima ação do PCP. O partido promete ser resistência e "sair à rua" no ano em que se assinala o meio século da "Revolução dos Cravos".