20 mar, 2024 - 07:35 • Tomás Anjinho Chagas
Os detalhes contam e, sabendo disso, António Costa vai indagá-los a Bruxelas. Empurrado para fora da política nacional pelos desenvolvimentos da Operação Influencer, o primeiro-ministro cessante vai encontrar-se com os pesos pesados da política europeia para "agradecer o trabalho construído nos últimos anos", mas pode aproveitar para saber as linhas com que se cose para prosseguir a carreira política em Bruxelas.
Esta quarta-feira voa para a Bélgica e vai encontrar-se com Margrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia. E nesse dia vai reunir-se com outros três comissários europeus: Paolo Gentilloni, Nicolas Schmit e Thierry Breton.
Depois de almoço António Costa vai ser recebido pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e ao fim da tarde pela presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.
Na quinta-feira o chefe do governo demissionário português encontra-se com Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO. E na sexta-feira, último dia do périplo, tem um encontro marcado com o Chanceler alemão, Olaf Sholz.
A sequência apertada de reuniões acontece na mesma semana em que António Costa esteve em Nova Iorque reunido com António Guterres, secretário-geral da ONU. O primeiro-ministro demissionário só parou em Lisboa esta terça-feira para homenagear a carreira de Hérman José.
A razão oficial para esta catadupa de reuniões é o Conselho Europeu, que se realiza entre os dias 21 e 22 de março. Numa nota enviada pelo gabinete do primeiro-ministro pode ler-se que António Costa vai reunir-se com os "principais protagonistas" com quem trabalhou "nos últimos anos" e que "será transmitida uma mensagem de agradecimento pelo trabalho construído". Mas essa não será a única razão que o leva a Bruxelas.
A ocasião será importante para António Costa saber como é que os principais líderes europeus olham para a possibilidade de ser o próximo presidente do Conselho Europeu. Há muitas nuances e a principal é a teia judicial que o envolve no âmbito da Operação Influencer.
Apesar disso - e em contagem decrescente para as eleições europeias de 9 de junho - é sabido que o primeiro-ministro cessante é visto com bons olhos por figuras como Ursula von Der Leyen e Olaf Sholz para se afirmar como protagonista da área socialista à frente desta instituição que junta os governos dos estados-membro da União Europeia.
O jornal POLITICO, que se debruça sobre temas europeus, coloca mesmo António Costa como um dos principais favoritos a suceder a Charles Michel no Conselho Europeu. As suspeitas que orbitam em seu torno são o principal obstáculo, as boas relações que mantém com todos (até com Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro que tem sido uma pedra no sapato do funcionamento da UE) são o principal trunfo que tem.
No rol de potenciais nomes está um peso pesado que pode beneficiar do timing que prejudica António Costa: Mario Draghi, ex-primeiro ministro italiano e antigo presidente do Banco Central Europeu, que tem sido apontado com um dos principais canditatos ao Conselho Europeu. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen também é colocada na rota da liderança desta instituição.