20 abr, 2024 - 20:43 • Lusa
A coordenadora do Bloco de Esquerda considera que o "não é não" de Luís Montenegro face ao Chega caiu este sábado com Miguel Albuquerque na Madeira, num discurso em que atacou a "teoria dos três campos" do Livre.
Estas posições foram defendidas por Mariana Mortágua no final de uma conferência contra a extrema-direita, intitulada "No passaran!", no ISCTE, em Lisboa, na qual também discursaram o presidente da Esquerda Europeia, Walter Baier, Miguel Duarte, ativista de resgates civis no mediterrâneo central, e a cabeça de lista do Bloco de Esquerda nas eleições europeias, Catarina Martins.
Segundo o jornal "Expresso", o líder do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, falando em cenários pós-eleitorais, "abriu a porta a um acordo com o Chega" para o executivo da Região Autónoma, não seguindo a linha do presidente do partido, Luís Montenegro.
Para Mariana Mortágua, "o não é não [do primeiro-ministro, Luís Montenegro] só dura enquanto dura - e isso acabou de ser provado por Miguel Albuquerque, dizendo que, afinal, faz acordos com o Chega".
"As linhas vermelhas de ontem agora são uma invenção da esquerda", comentou a seguir, recorrendo à ironia.
O social-democrata madeirense Manuel António Corre(...)
Depois desta observação, a coordenadora do Bloco de Esquerda rejeitou o caminho ideológico seguido por uma corrente que abriu uma dissidência no partido alemão "Die Linke", que "incorporou o discurso nacionalista xenófobo", considerando essa via "inaceitável". Mas Mariana Mortágua também criticou a teoria "dos três campos" preconizada pelo porta-voz do Livre, Rui Tavares.
"Haverá também quem clame por moderação, por uma diluição ideológica e programática que reduza tudo a uma identidade antifascista que na verdade se presta a todas as ambiguidades. Em Portugal, essa estratégia tomou o nome de teoria dos três campos. Ela está errada, porque acaba com a esquerda a caucionar governos e programas de direita", afirmou, recebendo uma prolongada salva de palmas.
No seu discurso, a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu depois uma medida que também tem sido proposta pelo Livre: A semana dos quatro dias de trabalho.
"Com todos os avanços feitos na economia, podíamos estar a caminhar seriamente para os quatro dias de trabalho por semana e para nos libertarmos da coerção, do tempo colonizado pelas obrigações, do esgotamento. Ou seja, para nos aproximarmos um pouco mais da liberdade", declarou.
Antes, Catarina Martins, manifestou-se em frontal desacordo com a tese de que "os velhos fascismos" acabarão por retroceder e voltar ao seu lugar ultraminoritário, advertindo que esse fenómeno tem de ser travado. "Não nos peçam para esperar para ver", disse, recebendo palmas.
Intervenção na abertura do 19.º congresso regional(...)
Num discurso em que acusou o sistema em Portugal e na União Europeia de preservar a especulação imobiliária, ex-coordenadora do bloquista referiu-se também ao atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, a propósito de ter falado em contribuintes com rendimentos de 550 euros mensais que supostamente pagariam IRS.
"Gostamos pouco que brinquem com a ida das pessoas e que joguem com as palavras. Caro Luís Montenegro, quem ganha 550 euros já não paga IRS mas também não consegue pagar a renda de uma casa. Quem ganha mil euros, e terá um desconto de um euro no imposto, também não consegue pagar a prestação da casa que duplicou", apontou.
De acordo com Catarina Martins, uma em cada três famílias já não consegue pagar o crédito à habitação e as mulheres vítimas de violência doméstica "não encontram abrigo agora".
"Há estudantes que abandonam os estudos por falta de um quarto e há quem trabalhe o dia todo e acabe o dia a dormir na rua. Seja por indesculpável ignorância ou por cinismo, os jogos dos últimos dias são do mais degradante que temos visto", declarou, recebendo uma prolongada salva de palmas.
O presidente da Esquerda Europeia, Walter Baier, pediu forte combate à extrema-direita, advertindo que em sete Estados-membros partidos dessa família política estão à frente nas sondagens.
Numa das primeiras intervenções da sessão, o ativista Miguel Duarte, que esteve detido pelas autoridades italianas depois de participar em missões de resgate no Mar Mediterrâneo, denunciou uma crescente tendência política "para a criminalização da ajuda humanitária.
Procurou desmontar a tese de que a direita liberal seja contra a imigração, contrapondo que é antes contra a imigração com direitos.
"A direita liberal quer trabalhadores sem direitos, quer uma classe de subproletariado", acrescentou.