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Entrevista José Manuel Rodrigues

Líder do CDS Madeira. Processo judicial vai condicionar Miguel Albuquerque e futuros entendimentos com o PSD

20 abr, 2024 - 18:41 • Manuela Pires

O líder do CDS Madeira eleito há uma semana diz, em entrevista à Renascença, que o partido teve de abdicar de muitas propostas na região em nome da estabilidade governativa. José Manuel Rodrigues considera ainda que o processo judicial vai condicionar o PSD e futuras coligações, e que Miguel Albuquerque tem um problema com o processo judicial porque “ninguém gosta de ser suspeito”.

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O CDS vai sozinho às eleições de 26 de maio, ao contrário do que aconteceu em setembro do ano passado. É para si mais confortável não estar ao lado de Miguel Albuquerque que está envolvido numa suspeita de corrupção?

Quem rompeu a coligação PSD/CDS foi o líder do Partido Social Democrata, na sequência do processo judicial e dos desentendimentos que ele próprio manteve com o PAN, que lhe retirou a confiança parlamentar. Desse ponto de vista, nós entendíamos que era possível a formação de um novo governo regional com um novo Presidente, porque ele tinha acabado de se demitir. Essa não foi a solução encontrada pelo senhor Representante da República e pelo Presidente da República.

O CDS vai a estas eleições com listas próprias e julgo que tem grandes possibilidades de obter um bom resultado.

Mas não respondeu à minha pergunta…

Eu acho que realmente há um problema com o dr. Miguel Albuquerque, ninguém gosta de ser suspeito ou de ser arguido num processo judicial e isso, obviamente, condiciona a candidatura dele e condicionaria, obviamente, uma coligação.

O CDS tem três deputados eleitos nesta altura. O objetivo é aumentar a representação parlamentar?

Eu nas eleições nunca costumo pôr fasquias, porque acho que isso compete ao povo, no dia das eleições, decidir a força que cada partido deve ter e, portanto, aquilo que o povo conceder ao CDS. Eu saberei interpretar esses resultados e as devidas ilações para futuros entendimentos. Aqui no Continente como nos Açores, as maiorias absolutas de um só partido passaram à história.

E se o PSD não conseguir essa maioria pode contar com o CDS para um novo entendimento, no Governo ou no Parlamento?

O CDS está disponível para falar com todas as forças democráticas que não sejam extremistas nem de direita, nem de esquerda. Se isso passará por uma coligação ou por um entendimento parlamentar, é uma questão a ver.

Disse por estes dias que o CDS é um porto de abrigo para os desiludidos. O que pergunto é desiludidos com quem, com o PSD que está há 50 anos no poder na Madeira?

Eu acho que há muita gente descontente com o PSD pelo facto de haver este processo judicial. Há muita gente desiludida com o Partido Socialista, que permanece com as suas divisões internas e nunca se afirma como uma verdadeira alternativa na região. E há muita gente também desiludida e descontente com o Chega em quem acreditou, porque realmente os resultados da sua prestação parlamentar na Assembleia Legislativa não são os melhores.

Mas, nas eleições legislativas de 10 de março, a coligação PSD CDS aumentou a votação na região. Isso pode acontecer nas regionais, ou o novo líder do PS Paulo Cafofo pode ter um bom resultado?

Eu tenho muitas dificuldades em ver o PS a subir muito, porque, como digo, o PS não se afirma como alternativa na Madeira, as pessoas não esperam que o PS ganhe as eleições e isso obviamente é um obstáculo à afirmação do Partido Socialista. Acho que as pessoas agora encontram no CDS o tal porto seguro, onde podem ter o seu voto de confiança. O CDS é o único partido da Madeira que já foi oposição e Governo e, portanto, isso é uma mais-valia para as pessoas.

Mas estes 4 anos no Governo não podem ser prejudiciais para o CDS?

Estes 4 anos do CDS, do Governo de alguma forma, condicionaram a autonomia política e estratégica do CDS. Muitas vezes temos que sacrificar os interesses partidários em nome dos interesses da estabilidade política e de governabilidade e do supremo interesse regional.

E pode dar exemplos do que ficou de lado?

Algumas propostas no domínio fiscal, por exemplo, designadamente a descida do IVA que o CDS tinha no seu programa que abrigou porque o PSD a isso se opôs, e a questão da justiça social. Nós tivemos um grande crescimento económico na Madeira, mas isso não correspondeu a uma maior justiça social e nós tínhamos medidas na área social muito importantes que agora naturalmente as recuperamos. Mas de qualquer forma eu julgo que o CDS deu as devidas ilações porque há um antes e depois do processo judicial.

Já depois desta crise política, o CDS mudou de liderança. Eu renovei e trouxe uma nova geração de jovens para o CDS. Fiz emergir também jovens quadros da Juventude Popular que eram desconhecidos.

E isso pode acontecer também aqui no continente?

Isso é normal que aconteça. Eu espero que nas causas principais isso não venha acontecer.

Tais como?

As questões relacionadas com a reforma do sistema político, a reforma na área da justiça, as questões também da diminuição da carga fiscal, que asfixiam a classe média que está a empobrecer.

Eu acho que de alguma forma já foram com sensualizadas entre o PSD e o CDS quando se fez o programa e o que eu espero é que este Governo esteja à altura dos desafios que lhe são exigidos. O facto de não ter maioria absoluta não é desculpa para que não possa aplicar o seu programa.

No IRS, a redução ficou aquém?

Bom, eu acho que poderíamos ter ido mais longe para a classe média, mas o país tem de ter contas certas. Isso, aliás, é uma expressão que foi usada várias vezes quando a Troika esteve em Portugal e agora foi recuperada até pelos Ministros das Finanças do Partido Socialista e, portanto, se temos de ter contas certas, temos de acudir a várias situações, designadamente o suplemento de risco para as polícias, para os militares, o descongelamento das carreiras dos professores e, portanto, desse ponto de vista, há coisas que têm de ser cumpridas pela coligação.

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