20 mai, 2024 - 09:50 • André Rodrigues , Daniela Espírito Santo
O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, defende que Portugal tem de pensar mais naquilo que pode dar ao projeto europeu, para não andar "sempre ao colo da Europa", "sempre à espera daquilo que a Europa pode dar a fundo perdido".
Portugal "já deu muito à União Europeia, mas pode dar mais", disse o ministro, que foi eurodeputado do PSD até assumir funções no novo Governo, durante a conferência onde a pergunta é "Para onde Caminha Portugal na Europa?", que decorreu esta segunda-feira em Vila Nova de Gaia.
"Não podemos continuar a fazer a pergunta: o que é que há aí a fundo perdido? Temos de ter a ambição de não andar sempre ao colo da Europa. Temos de ter a ambição de andar lado a lado com os outros estados membros. Podemos fazer muito. Esta é uma União Europeia onde Portugal também tem muito a dar e também já tem dado, mas temos a obrigação de fazer mais e nós somos capazes", reitera.
Para fugir a tal posição, não podemos desperdiçar oportunidades. José Manuel Fernandes acusa mesmo o anterior Governo de ter desperdiçado a oportunidade do PRR. "No âmbito do plano de recuperação e resiliência - e não foi por falta de aviso - tínhamos vários milhões de euros e não os quisemos. É uma pena termos perdido esta oportunidade", lamenta.
Para o ministro da Agricultura e das Pescas, Portugal não aproveitou estes empréstimos a 30 anos "porque não sabíamos o que queríamos", pelo que é "essencial estarmos todos de acordo em objetivos simples para o futuro", diz.
Apesar de acusar o Governo anterior de desperdiçar esta oportunidade de financiamento, José Manuel Fernandes considera que o país depende demasiado de Bruxelas, a nível financeiro.
"Estamos excessivamente dependentes da UE. Somos o estado membro que mais depende da UE para investimento público", assevera, sem deixar, no entanto, de recordar que "a integração europeia significou a consolidação da nossa democracia". "Portugal, embora pudesse e devesse fazer mais, tem sido um caso de sucesso", remata.
O papel de Portugal numa Europa que enfrenta inúmeros desafios, um dos quais bastante imediato: a sua segurança no quadro de uma ameaça com a guerra na Ucrânia. A resposta passa, necessariamente, por um reforço na segurança europeia. E, tal como aconteceu na pandemia - com a compra conjunta de vacinas contra a covid-19 - , José Manuel Fernandes defende um mecanismo idêntico para a segurança e para a defesa comum.
"Atuar em conjunto significa poupança e significa podermos ter mais segurança. Os números estão diferentes neste momento mas, antes da guerra, se somássemos os orçamentos de Defesa dos 27 [países da UE] teríamos mais do triplo do orçamento militar da Rússia", reitera.
"Isto acontece porque cada um quer ter o seu avião, a sua G3, a sua metralhadora, o seu tanque", lamenta, salientando que, em conjunto, é possível fazer mais e melhor com menos recursos. "Se tivermos uma investigação em conjunto, interoperabilidade, conseguimos com menos fazer mais e ter mais sucesso", assegura.
Outros desafios também têm de ser enfrentados em conjunto, como as alterações climáticas, as migrações ou o alargamento. Neste último campo, o ministro da Agricultura acredita que o a UE tem de se preparar, no seu orçamento, para a entrada da Ucrânia.
José Manuel Fernandes defende um fundo de soberania europeu para responder a emergências, no quadro financeiro plurianual. Até porque, defende o ministro, a União Europeia tem se "construído na base da reatividade e não da proatividade". Para o antigo eurodeputado, vivemos numa UE "que se constrói com decisões à última da hora e na base do medo". E dá um exemplo: "Se olharmos para a nossa atitude perante a guerra na Ucrânia, foi com base no medo", diz.
Por isso, defende que "é importante não decidirmos à última da hora e termos prevenção em vez de reação".
"A União Europeia é liberdade, é democracia, estado de direito, defesa da vida e da dignidade humana. É em cima deste chão comum que construímos. Se não fosse a UE não tenho dúvidas que temos estados-membros que já se teriam tornado ditaduras", assegura.
"É verdadeiramente inaceitável que aqueles que aderiram, depois de estarem na UE, queiram retroceder", acrescenta.
José Manuel Fernandes, que até há bem pouco tempo era eurodeputado, define a União Europeia com uma palavra: paz. Foi com esse objetivo, afinal de contas, que a instituição foi criada. "Este objetivo foi de tal forma atingido que foi esquecido. A União Europeia é vítima do seu próprio sucesso", defende.
"A paz, que erradamente damos como adquirida, é uma das maiores conquistas e a razão do início da União Europeia", relembra.
[Notícia atualizada às 16h25 de 20 de maio de 2024]