05 jun, 2024 - 23:32 • Tomás Anjinho Chagas
Segurança e controlo da imigração são claramente duas das principais prioridades do Chega para as europeias, que se votam já no próximo domingo. Têm sido constantes nos discursos desta campanha, mas a palavra "imigração" não aparece uma única vez no documento.
"Por uma Europa de nações soberanas" é o título do manifesto eleitoral com que o partido de André Ventura se apresenta a votos. Fica claro o posicionamento de uma União Europeia constituída por Estados-membro com mais autonomia, por oposição a correntes mais federalistas, que delegam mais competências para Bruxelas.
"Recusar mais qualquer transferência da sua Soberania para os órgãos comunitários", reitera o partido no seu programa.
Logo nas primeiras linhas o Chega, que tem António Tânger Corrêa como cabeça de lista às europeias, afirma que é essencial "Portugal permanecer na UE" e revela que - ao contrário do que acontece com muitos partidos de direita radical - não é eurocético e considera que a construção europeia foi um passo importante, em 1986, para o país.
Apesar de não constar no manifesto do Chega, a imigração tem sido uma constante nas intervenções públicas de André Ventura, que se mantém como o grande protagonista da campanha, relegando António Tânger Corrêa, o candidato, para segundo plano.
A família política onde o Chega se vai inserir (em princípio) se eleger eurodeputados, o Identidade e Democracia (ID), tem seis palavras chave no seu programa para estas eleições: democracia, soberania, identidade, especificidade, liberdades e cultura.
Nesta família estão partidos como o Ressemblement National, partido francês liderado por Marine Le Pen; o Lega, italiano encabeçado por Matteo Salvini; ou o Alternativa para a Alemanha (AfD).
Mais agressivo ideologicamente, o programa do ID para as europeias fala claramente na necessidade de acabar com as “portas abertas” e com a “imigração massiva”. Estas linhas ficaram definidas num encontro em Antuérpia, na Bélgica, em 2022.
Esta família política é liderada por Gerolf Annemans, o belga que é também presidente do Vlaams Belang, partido nacionalista flamengo. No programa assinalam o perigo dos “custos sociais e de segurança” relacionados com a entrada de imigrantes.
Sobre a guerra na Ucrânia, o ID assume que houve uma agressão e invasão russa, mas coloca um “no entanto”, por sentir que esta crise pode ser “aproveitada pela União Europeia para expandir os seus poderes”.
No seguimento deste raciocínio, o ID vinca que é frontalmente contra a criação de um exército comum europeu e critica por Bruxelas pelos “seus próprios falhanços”, identificando a falta de capacidade para conter a inflação catapultada pelo conflito.
Apesar de esta ser a família política escolhida pelo Chega, há uma forte possibilidade de esta família se fundir com outras forças de direita radical para conseguir ser a segunda força política mais forte do parlamento europeu a partir de 9 de junho, segundo várias sondagens.
Várias vezes confrontado com esta possibilidade, André Ventura mantém essa abertura, nunca se compromete, e na semana passada deu uma resposta reveladora: "Prefiro não responder a isso neste momento".