07 jun, 2024 - 06:30 • Cristina Nascimento
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João Oliveira revelou toda a sua experiência política. O alentejano escolhido pela CDU para encabeçar a lista para as europeias foi durante quase uma década líder parlamentar da bancada do PCP e, andando pelo país quase de uma ponta à outra, tal arte foi ficando evidente.
De conversa fácil e habitualmente bem disposta, às vezes até parece um jornalista. Vai pelas ruas distribuindo folhetos, sem medo de serem recusados (o que raríssimas vezes aconteceu), e aproveita para ir perguntando “qual é o problema mais urgente que é preciso resolver no país”?
Perante as respostas, Oliveira argumenta que “o que se faz lá, paga-se cá” e explica que muitos dos problemas que são identificados acabam por ter dedo da União Europeia.
Argumenta que são as interferências de Bruxelas que não deixam fazer uma gestão em liberdade dos recursos públicos, tornando mais difícil, por exemplo, aumentar salários ou apostar em determinados setores.
A CDU não defende a saída da União Europeia, mas contesta a Política Agrícola Comum, a Política Comum de Pesca, o Pacto de Estabilidade e Crescimento, entre outros. No “Compromisso para as Eleições”, a CDU defende ainda que Portugal deve preparar-se para a saída do euro, uma ideia que, ao contrário das outras, nunca foi referida nos discursos e intervenções.
João Oliveira – e restantes candidatos da CDU – foram sempre pautando-se pela lógica de querer manter a discussão ao nível dos assuntos europeus. Ainda assim, não se escusou a comentar assuntos da atualidade, entrando nalgum despique partidário, mas sempre comedido. Exceto no que toca ao Chega. O tom de crítica para com o partido de André Ventura fez-se ouvir com mais firmeza, tendo até Oliveira considerado que o Chega representa “o pior que há na sociedade”.
Uma campanha intensa que foi sendo repartida com os compromissos para debates e entrevistas e iniciativas de rua, algumas em locais menos habituais – por exemplo, o desfile (muito concorrido) no Parque das Nações que terminou com um comício de três horas junto à Gare do Oriente.
A poucos dias do fim da campanha, Oliveira foi dizendo que já acusava algum cansaço, mas nem por isso o ritmo abrandou. O cabeça de lista foi tendo a companhia do secretário-geral comunista, mas Paulo Raimundo não fez sombra a Oliveira. Na primeira semana de campanha, houve alguns dias em que Raimundo nem sequer esteve com o seu cabeça de lista, na segunda semana iam tendo uma iniciativa em conjunto por dia, só na reta final é que as agendas de um e de outro foram iguais.
Nesta campanha para as europeias, a Feira do Livro de Lisboa foi palco para quase todas as caravanas passarem por lá. Houve promessas de ofertas de livros e sugestões de leitura. João Oliveira sugeriu a todos os adversários políticos a leitura da “Viagem a Portugal”, de José Saramago, e elegeu como um dos seus livros preferidos “As Aventuras de João Sem Medo”, de José Gomes Ferreira. João Oliveira quer viver a aventura de ser eurodeputado, resta saber se sem medo do resultado eleitoral.