07 jun, 2024 - 06:30 • Tomás Anjinho Chagas
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Um partido médio a querer afirmar-se como grande, que olha para cima e nunca para baixo. O Chega estabeleceu a vitória como a sua meta nas suas primeiras eleições europeias – apesar dos avanços e recuos do cabeça de lista, António Tânger Corrêa, quanto ao objetivo – e procura manter-se numa trajetória de crescimento político em Portugal.
Durante as duas semanas de campanha, André Ventura nunca largou a caravana do Chega e foi sempre o protagonista. António Tânger Corrêa, de facto o candidato, esteve na segunda linha e a campanha andou mesmo quando ele não estava. Foi sempre a experiência e popularidade do líder do partido a sobressair, e houve uma tentativa de proteger o candidato Tânger e evitar que se multiplicasse em declarações excêntricas.
O antigo embaixador esteve exposto a uma campanha marcada pelas arruadas e sentiu-se a sua inexperiência neste terreno, ele que na sua vida de diplomata estava habituado a outro tipo de ambiente e interações.
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O antigo embaixador criou polémicas durante o pouco tempo que falou. A mais marcante foi o “plano com amigos americanos” que tem para a economia portuguesa quando e se o Chega for governo. É um “projeto” de tal forma “secreto” que até André Ventura admitiu que não o conhece.
Logo no arranque desta campanha, Tânger Corrêa admitiu que as pessoas não o reconhecem tão facilmente como reconhecem o líder do partido e disse que estava a tentar ter mais “momentos André Ventura” – leia-se, momentos em que as pessoas o abordam e interagem com ele.
Já André Ventura não hesitou em tomar a dianteira e aproveitar o reconhecimento público que tem para levar o partido às costas. Pelo meio, esteve numa escola e provou que o trabalho que o Chega está a dar frutos, uma vez que as crianças de 12 anos olham para ele como uma popstar.
Nos 15 dias de campanha foram dadas várias respostas quando a pergunta era o objetivo destas eleições europeias, mas nenhuma fez esquecer a primeira. André Ventura apressou-se a apontar para a vitória como a grande meta para o partido, mas pelo meio a realidade fez com que o candidato fosse moderando as expectativas.
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Tânger foi sempre dizendo que concorda com Ventura, mas na reta final foi apontando para dados mais concretos: quatro eurodeputados seria um resultado de consolidação das legislativas, e cinco é “realista”. Daí para a frente é lucro, na cabeça do antigo embaixador.
Mais subjetiva mas muito reveladora foi a expressão utilizada por André Ventura num jantar comício no Algarve: “Temos de mostrar que o nosso crescimento não foi um epifenómeno”, pediu o líder do partido. No fundo, querem manter a trajetória ascendente para provar que o salto que deram nas últimas legislativas não é circunstancial.
Em relação aos temas escolhidos pela campanha do Chega, mudaram pouco. O partido fez aquilo que tem feito: falar um pouco sobre tudo mas escolher alguns temas que não pretendem largar.
Nestas semanas a imigração foi claramente uma tecla repetida. Do primeiro ao último dia de campanha, André Ventura referiu sempre o controlo da imigração como prioridade, e o tom do discurso foi-se tornando mais radical com o tempo.
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Começou por falar em evitar a imigração ilegal, mas com a iniciativa política do PSD para tentar secar o tema, o Chega virou-se para propostas mais agressivas, uma delas que se trave a entrada de mais imigrantes até que a AIMA resolva os quase meio milhão de processos que tem pendentes. Também defende que os estrangeiros só tenham direito a apoios sociais depois de cinco anos de descontos.
“Nem mais um” foi o cântico espontâneo que foi criado durante um jantar-comício em Torres Novas, distrito de Santarém. A expressão dirige-se a imigrantes e demonstra que o partido está a perder a vergonha de assumir um discurso claramente anti-imigração.
A comissão de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras foi o outro terreno escolhido por André Ventura para apertar o cerco ao PS e PSD. O tema tem uma virtude para o Chega: envolve protagonistas dos dois maiores partidos e permite lançar uma neblina de suspeição sobre as forças políticas tradicionais.
André Ventura não hesitou em arrastar o Presidente da República, abanar a candidata do PS e antiga ministra da Saúde, Marta Temido, e até António Costa foi chamado para ser ouvido no Parlamento.
O caso, que foi catapultado pelas buscas desta quinta-feira, salpica nos socialistas e social-democratas, deixando o flanco descoberto para que o Chega se afirme como terceira via, a alternativa anti-sistema, ainda que (quase todos) os seus protagonistas já tenham feito parte dele.