18 jun, 2024 - 17:29 • Ana Kotowicz , Filipa Ribeiro
Não conhece António Costa nem nunca teve qualquer contacto com o antigo primeiro-ministro. Foi assim que o presidente da TAP reagiu, esta terça-feira, no Parlamento, às notícias – que citam escutas telefónicas — que dão conta de que Costa disse a João Galamba (então ministro das Infraestruturas) que Christine Ourmières-Widener devia ser despedida e substituída pelo atual presidente.
"Não conheço o António Costa. Nunca falei com ele por qualquer meio", garantiu Luís Rodrigues, gestor que liderava a SATA na altura em que Christine Ourmières-Widener era CEO da TAP.
"Não tenho nada a ver com o resto", sublinhou na Comissão Parlamentar de Economia, onde está a ser ouvido para explicar os prejuízos do primeiro trimestre da companhia aérea portuguesa.
Numa escuta telefónica, divulgada esta terça-feira pela CNN Portugal, entre Costa e Galamba, o presidente do Conselho de Administração da TAP é mencionado como um "gajo muito bom". Costa terá dito ao antigo ministro que Christine Ourmières-Widener teria de sair da liderança da companhia aérea por razões políticas, para conter eventuais danos para o Governo. A solução, terá dito Costa, é "um gajo muito bom", Luís Rodrigues, da SATA, que "é um fator de tranquilidade e descompressão".
Luís Rodrigues diz que fica "lisonjeado pelo comentário", mas sublinha que nunca falou com António Costa. "Não conheço o doutor António Costa, nunca o vi, nunca falei com ele por qualquer meio pessoal ou telemático. Fico lisonjeado porque diz que disse bem, agora não tenho nada a ver com o resto", disse aos deputados.
Antes do início da audição, o Chega disse que vai propor que António Costa vá ao Parlamento dar explicações aos deputados sobre se terá dado indicação para o despedimento da antiga CEO da TAP. André Ventura, numa declaração aos jornalistas, afirmou que o requerimento já foi entregue na comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação.
O objetivo é que Costa explique "qual foi o seu papel neste despedimento, quais foram os reais motivos e interesses por detrás deste despedimento e se é verdade, conforme as conversas indiciam e as escutas reveladas demonstram, que houve motivações absolutamente políticas de cálculo e tática eleitoral na forma como foi despedida a antiga CEO da TAP". Caso o requerimento seja rejeitado, o Chega "recorrerá ao seu direito potestativo" para garantir que a audição de António Costa acontece.
O presidente do Conselho de Administração da TAP justifica o prejuízo de 71,9 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano com diversos pontos. O primeiro? O aumento dos custos com a reposição de salários: “Aritmeticamente, os números imputam aos custos com pessoal o aumento ligeiro do prejuízo que houve em relação ao primeiro trimestre do ano anterior, o que é natural, não era expectável que cortes nos salários se mantivessem”, disse.
Luís Rodrigues garantiu que “tudo o que aconteceu já estava mais do que o previsto”, acrescentando que, “à data de hoje, não há nenhuma informação de que não vá ser cumprido o orçamento estipulado para a TAP”.
Em segundo lugar, o responsável pela companhia aérea portuguesa indicou que no ano anterior, em 2023, a rentabilidade da TAP ficou no terço superior de rentabilidade da indústria, quando comparada com outras companhias aéreas. Além disso, no primeiro trimestre deste ano a TAP “consolidou” essa posição.
Luís Rodrigues sublinhou que o objetivo “não é ultrapassar ano, após ano, os resultados de anos anteriores, mas ter uma empresa sustentadamente rentável”. Sobre as previsões orçamentais, o administrador não quis avançar com valores concretos, por não querer “fazer futurologia”.
Ainda assim, avança que o ano pode terminar com lucros uma vez que há condições para se ultrapassar o plano feito para 2024. “Se o resultado vai ser 177 milhões de euros, 150 ou 200, ninguém sabe. Com base no plano que temos, e no resultado que sabemos de custos já controlados, como o combustível, temos condições para ultrapassar o plano e navegar tranquilamente nos próximos anos”, disse.
Durante a audição, o presidente do Conselho de Administração da TAP voltou a recordar que é a favor da privatização da companhia aérea e salientou o que considera ser “paz social” na empresa que resulta dos acordos com os trabalhadores. “Está-nos a permitir trabalhar na eficiência da operação para no futuro de 2026 para a frente renegociar novamente os acordos da empresa” disse.